Todos os nove integrantes do comitê bipartidário criado pela Câmara dos Representantes para investigar responsabilidades pela invasão ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, votaram a favor de intimar o ex-presidente Donald Trump a prestar depoimento. "Ele é obrigado a responder por suas ações. Ele deve explicações aos policiais que colocaram suas vidas e seus corpos em risco para defenderem a nossa democracia", declarou o deputado democrata Bennie Thompson, líder do comitê. A republicana Liz Cheney, vice de Bennie, assegurou que o comitê dispõe de "informações suficientes para considerar encaminhamentos criminais para vários indivíduos". "Devemos buscar o testemunho, sob juramento, do personagem central do 6 de janeiro", defendeu Cheney. "Todo o americano tem direito às respostas; então, podemos agir agora para proteger a nossa república."
Trump desqualificou a intimação, ao chamá-la de "golpe publicitário". "Por que a 'Descomissão' não pediu que eu testemunhasse meses atrás?", questionou o magnata republicano na Truth Social, a rede social criada por ele. "Por que eles esperaram até o fim? Porque o comitê é um completo fiasco, que só serviu para dividir ainda mais o nosso país, que, aliás, está indo muito mal. Uma chacota para o mundo?", provocou. A intimação a um ex-presidente ou a um presidente em exercício não é sem precedentes, apesar de rara. Em 1848, o Congresso interrogou dois ex-chefes de Estado — John Tyler e John Quincy Adams. Três presidentes em exercício prestaram depoimento no Capitólio: George Washington, Abraham Lincoln e Gerald Ford.
Caso se ausente do interrogatório, Trump poderá ser acusado de desacato ao Legislativo. Nesse cenário, a Câmara dos Representantes votaria uma moção que seria apresentada ao Departamento de Justiça, que teria o poder de decidir se abre ou não um processo criminal. Durante a sessão de ontem, o comitê apresentou evidências de que Trump pretendia declarar vitória nas eleições de 2020, quaisquer fossem os resultados das urnas.
Ex-procurador federal e advogado na firma Rottenberg Lipman Rich P.C. (em Nova York), Mitchell Epner afirmou ao Correio que não espera ver Trump testemunhar ante o comitê. No entanto, considerou que a decisão da instância bipartidária foi "uma maneira poderosa" de encerrar suas atividades. "Desde o início, acreditei que um dos objetivos do comitê foi mobilizar a opinião pública para a possibilidade de o ex-presidente ser acusado criminalmente. Nesse sentido, creio que o trabalho do comitê foi muito exitoso", avaliou.
De acordo com Epner, Trump poderia frustrar a intimação, ao apresentar uma moção para anulá-la nos tribunais. "É uma certeza virtual que a intimação expirará em 31 de dezembro, término do mandato atual do Congresso, antes que a própria moção seja decidida", alertou. James Naylor Green, historiador político da Universidade Brown (em Rhode Island), também duvida que Trump obedeça à intimação. "O Congresso não pode enviar a polícia para prendê-lo. Ele usará vários argumentos, por ter o privilégio do Executivo de não responder. Também tem o direito de ficar calado, respaldado pela 5ª Emenda da Constituição. Trump aposta na vitória dos republicanos, nas eleições legislativas de 8 de novembro, para extinguir o comitê", explicou à reportagem.
Em outra derrota para o republicano, a Suprema Corte rejeitou o pedido de Trump para intervir na batalha legal sobre os documentos sigilosos apreendidos pelo FBI em sua casa em Mar-a-Lago, na Flórida. Trump tinha instado a máxima Corte a suspender a sentença do tribunal de apelações que voltou a dar acesso aos documentos para o Departamento de Justiça.
Fonte: correiobraziliense
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