Depois que o presidente russo, Vladimir Putin, anunciou na quarta (21/9) uma mobilização parcial de tropas adicionais para lutar na Ucrânia, um clima de agitação se instalou na Rússia.
Putin disse que cerca de 300 mil reservistas serão convocados para reforçar as tropas russas lutando na Ucrânia.
Após o anúncio, milhares de manifestantes saíram às ruas em diferentes cidades russas e mais de mil pessoas foram presas. Nesse contexto, em vez de protestar, parece que muitos russos estão pensando em deixar seu país para evitar serem enviados para a linha de frente.
Um exemplo disso é que as passagens aéreas para países onde os russos não precisam de visto esgotaram ou atingiram preços astronômicos.
Os voos diretos de Moscou para Istambul, na Turquia, e Yerevan, na Armênia, esgotaram na quarta, sem mais disponibilidade até o próximo domingo, segundo dados do Aviasales, o site de reservas de voos mais popular da Rússia.
Algumas rotas com escalas, incluindo as de Moscou para a capital georgiana Tbilisi, também não estavam disponíveis, enquanto os voos mais baratos para Dubai custavam mais de 300 mil rublos (cerca de R$ 24,8 mil), informou a Reuters.
Outro destino popular entre os russos é a capital sérvia, Belgrado, onde os cidadãos russos também não precisam de visto. Essa rota também entrou em colapso devido à demanda por passagens, apontam vários meios de comunicação.
Depois que Putin anunciou a mobilização parcial de tropas, as conversas no Telegram sobre sair da Rússia começaram a se encher de perguntas sobre se os homens estavam sendo autorizados a deixar o país por fronteiras terrestres.
"Estávamos preocupados sobre como atravessaríamos a fronteira. Mas não houve problemas, não havia filas", disse à BBC Alexander, que deixou seu país pelo posto de controle em Vladikavkaz e entrou na Geórgia.
Ele afirma que saiu da Rússia de carro com mais três amigos. Dois deles são homens de 35 e 29 anos.
Alexander e um de seus amigos são reservistas, mas, segundo ele, os guardas de fronteira russos não estavam interessados ??nessa informação na quarta-feira.
"Ninguém perguntou nada. Eles fizeram as perguntas de sempre: planos para a Geórgia e assim por diante. Nenhum problema até agora", disse ele.
Valeria (nome alterado a seu pedido) e seu marido de 33 anos também foram autorizados a cruzar para a Geórgia sem questionar. Segundo ela, eles cruzaram a fronteira às 12h30, horário local, na quarta-feira.
"Eles não perguntaram nada, passamos muito rápido, tudo levou uma hora, não há engarrafamentos, mas acho que a situação vai mudar à noite", disse ela.
De acordo com a mulher, ela e o marido estavam viajando para a Geórgia em lua de mel e não planejavam deixar a Rússia para sempre. Mas depois do anúncio da mobilização parcial, eles não têm mais certeza disso.
Peter, de 30 anos (que pediu para que não usássemos seu nome verdadeiro), disse à BBC que passou pelo controle de passaporte no aeroporto Pulkovo de São Petersburgo e estava esperando um voo para Istambul. Ele comprou uma passagem há muito tempo.
Na fronteira, segundo ele, ninguém perguntou se ele era reservista ou se poderia ser afetado pela mobilização anunciada por Putin.
Nem o presidente Vladimir Putin em seu discurso na quarta-feira, nem o ministro da Defesa, Sergei Shoigu, disseram nada sobre se os homens sujeitos à convocação seriam impedidos de deixar a Rússia.
O porta-voz presidencial Dmitry Peskov disse a repórteres que ainda não poderia responder à pergunta se as fronteiras seriam fechadas para aqueles que estão sujeitos a mobilização e prometeu esclarecer esta questão.
"Há diferentes disposições sobre esta questão nas leis atuais. Vamos ter um pouco de paciência. As explicações sobre este assunto serão feitas", disse o representante do Kremlin, segundo a agência Interfax.
A chefe da Agência Federal de Turismo da Rússia, Zarina Doguzova, escreveu em seu canal noTelegram que nenhuma restrição adicional foi introduzida para os russos viajarem para o exterior no momento.
Advogados entrevistados pelo serviço russo da BBC discordam sobre se a lei proíbe os homens de viajar para o exterior em condições de mobilização parcial de tropas.
Para o advogado Alexander Peredruk "a restrição se aplica a todas as pessoas que estejam registradas nas Forças Armadas, independentemente de estarem sujeitas a recrutamento para mobilização ou não".
"Não se sabe como essa restrição funcionará na prática e se as viagens ao exterior serão restritas. Vi declarações públicas de funcionários de que não haverá restrições, mas a lei define claramente que é proibido sair sem permissão especial em caso de mobilização", diz ele.
Já o advogado Arseniy Levinson afirma que no momento não há nenhuma lei na Rússia que proíba aqueles que estão sob mobilização parcial de deixar o país. A lei russa não especifica o sexo dos cidadãos que devem ser mobilizados.
As mulheres que não serviram em unidades terrestres de combate podem ser convocadas para o serviço militar se estiverem registradas no serviço militar e tiverem especialidade em categorias como engenharia da computação, medicina ou impressão e mapeamento, entre outras.
*Com informações de Amaliya Zatari, da BBC Rússia em Moscou
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Fonte: correiobraziliense
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