A magnitude da calamidade é maior do que o que se esperava. Foi assim que o primeiro-ministro do Paquistão se referiu às inundações no país depois de visitar as áreas afetadas. Shehbaz Sharif falou da província de Sindh, uma área que registrou chuvas oito vezes acima da média em agosto.
Um terço do Paquistão foi completamente submerso por inundações históricas, diz o governo.
Inundações destruíram estradas, casas e plantações — deixando um rastro de destruição mortal em todo o Paquistão.
"É tudo um grande oceano, não há terra seca para bombear a água", diz a ministra paquistanesa do Meio Ambiente, Sherry Rehman. Segundo ela, trata-se de uma "crise de proporções inimagináveis".
Pelo menos 1.136 pessoas morreram desde que a temporada de monções começou em junho, segundo autoridades.
A chuva de verão é a mais forte registrada em uma década. O governo atribui a chuva às mudanças climáticas.
"Literalmente, um terço do Paquistão está inundado, o que ultrapassou todos os limites, tudo que vimos no passado", disse Rehman. Nunca vimos nada assim."
Pelo menos 75 pessoas morreram nas últimas 24 horas, disseram autoridades na segunda-feira (28). O número de mortos deve subir ainda mais nas próximas horas.
Um terço dos mortos são crianças, disse à BBC o ministro das Relações Exteriores do Paquistão, Bilawal Bhutto-Zardari.
As autoridades estimam que mais de 33 milhões de paquistaneses — uma em cada sete pessoas — foram afetados pelas inundações.
A monção recorde deste ano é comparável às enchentes devastadoras de 2010 — as mais mortais da história do Paquistão — que deixaram mais de 2 mil mortos.
O ministro do Planejamento do Paquistão diz que as primeiras estimativas mostram que as enchentes devastadoras causaram pelo menos US$ 10 bilhões em danos.
Nesta semana, o Paquistão recebeu um pacote de US$ 1,1 bilhão (R$ 5,54 bilhões) do Fundo Monetário Internacional (FMI) para lidar com a crise. O dinheiro será usado para o Paquistão evitar o calote de suas dívidas.
As chuvas torrenciais devastaram estradas, plantações, casas, pontes e outras infraestruturas.
"Até agora, uma estimativa preliminar é de que [o impacto econômico] é grande, superior a US$ 10 bilhões", disse o ministro do Planejamento do Paquistão, Ahsan Iqbal, à agência de notícias Reuters.
Segundo Iqbal, o país enfrentará grave escassez de alimentos nas próximas semanas e meses e acredita que as inundações foram piores do que as que atingiram o Paquistão em 2010.
Ele também pediu aos países mais ricos que ajudem financeiramente o Paquistão, afirmando que o país é vítima das mudanças climáticas causadas pelo "desenvolvimento irresponsável do mundo desenvolvido".
Para lidar com a escassez de alimentos, o ministro das Finanças, Miftah Ismail, disse que o Paquistão considera importar legumes da Índia, que é seu rival.
A BBC visitou Sindh e encontrou pessoas deslocadas em todas as aldeias.
A escala total da devastação na província ainda não é totalmente conhecida. Mas as pessoas com quem a BBC conversou dizem que foi o pior desastre que já viram em suas vidas.
As inundações não são incomuns no Paquistão, mas as pessoas dizem que essas chuvas foram diferentes.
Um funcionário local disse que elas foram "inundações de proporções bíblicas".
Perto da cidade de Larkana, milhares de casas de barro afundaram na água. Por vários quilômetros, a única coisa visível são as copas das árvores. Em uma cidade, as pessoas estão desesperadas por comida. Em outro, muitas crianças tiveram doenças transmitidas pela água.
Em um momento, quando um caminhão com alimentos parou em um dos pontos, dezenas de pessoas o atacaram.
Havia crianças que, carregando outras crianças, formaram uma longa fila.
Uma menina de 12 anos disse que nem ela, nem sua irmã menor haviam comido nada nas últimas 24 horas.
"Nenhuma comida chegou aqui, mas minha irmã está doente, ela está vomitando. Espero que possam ajudar."
O desespero era evidente em todas as comunidades. As pessoas corriam para as janelas do carro pedindo ajuda. Centenas de pessoas acamparam em uma das principais ruas da cidade de Sukkur.
- Este texto foi publicado originalmente em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-62722477
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Fonte: correiobraziliense
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