Foram sete décadas como príncipe, quase nove anos como aposentado, até que Charles Philip Athur George Windsor chegou, finalmente, ao trono. Agora Charles III, sua majestade terá a difícil tarefa de suceder a longeva Elizabeth II, que morreu ontem, aos 96 anos, no Castelo de Balmoral, na Escócia.
Protagonista de um conto de fadas que assumiu ares de novela, com direito a amor proibido, traição, intrigas e um acidente trágico nas décadas de 1980 e 1990, o novo monarca, de 73 anos, passou os últimos anos longe de polêmicas pessoais. Mas, à sombra da mãe, nunca deixou de ser alvo dos tabloides, acusado de ativista demais ou desinteressado pelo trono.
O mais velho rei a assumir o trono britânico, Charles III se manifestou como monarca pela primeira vez ontem. Em um comunicado, disse lamentar “profundamente o falecimento de uma querida soberana e de uma mãe que foi muito amada”. Enquanto a imprensa inglesa especula como será seu reinado, o sucessor deve oferecer algumas pistas hoje, quando fará um pronunciamento à nação. Ele, porém, já deu uma dica ao ser entrevistado pela BBC quando completou 70 anos: “Não é o mesmo ser príncipe de Gales e ser soberano”.
Nascido em 14 de novembro de 1948, no Palácio de Buckingham, em Londres, Charles é o primeiro dos quatro filhos da rainha Elizabeth II e Philip, o príncipe consorte falecido em 2021, aos 99 anos.
Segundo biógrafos, o monarca era um menino tímido e sensível quando, em 1958, aos 9 anos, foi nomeado príncipe de Gales. Depois, Charles seria enviado para estudar em Gordonstoun, um austero internato na Escócia que foi frequentado por seu pai. Lá, em vez de forjar um caráter duro, não escondeu que se sentia em um “inferno absoluto”. Em 1970, tornou-se o primeiro membro da família real britânica com um diploma, na Universidade de Cambridge, onde estudou arqueologia e antropologia.
Entre 1971 e 1976, serviu à Marinha Real Britânica. Para seu descontentamento, enquanto estava em missão no Caribe, o amor de sua vida, Camilla Shand, se casou com Andrew Parker Bowles. Pressionado para se casar, em fevereiro de 1981, aos 32 anos, Charles pediu a mão de Diana Spencer, que subiu ao altar, com 20 anos, em um casamento celebrado em julho, na Catedral de Saint Paul, em Londres. O casal, então, ganhou a simpatia dos súditos e do resto do mundo, que parecia assistir, em tempo real, um verdadeiro conto de fadas.
Porém, em pouco tempo a história ganhou ares de pesadelo. Nem o nascimento dos filhos, William (1982) e Harry (1984), uniu Charles e Diana, cujo casamento desastrado virou assunto predileto dos tabloides britânicos. Eles se separaram em 1992, mas o divórcio só aconteceu em 1996, quando era mais do que público o caso do então príncipe herdeiro com Camilla Parker Bowles, divorciada um ano antes.
Após a morte de Lady Di em um acidente de trânsito em Paris, em 1997, Charles precisou de uma campanha de relações públicas para virar a página de sua impopularidade. Em 2005, casou-se com Camilla, extrovertida e sorridente, que acabou ganhando a simpatia da maioria dos britânicos. “Charles percorreu um longo caminho para reconquistar o público”, lembrou sua biógrafa, Penny Junor, à agência France- Presse de notícias (AFP). “Desde que se casou com Camilla, ele é muito mais feliz. Aprendeu a relaxar, a se divertir."
Agora, porém, a austeridade deve voltar a direcionar os passos do novo monarca, que chega ao trono com uma reputação de ser mais engajado politicamente que sua mãe, afeito a causas que vão da agricultura orgânica à arquitetura neoclássica, passando pela pobreza juvenil. Um ativismo que deu espaço para manchetes como “Tensão no palácio, Charles se nega a ser um rei mudo" (Sunday Times) ou "A rainha teme que o país não esteja preparado para aceitar Charles e seu ativismo" (The Times).
Em meados de outubro do ano passado, a poucos dias do início da cúpula do clima COP26, apresentada como um momento crítico para salvar o planeta do aquecimento global, o príncipe disse "compreender" a frustração de jovens ativistas como a sueca Greta Thunberg, que acusou os políticos de falta de ação.
Em dezembro de 2016, Charles denunciou a ascensão do populismo e a hostilidade aos refugiados, justo no ano em que seu país deixou a União Europeia e Donald Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos: "Tudo isso tem ecos profundamente inquietantes dos dias obscuros dos anos 1930", sentenciou.
Dois anos antes, havia comparado Vladimir Putin a Adolf Hitler, levando a Rússia a pedir explicações ao governo britânico. Além disso, seu apoio ao Dalai Lama também incomodou as autoridades de Pequim. Porém, à BBC assegurou que, ao suceder a mãe, sua postura seria outra. "A ideia de que eu possa seguir agindo da mesma forma, se devo suceder (a rainha), é completamente absurda. Não sou tão estúpido."
Embora já seja rei, Charles III ainda precisa esperar para receber a coroa. Como tudo na realeza, há uma série de ritos a serem cumpridos e uma cerimônia pomposa a ser preparada. A rainha Elizabeth II, por exemplo, chegou ao trono em fevereiro de 1952, mas só foi coroada em junho do ano seguinte.
Se a tradição for mantida, o monarca será coroado na Abadia de Westminster como o 40° rei britânico a receber a honraria nesse local. A cerimônia será um serviço religioso anglicano, ministrado pelo arcebispo de Cantebury, que colocará na cabeça de Charles a coroa de Santo Eduardo. A joia, de 1661, é feita de ouro maciço, pesa 2,23kg e só é usada em coroações. Depois de um juramento, ele receberá o orbe e o cetro, como símbolos de sua nova missão.
O reinado do monarca de 73 anos será de transição — ainda que viva tanto quanto a mãe ou o pai, trata-se de um tempo considerado curto para o papel que assumirá. Na linha sucessória, estão o príncipe William, seguido pelos filhos deste, George, Charlotte e Louis. O príncipe Harry ocupa o quinto lugar, enquanto a última representante da família é Beatrice de York, neta da rainha e nascida em 1988.
Fonte: correiobraziliense
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