Filha do ex-vice-presidente Dick Cheney, ela exerce o cargo de segunda liderança do comitê criado pela Câmara dos Representantes para investigar a invasão ao Capitólio, em 6 de janeiro. Membro do Partido Republicano, assumiu uma postura de oposição a Donald Trump e chegou a defender o FBI (a polícia federal dos EUA) após a apreensão de documentos na mansão de Mar-a-Lago, resort privativo do ex-presidente, na Flórida. As críticas a Trump custaram caro a Liz Cheney, 56 anos, que recebeu várias ameaças de morte nos últimos meses. Na noite de terça-feira, a deputada sofreu uma derrota na primária republicana em Wyoming, seu estado natal, para Harriet Hageman, aliada do magnata. O revés a impossibilitará de disputar novo mandato no Congresso, nas eleições legislativas de novembro.
Ao reconhecer a derrota, Liz Cheney enviou um recado a Trump. "Desde 6 de janeiro eu afirmo que farei o que for preciso para garantir que Donald Trump nunca mais chegue perto do Salão Oval, e estou falando sério", declarou, na noite de terça-feira. Ontem, ela admitiu que "pensa" em concorrer à Casa Branca, em 2024, e anunciou a criação de um comitê de ação política. "É algo em que estou pensando. Tomarei uma decisão nos próximos meses", disse ao ser entrevistada no programa Today Show da emissora NBC. Nos últimos meses, Trump destilou sua fúria sobre Cheney, a quem classificou de "desleal" e de "fracassada que dá lições".
Ontem, o ex-presidente celebrou o fracasso nas urnas da colega de partido como "um resultado maravilhosos para os Estados Unidos". "Agora ela pode finalmente desaparecer nas profundezas do esquecimento político onde, tenho certeza, será muito mais feliz do que é agora", afirmou em sua rede social, Truth Social.
Adam Kinzinger, também deputado republicano, não poupou críticas ao próprio partido. "Isso envia uma mensagem muito forte de que não é mais um partido comprometido com a verdade. Este é um partido comprometido com a conspiração", disse. Em entrevista à mesma emissora, ele elogiou Cheney como uma "política muito determinada e obstinada". "Ela perseguirá Donald Trump até os portões do inferno, isso é certo", disparou.
Para Allan Lichtman, historiador político da American University (em Washington), a derrota de Cheney é "um símbolo do fim dos princípios conservadores no Partido Republicano". "Cheney é uma conservadora sólida em praticamente todos os temas. Ela foi derrotada porque se recusou a seguir o perigoso autoritarismo de Trump", explicou ao Correio. Ele lembra que, sob a gestão do magnata, quase todos os princípios que os republicanos conservadores alegavam defender sumiram: a moralidade pessoal, a responsabilidade pessoal e fiscal, o governo limitado e o respeito à tradição. "Eles foram substituídos por uma guerra cultural e por uma busca de poder a todo custo."
Lichtman não acha que Liz Cheney tenha muito futuro para concorrer a cargos no Partido Republicano. "Mas, ela poderia disputar a Presidência apenas para ganhar uma plataforma para seus pontos de vista. Imagine só um debate entre Trump e Cheney!", disse.
Thomas E. Patterson, professor de governo e imprensa da Faculdade de Governo Kennedy da Universidade de Harvard, afirmou à reportagem que a participação de Cheney no comitê da Câmara posicionou-a para liderar a oposição a Trump dentro do Partido Republicano. "Isso pode incluir uma campanha independente a presidente, o que poderia minar as chances de uma vitória de Trump em 2024. Ela não é uma candidata alternativa para muitos republicanos e não teria chance em obter a indicação do partido. Mas, enquanto candidata independente, Liz Cheney poderia diminuir as chances de eleição de Trump, ao desviar os votos dos republicanos que creem que o magnata não é adequado para ser presidente, mas também não querem votar em m um democrata."
Durante o discurso em que admitiu a derrota, Liz Cheney citou um encontro com um brasileiro, na semana passada, em Laramie, no sudeste do estado do Wyoming. "Os Estados Unidos têm significado tanto para tantas pessoas, porque nós somos a melhor esperança de liberdade na Terra. Em Laramie, um senhor veio até mim com lágrimas nos olhos. 'Eu não sou norte-americano', ele disse. 'Mas meus filhos são. Eu cresci no Brasil. Sei quão frágil é a liberdade, e não devemos perdê-la aqui'."
"O ponto de virada na posição de Liz Cheney dentro do Partido Republicano ocorreu quando ela votou, em 2021, pelo impeachment de Donald Trump. Aquilo levou à sua remoção de uma posição de liderança entre os deputados republicanos e a uma censura por parte do Partido Republicano em Wyoming. Sua participação no comitê que investiga a invasão ao Capitólio, em 6 de janeiro, meramente solidificou a oposição republicana a Cheney."
"Não há nada mais que os republicanos possam fazer para retaliar Liz Cheney. Ela ainda servirá como vice-presidente do comitê que investiga a invasão ao Capitólio por mais de quatro meses. E terá seguidores, presença midiática e recursos abundantes para repercutir sua mensagem. Liz Cheney está de olho em fazer história, o que não depende de ser um dos 435 deputados dos Estados Unidos. Sua missão é preservar a democracia americana e restaurar o Partido Republicano às suas raízes históricas."
Allan Lichtnman, historiador político da American University (em Washington)
Fonte: correiobraziliense
Utilizamos cookies próprios e de terceiros para o correto funcionamento e visualização do site pelo utilizador, bem como para a recolha de estatísticas sobre a sua utilização.