Lisboa — Os brasileiros, em sua maioria, veem Portugal como um país de oportunidades para quem quer melhorar de vida, mas, entre os portugueses, a visão é de que o Brasil é um péssimo lugar para viver. É o que mostra pesquisa sobre como os dois povos veem o bicentenário da independência, realizada pelo Ipespe em parceria com o Fórum de Integração Brasil Europa (Fibe) e a Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Pelo levantamento, 84% dos brasileiros dizem que Portugal é um país bom ou muito bom para morar. Já 64% dos portugueses ressaltam que o Brasil é um lugar ruim ou muito ruim para se fixar residência, sobretudo, por causa da violência.
A pesquisa aponta que 51% dos brasileiros e 50% dos portugueses não têm conhecimento sobre a independência do Brasil de Portugal, decretada em 7 de setembro de 1822. Para Antonio Lavareda, responsável pelo levantamento, não há, entre os governos dos dois países, empenho suficiente para informar a população sobre evento tão relevante. Ele destaca, ainda, que, no caso do Brasil, mais recentemente, há um problema adicional: o governo de Jair Bolsonaro se apoderou politicamente do Sete de Setembro, distorcendo o real sentido da data.“Tanto que, neste ano, não se fala nada sobre o bicentenário da independência, e, sim, de um ato de apoio ao presidente da República”, explica.
Sobre a péssima visão que os portugueses têm do Brasil, Lavareda ressalta que a pesquisa mostra um maior conhecimento desse grupo em relação à realidade brasileira. Enquanto 69% dos brasileiros dizem ter um bom nível de informação sobre Portugal, 81% dos entrevistados no país europeu enfatizam estar inteirados sobre o que ocorre do outro lado do Atlântico. “As notícias sobre o Brasil veiculadas em Portugal não são as melhores possíveis, o que consolida uma imagem majoritariamente negativa”, diz. No caso da visão positiva de Portugal entre os brasileiros, há o imaginário de que a população vive em condições muito boas. “Enfim, são retratos do momento atual dos dois países”, frisa Lavareda.
Ele lembra que nem sempre foi assim. Até o início dos anos de 1980, Portugal era um país miserável, com parcela significativa da população analfabeta. A virada do país se deu após a entrada na União Europeia, que passou a despejar um caminhão de recursos em todas as nações integrantes do bloco. Isso permitiu um avanço espetacular de Portugal, especialmente na educação e na economia. Atualmente, o país europeu se ressente, como o Brasil, da alta da inflação e de sérias deficiências nos serviços públicos. Nem por isso, porém, os brasileiros deixam de ver Portugal como um Eldorado. Mais de 250 mil cidadãos oriundos do Brasil vivem em terras lusitanas oficialmente.
Lavareda diz que a ideia de fazer a pesquisa para medir o conhecimento de brasileiros e portugueses sobre a independência do Brasil surgiu em novembro do ano passado, quando um levantamento realizado a pedido da Febraban apontou de 58% dos entrevistados não tinham a menor noção de que o Brasil havia sido colônia de Portugal e se libertara em 1822. “Percebemos que pouco coisa mudou desde então, pois 51% dos brasileiros continuam sem conhecimento do fato”, ressalta. No entender dele, é vital, sobretudo do lado do Brasil, que não só a história do país seja reforçada nas escolas, como, também, o governo aprofunde as relações comerciais e políticas com Portugal. Bolsonaro é o único presidente eleito no regime democrático que não visitou o país europeu.
Pela pesquisa, se, para os portugueses, o Brasil não é um bom lugar para morar, é um ótimo destino turístico. Essa opção aparece de forma espontânea para 37% dos entrevistados, com destaque para as praias e o calor. Do lado dos brasileiros, a primeira resposta espontânea quando a pergunta é associada a Portugal, 21% ressaltam as relações econômicas entre os dois países e 19%, a qualidade de vida. “É importante deixar claro que esse estudo é um ponto de partida, não algo acabado. Deve servir como início de uma reflexão por cientistas sociais e governos sobre o que esperar do futuro das relações entre os dois países. Há, em Portugal, uma comunidade enorme de brasileiros trabalhando e empreendendo. Isso deve ser considerado”, destaca Lavareda.
Fonte: correiobraziliense
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