22 de Novembro de 2024

Putin ignora derrotas e sanciona anexações de territórios da Ucrânia


crédito: Anatolii Stepanov/AFP

Apesar de reconhecer as dificuldades na Ucrânia, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, sancionou, ontem, a anexação das regiões de Zaporizhzhia e Kherson (sudeste) e de Donetsk e Luhansk (leste). O chefe do Kremlin também assinou um decreto no qual isenta da mobilização parcial de reservistas os estudantes universitários e de instituições privadas. No dia em que Kiev anunciou novos avanços militares em Kherson e em Luhansk, um Putin cada vez mais pressionado buscou transmitir uma mensagem de otimismo. "Partimos do princípio de que a situação nos novos territórios se estabilizará", declarou, em conversa com professores, durante videoconferência transmitida pela televisão.

Uma sondagem divulgada pelo instituto de pesquisas independente Centro Levada, sediado em Moscou, apontou que 47% dos russos reagiram com "horror" e "ansiedade" à ordem de Putin de mobilizar 300 mil reservistas para combaterem na Ucrânia — 23% se disseram chocados, 13% com raiva e outros 23% afirmaram sentir orgulho patriótico. A aprovação do presidente diminuiu de 83% para 77%. Também ontem, Putin promoveu o líder checheno Ramzan Kadyrov ao posto de coronel-general, poucos dias depois de o aliado pedir o uso de armas nucleares táticas como estratégia para forçar a recuperação de territórios.

Gunther Rudzit, professor de relações internacionais da ESPM e especialista em segurança internacional, afirmou ao Correio que, ao sancionar as anexações, Putin tenta mostrar ao povo russo que as coisas estariam sob controle. "A medida coincide com o acirramento das críticas ao governo, inclusive por parte de nacionalistas e de lideranças chechenas. As anexações seriam uma resposta às reprovações", explicou. "Outra hipótese é de que, com a retomada de áreas por parte da Ucrânia, Putin poderia declarar guerra oficialmente, pois a Ucrânia estaria invadindo 'território russo'. Ele também pode anunciar uma mobilização total, além de implementar medidas mais contundentes, como de controle da população."

Segundo Rudzit, as perdas humanas foram enormes para a Rússia. "O fato de os russos terem levado meses para reconquistar os territórios e os perderem em questão de semanas fez com que eles sofressem um abalo. O que torna mais complicada a situação é que os reservistas não têm preparo nenhum para a guerra, além de estarem acima do limite de idade. Quando chegarem ao front, se não fugirem, morreram rapidamente", advertiu o estudioso. Um cenário que, alerta, pode levar a uma situação de desespero para Putin, a uma deserção em massa entre os russos ou à falência militar das tropas do Kremlin na Ucrânia. "Isso tornaria Putin ainda mais perigoso, no sentido de poder apelar a uma arma nuclear tática."

Por sua vez, Peter Zalmayev — diretor da ONG Eurasia Democracy Initiative (em Kiev) — disse que Putin enfrenta um "crescente divórcio" com a realidade na frente de batalha. "Existem dois tipos de realidade: uma virtual, criada pelo Kremlin, e outra ditada pelas Forças Armadas da Ucrânia no front. A realidade do Kremlin está se desfazendo", afirmou à reportagem.

Zalmayev citou a existência de tensões entre membros da elite governante, com críticas ao presidente por parte de aliados e de Ramzan Kadyrov. "As forças ucranianas têm criado, com sucesso, um momento muito arriscado para Putin, no cenário doméstico. A elite russa não acredita que Putin tenha atuado de forma decisiva o bastante e defende bombardeios indiscriminados na Ucrânia. Este é o dilema de Putin."

Em relação às armas nucleares táticas, Zalmayev avalia que as chances de uso aumentaram, apesar de os EUA ainda não verem sinais de preparativos russos. "Se detonar esse tipo de artefato, Putin poderá perder aliados importantes, como a Rússia e a China", observou.

Em uma medida polêmica, a Rússia tomou formalmente a usina nuclear de Zaporizhzhia, no sul da Ucrânia, que as forças de Moscou ocupam há meses, de acordo com decreto publicado ontem. "O governo deve garantir que as instalações nucleares da usina (...) sejam aceitas como propriedade federal", afirma o texto. A maior central nuclear da Europa tem sido alvo de bombardeios desde março passado, o que aumenta o risco de vazamento radioativo. Zaporizhzhia está situada em uma das quatro regiões anexadas pela Rússia.

 Serhiy Hayday, chefe da administração militar da região de Luhansk
Serhiy Hayday, chefe da administração militar da região de Luhansk (foto: Arquivo pessoal )
 

São eventos não relacionados. Nós temos o nosso próprio plano — retomar todos os nossos territórios. Não nos adaptamos aos acessos de fúria dos russos. Nós apenas nos focamos em nosso objetivo. Em breve, chegaremos a ele. 

No momento, seis pequenos assentamentos foram liberados. Pela manhã, haverá mais. 

Nós não desviaremos de nossos objetivos e planos. 

Não muda nada para nós, devemos liberar nossos territórios. 

A Rússia tomou formalmente a usina nuclear de Zaporizhzhia, no sul da Ucrânia, que as forças de Moscou ocupam há meses, de acordo com um decreto assinado pelo presidente Vladimir Putin e publicado ontem. "O governo deve garantir que as instalações nucleares da usina (...) sejam aceitas como propriedade federal", afirma o decreto, publicado dias antes de uma possível visita à Rússia do diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi. A central, a maior da Europa, está localizada na região de Zaporizhzhia, um dos territórios ucranianos que a Rússia anexou formalmente na semana passada. A usina fica próxima à linha que separa os territórios controlados por Kiev e os ocupados por Moscou. "O governo deve garantir que as instalações nucleares da usina (...) sejam aceitas como propriedade federal", afirma o decreto russo. 

Agências de inteligência dos Estados Unidos acreditam que setores do governo da Ucrânia autorizaram o atentado com carro-bomba que matou Daria Dugina, filha do nacionalista russo Aleksandr Dugin (E) — um importante aliado do presidente Vladimir Putin. Daria morreu na noite de 20 de agosto, em uma rodovia perto de Moscou, depois da explosão de um artefato escondido dentro de um Toyota Land Cruiser Prado, um SUV preto que pertencia ao próprio Aleksandr. Pai e filha teriam trocado de carro momentos antes do assassinato. A Ucrânia negou envolvimento no crime, e autoridades de Kiev repetiram as negativas quando questionados sobre a avaliação da inteligência norte-americana. Os serviços de inteligência de Washington não revelaram quais elementos do governo ucraniano autorizaram a missão ou se o presidente Volodymyr Zelensky avalizou a operação. 

Fonte: correiobraziliense

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