Um britânico aposentado de 61 anos que passava em frente à residência do embaixador brasileiro em Londres, nesta segunda-feira (19), foi hostilizado por bolsonaristas ao pedir que o público agisse com "respeito" no dia do funeral da rainha Elizabeth 2ª.
O aposentado, que se identificou depois para a equipe da BBC News Brasil como Harvey, deparou com um grupo de apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) discutindo com um homem que começou a criticar o presidente.
"Vocês estão na Inglaterra, demonstrem algum respeito, é o dia do funeral da rainha", gritou o britânico após bolsonaristas questionarem o que ele fazia ali e mandá-lo calar a boca.
Bolsonaro está no Reino Unido para participar do funeral e ficou hospedado na residência oficial do embaixador, onde apoiadores se aglomeraram para tentar falar com ele no domingo e nesta segunda-feira.
A confusão começou quando um homem segurando uma bandeira brasileira se aproximou de apoiadores de Bolsonaro dizendo que era cristão, mas que a "religião hoje no Brasil é parcial".
Silas Malafaia, que integra a comitiva de Bolsonaro e estava conversando com apoiadores do presidente naquele momento, puxou um coro de "mito, mito, mito".
O homem com a bandeira brasileira então começou a perguntar, também gritando, por que o público ali presente "não estava preocupado" com as queimadas na Amazônia, "em saber quem assassinou a ex-vereadora Marielle Franco" e com a "origem do dinheiro usado para comprar imóveis da família Bolsonaro".
Os apoiadores do presidente cercaram o homem, chamando-o de petista. Nesse momento, Harvey disse ter visto o que lhe pareceu ser uma situação de intimidação e decidiu intervir: "Esse homem tem o direito de protestar. Essa é a Inglaterra."
Os apoiadores de Bolsonaro, então, também se aproximaram do britânico gritando "Bolsonaro 2022, Bolsonaro presidente". Um dos bolsonaristas disse: "Você não sabe nada do seu próprio país".
"Vocês estão desrespeitando o Brasil. Esse é o funeral da rainha. Mostrem mais respeito! Isso está muito errado, é desrespeitoso com a rainha. O seu presidente não deve estar feliz com o seu comportamento", disse o britânico, em inglês.
Enquanto a confusão acontecia, um grupo de aproximadamente 20 policiais formou um cordão em proteção ao homem que carregava a bandeira do Brasil e que havia iniciado as críticas a Bolsonaro.
Nesse meio tempo, Bolsonaro deixou a residência do embaixador, tirou fotos com apoiadores e entrou num carro sem falar com a imprensa.
Bolsonaro chegou a Londres no sábado (18) para participar do funeral da rainha, que morreu aos 96 anos. Ele e outros chefes de Estado foram convidados pelo governo britânico para prestar as últimas homenagens à monarca.
Bolsonaro está acompanhado da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, do pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, entre outros assessores e apoiadores. Ao chegar à residência oficial do embaixador brasileiro em Mayfair, ele fez um discurso da varanda para um grupo de apoiadores que se aglomeraram em frente ao prédio.
O presidente iniciou a fala dizendo que se trata de um momento de pesar e falando em "profundo respeito pela família da rainha e pelo povo do Reino Unido". Disse que esse era o "objetivo principal", mas falou nos cerca de quatro minutos restantes sobre contexto político no Brasil e sobre sua plataforma de campanha à reeleição.
"Não tem como a gente não ganhar no primeiro turno", disse Bolsonaro.
No mesmo dia, ele visitou o caixão da rainha, na Abadia de Westminster, acompanhado de Michelle Bolsonaro e de Silas Malafaia.
De noite, gravou um vídeo num posto de combustível criticando o preço da gasolina no país que Elizabeth 2ª reinou por 70 anos.
"Estou aqui em Londres, Inglaterra, o preço da gasolina £1,61. Isso dá aproximadamente R$ 9,70 o litro. Ou seja, praticamente o dobro da média de muitos Estados do Brasil. Então, a gasolina é uma das mais baratas do mundo. É o governo brasileiro trabalhando para você", disse Bolsonaro, no vídeo, sem mencionar que o poder de compra médio dos moradores da Inglaterra é muito maior que a dos brasileiros.
Questionado sobre Bolsonaro falar em campanha eleitoral em meio às cerimônias fúnebres da rainha, o ex-secretário de comunicação do governo Bolsonaro, Fábio Wajngarten, que fez parte da comitiva do presidente na viagem a Londres, argumentou que o presidente iniciou sua fala hoje falando do funeral.
Malafaia, por outro lado, disse que não dá para "fingir que não está tendo um processo eleitoral no Brasil".
A imprensa britânica registrou os acontecimentos durante a passagem do presidente brasileiro por Londres.
Tanto jornais de tendência à esquerda, como o The Guardian, quanto à direita, como o Daily Mail, abordaram o discurso do presidente na residência oficial do embaixador.
"Enquanto líderes globais chegam ao Reino Unidos para manifestar seu respeito pela rainha, o líder da direita radical populista Jair Bolsonaro fez um comício em tom agressivo da janela da embaixada de seu pais incensando uma multidão com bandeiras", publicou o Daily Mail.
Já o Guardian disse que o "Presidente Bolsonaro usa visita a Londres para funeral da rainha como 'palanque eleitoral'".
O jornal The Times escreveu que Bolsonaro "aproveitou sua ida ao funeral da rainha para mostrar ao seu país como o combustível é caro em Londres".
E reportagem do Independent diz que "o polêmico Bolsonaro aproveitou a viagem a Londres para tentar convencer os eleitores indecisos de sua importância internacional, levando sua campanha política para a viagem".
- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-62946305
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Fonte: correiobraziliense
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