Em reunião emergencial por videoconferência que contou com a participação do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensly, o G7 — grupo dos sete países mais industrializados do mundo — condenou "nos mais fortes termos possíveis" os ataques russos contra infraestrutura civil e cidades da Ucrânia, denunciou crimes de guerra e avisou: "Faremos com que (Vladimir) Putin e aqueles responsáveis prestem contas". O bloco lamentou "as medidas deliberadas de escalada russa" e reafirmou que "qualquer uso de armas químicas, biológicas e nucleares pela Rússia terá graves consequências". "Nós asseguramos ao presidente Zelensky que somos firmes em nossa capacidade de fornecer o apoio de que a Ucrânia precisa para defender a sua soberania e sua integridade territorial", diz a nota.
Durante o seu pronunciamento ao G7, Zelensky pediu ajuda do Ocidente para a criação de um "escudo antiaéreo", no dia seguinte a uma onde de bombardeios que deixou pelo menos 19 mortos e mais de 90 feridos em Kiev e em nove cidades ucranianas. Os Estados Unidos prometeram intensificar os envios de sistemas de defesas antiaéreas à Ucrânia, enquanto a Alemanha confirmou que, nos próximos dias, mandará uma primeira remessa de mísseis antiaéreos Iris-T.
O presidente norte-americano, Joe Biden, classificou Putin como "um ator racional, que calculou muito mal" a invasão à Ucrânia. Ele também considerou "irracional" o discurso feito pelo líder do Kremlin antes do ataque à ex-república soviética, em 24 de fevereiro. "Acho que ele pensou que seria recebido de braços abertos, que este era o lar da Mãe Rússia em Kiev. Ele calculou totalmente mal", reiterou, em entrevista à tevê CNN.
Por sua vez, Jens Stoltenberg, secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), declarou que a Ucrânia vive "seu momento", com ganhos significativos no front. "O presidente Putin está fracassando an Ucrânia. Suas tentativas de anexação, sua mobilização parcial e a imprudente retórica nuclear representam a mais importante escalada desde o início da guerra. E mostram que a guerra não sai como o planejado."
Natural de Minsk, Jan Maculski — analista do Instituto Bielorrusso para Estudos Estratégicos — criticou a declaração conjunta do G7 por entender que a nota "deixou mais a impressão de condenação e pedido do que de ameaça real e ultimato a Putin". "Não vemos indidações de nenhuma 'punição real' ou de passos pronunciados, apenas a ênfase a mais pressão econômica e a ajuda financeira e militar à Ucrânia. Parece que o G7 prefere acompanhar o desenrolar na situação e não se intrometer. Diante de um possível confronto nuclear, essa estratégia não me parece convincente", disse ao Correio.
Maculski advertiu que o Kremlin sempre tem escolhido os piores passos. Por isso, ele acredita que um ataque nuclear russo seja "bastante possível", especialmente ante uma provável derrota militar na Ucrânia.
Especialista em armas de destruição em massa do Instituto para Pesquisas de Desarmamento das Nações Unidas (Unidir), em Genebra, Pavel Podvig afirmou à reportagem que o eventual uso de artefatos nucleares exigiria uma resposta da comunidade internacional. "A reação deveria se focar no isolamento crescente da Rússia, tanto diplomática quanto financeiramente, com o apoio de Estados hesitantes em criticar Moscou diretamente — como Brasil, Índia, China e Israel. O ideal é que o G7 enfatize o risco de a Rússia tornar-se uma nação pária", comentou. Ele admite a possibilidade um retaliação militar, mas adverte que seria um cenário "muito perigoso". O estudioso explicou que a preparação do arsenal nuclear para a utilização exige a remoção dos artefatos de armazéns e o acoplamento das ogivas aos mísseis. "Todas essas atividades podem ser detectadas."
Maculski vê o risco de Belarus entrar na guerra. Ele explicou que o presidente Alexander Lukashenko caiu na "dependência total" do Kremlin depois dos protestos de 2020. "O ato de ceder o território de Belarus ao Exército russo é um sinal de que Lukashenko abandona a soberania do país. Mas precisamos reconhecer que a guerra é bastante impopular entre os bielorrusosos, que não têm uma mentalidade imperial. Meu povo considera os ucraniamos como muito próximos, inclusive no idioma."
De acordo com o ucraniano Olexiy Haran, professor de política comparativa da Universidade Nacional de Kiev-Mohyla, Belarus tem participado indiretamente do conflito na Ucrânia, ao ceder o seu território para o lançamento de mísseis russos. "Lukashenko basicamente permitiu a Putin utilizar Belarus para a agressão contra meu país. No entanto, a mobilização de tropas seria algo muito mais complicado. Os soldados bielorrussos não têm nenhum estímulo para combater os ucranianos. Nunca na história, as duas nações travaram um confronto. Os cidadãos de Belarus também não apoiariam a entrada na guerra", disse à reportagem.
"A melhor maneira de evitar uma ofensiva nuclear é enviar um forte sinal de que a simples alusão a esse recurso no conflito entre Rússia e Ucrânia é algo absolutamente inaceitável. Nesse sentido, seria realmente útil se o Brasil e outros países 'hesitantes' claramente declarassem isso agora."
"Tudo o que o regime de Alexander Lukashenko tenta é suprimir e controlar a sociedade, que é massivamente contra ele, instilar medo e reprimir protestos. Participar de uma guerra desestabilizaria, de forma significativa, a situação em Belarus. Lukashenko tentará evitar isso de todas as formas. O envio de tropas ao exterior o deixaria desprotegido e tornaria o regime mais vulnerável. Lukashenko pode manter o mito do 'perigo das fronteiras ocidentais' e colocar o Exército bielorrusso para assegurar os limites com Polônia, Letônia e Lituânia. Mas nunca sabemos os assuntos das negociações entre Lukashenko e Putin.
Uma invasão de bielorrussos à Ucrânia significaria uma guerra entre os dois países. O exército de meu país nunca foi treinado para lutar e não está motivado. A Ucrânia tenta evitar a abertura de mais mil quilômetros de front e repetir a situação de 24 de fevereiro, quando o exército inimigo foi a Kiev a partir do território de Belarus. A Ucrânia aposta alto e toma todas as medidas para reduzir a possibilidade de uma nova invasão."
Fonte: correiobraziliense
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