23 de Novembro de 2024

Arábia Saudita: perfil da nação onde nasceu o Islã


Um dos países mais fechados do Oriente Médio, a Arábia Saudita passou de um reino desértico subdesenvolvido para se tornar uma das nações mais ricas da região graças a suas enormes reservas de petróleo. Seus governantes, porém, enfrentam a delicada tarefa de responder a pressões por reformas enquanto combatem a violência de extremistas. Na Arábia Saudita estão as duas cidades mais sagradas para a religião muçulmana: Meca e Medina.

O país, cujo nome vem da família Al Saud, que governa o país e chegou ao poder no século 18, inclui a região Hijaz - o local de nascimento do profeta muçulmano Maomé e berço do Islã. Esse fato, aliado a adoção pelos sauditas de uma interpretação radical do islã sunita, conhecido como "wahhabismo", levou o país a desenvolver uma identidade própria fortemente religiosa.

As duras punições, segundo a interpretação wahhabista da lei islâmica, incluem decapitações em público para uma série de crimes - o que continua a atrair críticas de organizações internacionais de defesa dos direitos humanos.

A Arábia Saudita foi estabelecida em 1932 pelo rei Abd-al-Aziz - também conhecido por Ibs Saud e chamado de Leão de Najd -, que tomou Hejaz da família Hashemita e uniu o país em torno de seu governo familiar. Desde sua morte, em 1953, ele foi sucedido por vários de seus filhos.

O monopólio do poder pela dinastia Al Saud significou que, durante o século 20, sucessivos reis foram capazes de se concentrar na modernização econômica e no desenvolvimento do papel do país como potência regional.

Sempre foi do interesse da família real preservar a estabilidade na região e reprimir elementos extremistas. Com esse objetivo, o país aceitou o posicionamento de tropas dos Estados Unidos em seu território depois da invasão do Kuwait pelo Iraque em 1990.

A recusa do regime em tolerar qualquer tipo de oposição, porém, pode ter encorajado o crescimento de grupos dissidentes, como a Al-Qaeda, do saudita Osama bin Laden, que se beneficiou do ressentimento popular contra o papel dos Estados Unidos no Oriente Médio. Membros da grande minoria xiita, que compõe a maior parte da população da Província do Leste, rica em petróleo, tornaram-se cada vez mais ativos em suas demandas por direitos civis.

Depois dos atentados em Nova York e em Washington em 11 de setembro de 2001 - realizados por um grupo composto, em sua maioria, por cidadãos sauditas -, as autoridades da Arábia Saudita ficaram ainda mais divididas entre seus instintos naturais de aumentar a segurança interna e a pressão para permitir um maior grau de democracia.

Em 2003, militantes suicidas com suspeita de ligações com a Al-Qaeda mataram 35 pessoas - incluindo estrangeiros - na capital, Riad. Os alvos de outros ataques ocorridos no país incluíram trabalhadores estrangeiros e, desde o surgimento do grupo extremista sunita Estado Islâmico, os xiitas da Província do Leste.

As demandas por reforma política aumentaram. As eleições municipais de 2005 foram um primeiro, embora limitado, exercício de democracia. Mas partidos políticos continuam proibidos - a oposição é organizada fora do país -, e ativistas que publicamente mencionam o tema das reformas correm o risco de ser presos.

Os clamores por mudanças sociais também aumentaram. Ativistas pelos direitos das mulheres passaram a se manifestar mais, concentrando-se em campanhas práticas, como a pelo direito das mulheres de dirigir veículos. Usuários de mídias sociais também passaram a testar os limites da liberdade de expressão.

A Arábia Saudita possui mais de 25% das reservas conhecidas de petróleo de todo o mundo. É capaz de produzir mais de 10 milhões de barris por dia, número que ainda deveria aumentar.

FATOS

LÍDERES

Rei: Salman bin Abdulaziz al-Saud

A dinastia dos Al Saud tem o monopólio do poder político na Arábia Saudita. O reino foi estabelecido em 1932 pelo rei Abd-al-Aziz, também conhecido pelo nome de Ibn Saud, que foi sucedido por vários filhos.

O rei Salman bin Abdulaziz al-Saud subiu ao trono em janeiro de 2015, depois da morte de seu meio-irmão, rei Abdullah. Ele era parte de um grupo de príncipes que governou o país por décadas e manteve as principais bases da política estratégia saudita - incluindo manter sua aliança com os Estados Unidos e buscar estabilidade no mercado de energia.

