Bangladesh, um país de férteis deltas densamente povoado, está entre as nações mais vulneráveis do mundo à mudança climática, em especial devido ao aumento do nível do mar e às inundações.
A urgência da situação não é acompanhada, porém, de ações dos países responsáveis pelas emissões, critica sua primeira-ministra Sheikh Hasina.
"Não agem. Podem falar, mas não agem", disse ela à AFP durante sua visita a Nova York para participar da Assembleia Geral das Nações Unidas.
"Os países ricos, os países desenvolvidos: isso é responsabilidade deles. Deveriam dar um passo à frente. Mas não estamos recebendo muita resposta deles. Essa é a tragédia", continuou.
"Sei que os países ricos querem ser cada vez mais ricos e enriquecer. Não se preocupam com os outros", insistiu.
Bangladesh produziu uma minúscula parte das emissões de gases de efeito estufa, os quais contribuíram para o aquecimento do planeta em uma média de 1,2°C acima dos níveis pré-industriais.
O Acordo de Paris pedia às nações ricas US$ 100 bilhões por ano, a partir de 2020, para ajudar os países em desenvolvimento a lidar com a mudança climática. Em 2022, US$ 83,3 bilhões foram prometidos, inclusive por meio de fontes privadas, segundo dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Uma das questões-chave antes da próxima cúpula climática da ONU, em novembro próximo, no Egito, é se as nações ricas também terão de pagar pelas perdas e pelos danos causados pela mudança climática, e não apenas pela adaptação e pela mitigação.
"Queremos que esse fundo seja aumentado. Infelizmente, não tivemos uma boa resposta dos países desenvolvidos", lamentou Hasina.
Por enquanto, as nações ricas concordaram em discutir perdas e danos somente após 2024.
A Assembleia Geral deste ano foi palco de repetidos apelos por justiça climática. O presidente Nikenike Vurobaravu, líder de Vanuatu, uma pequena ilha no Pacífico Sul ameaçada de desaparecer, pediu um tratado internacional contra os combustíveis fósseis. Já o primeiro-ministro do Paquistão, Mian Muhammad Shehbaz Sharif, alertou que as enchentes que inundaram um terço de seu país podem acontecer em qualquer lugar.
O clima não é a única questão sobre a qual Bangladesh vê inação do Ocidente.
Cerca de 750.000 rohingyas fugiram para Bangladesh em 2017, após uma campanha militar de terra arrasada contra esse grupo minoritário na vizinha Mianmar, classificada como "genocídio" pelos Estados Unidos.
Enquanto o mundo celebra o fato de Bangladesh receber os refugiados, junto com outros 100.000 que já haviam fugido antes, devido à violência, a atenção se desviou do assunto: primeiro, pela pandemia da covid-19 e, agora, pela invasão da Ucrânia pela Rússia.
"Enquanto estiverem em nosso país, sentimos que é nosso dever", afirmou Hasina, esclarecendo, no entanto, que a paciência está se esgotando entre os bengalis.
Em uma visita a Bangladesh em agosto deste ano, Michelle Bachelet, então alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, alertou sobre um crescente sentimento anti-Rohingyas entre os habitantes.
"A população local também sofre muito (...) Não posso dizer que estão com raiva, mas se sentem desconfortáveis", disse Hasina. "Toda a carga está caindo sobre nós. Isso é um problema", frisou.
Muçulmanos em sua maioria, os refugiados rohingya vivem, principalmente, em acampamentos em ruínas feitos de lonas, chapas de metal e bambu.
Durante sua visita, Bachelet disse que não havia perspectiva de devolvê-los a uma Mianmar de maioria budista, governada por militares, e onde os rohingyas não são considerados cidadãos.
Hasina afirmou que não havia muitas opções, além de os rohingyas residirem em acampamentos.
"Não é possível, para nós, dar-lhes um espaço aberto, porque eles têm seu próprio país. Querem voltar para lá. Então essa é a principal prioridade para todos", reforçou.
"Se alguém quiser levá-los, pode levá-los", acrescentou. "Por que eu deveria me opor?".
Fonte: correiobraziliense
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