Num passo que foi descrito como uma grande mudança, em junho de 2017 o rei Salman tornou seu filho Mohammed bin Salman o primeiro da linha sucessória. O príncipe Mohammed controla todos as principais áreas do governo, da defesa à economia, e impôs sua autoridade por meio do afastamento de membros da elite do governo, supostamente envolvidos em corrupção.

Ele também se projetou como um reformista no reino ultraconservador, com uma série de movimentos ousados, incluindo a decisão de permitir que mulheres dirigissem carros.

MÍDIA

Investidores sauditas são grande participantes da indústria de TV pan-arábica, mas o país tem um dos ambientes de mídia mais controlados da região.

O governo reconhece abertamente que filtros operam amplamente no acesso à internet no país. Eles visam sites da Web com conteúdos considerados "pornográficos", relacionados ao islã, ligados a direitos humanos e de natureza política. A Arábia Saudita tem o maior uso de YouTube per capita do mundo e registrou cerca de 40% dos usuários ativos do Twitter na região da Península Arábica.

RELAÇÕES COM O BRASIL

A Arábia Saudita é o maior parceiro comercial do Brasil no Oriente Médio, sendo importante para o país especialmente como fornecedor de petróleo. Cerca de 33% do petróleo importado pelo Brasil vem de poços sauditas.

As relações diplomáticas entre os dois países foram estabelecidas em 1968, com aberturas de embaixadas mútuas na década de 1970. O contatos e entendimentos entre Brasília e Riade intensificaram-se com o passar dos anos, até que em 2009 Luiz Inácio Lula da Silva tornou-se o primeiro presidente brasileiro a visitar o país árabe. Em 2012, a Arábia Saudita impôs um embargo sanitário à importação de carne bovina do Brasil, devivo ao aparecimento do mal da vaca louca no rebanho nacional. O embargo foi encerrado três anos depois, formalizado durante visita da então ministra da Agricultura, Kátia Abreu, à Arábia Saudita.

No início do governo de Jair Bolsonaro, a intenção do Brasil de seguir os Estados Unidos e transferir sua embaixada em Israel de Tel Aviv para Jerusalém gerou tensões com nações árabes, inclusive o regime saudita, que chamou a possibilidade de "preocupante". Em outubro de 2019, o presidente Bolsonaro fez uma visita oficial à Arábia Saudita, durante a qual foi reafirmado o interesse de ambos os países em fortalecer suas relações.

LINHA DO TEMPO

Importantes datas na história da Arábia Saudita:

1902 - Abd-al-Aziz, conhecido como Ibn Saud, toma o controle de Riade.

1912 - A Ikhwan (Irmandade) é fundada baseada no estrito Islã sunita wahhabista e oferece apoio chave para Ibn Saud.

1932 - Após anos de conquistas territoriais, Ibn Saud unifica o país sob o nome de Reino da Arábia Saudita.

1938 - Petróleo é descoberto no país, e a produção começa, feita pela americana Aramco (Arabian American Oil Company).

1960 - A Arábia Saudita é um membro fundador da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo).

1973 - A Arábia Saudita lidera um boicote de petróleo contra os países ocidentais que apoiam Israel na Guerra de Outubro, contra o Egito e a Síria. Preços do petróleo quadruplicam.

2001 - 11 de setembro: 15 dos 19 sequestradores envolvidos nos atentados em Nova York e Washington são cidadãos sauditas.

2011 - Durante os levantes na região conhecidos como "Primavera Árabe", tropas sauditas participam da repressão aos protestos no Bahrain.

2015 - Março: a Arábia Saudita lança uma campanha de bombardeios aéreos contra os rebeldes Houthi no Iêmen, iniciando um longo e polêmico envolvimento militar no país.

2018 - O assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi no consulado saudita em Istambul provoca indignação internacional. Em 2021, relatório da inteligência americana disse que o príncipe Mohammed bin Salman teria autorizado o crime.

2022 - A Aramco, a empresa petrolífera estatal saudita, divulga lucro recorde de mais de US$ 48 bi em consequência da elevação dos preços do petróleo no mercado internacional por conta da guerra Rússia x Ucrânia.

- Este texto foi publicado originalmente em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-56273341

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Fonte: correiobraziliense

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