O nome de Habiba Ashna Marhoon, 32 anos, estava na lista de alvos do Talibã. Por isso, ela e a família fugiram para a Virgínia, nos Estados Unidos. A ativista afegã não se surpreendeu com a mais nova etapa da segregação de gênero imposta pela milícia fundamentalista islâmica: as mulheres de Cabul estão proibidas de frequentarem parques públicos e os jardins da capital do Afeganistão.
"Em muitos lugares, as regras foram violadas", declarou à agência France-Presse (AFP) Mohammad Akif Sadeq Mohajir, porta-voz do Ministério para a Promoção da Virtude e Prevenção do Vício. "Havia mistura e o hijab (o véu que cobre a cabeça e o pescoço) não estava sendo respeitado. Por isso esta decisão foi tomada", justificou. Habiba disse ao Correio que seu país natal "não é seguro para ninguém que tenha cérebro".
Ela contou que conversou com várias mulheres de Cabul. "Estão com medo do Talibã e nem mais saem de suas casas. Em uma nação onde as mulheres não podem frequentar escolas, o veto à presença delas nesses parques é apenas simbólico. Essa decisão mostra o quanto o Talibã está desconectado da realidade e do mundo. O centro da ideologia talibã é antimulher e isso abre brecha para o feminicídio", desabafou Habiba, que abandonou o Afeganistão duas semanas antes da chegada da milícia ao poder, em agosto de 2021.
Os parques eram considerados o última espaço de liberdade para as mulheres. Além de obrigadas a usar o hijab, elas não podem frequentar o ensino médio e estão impedidas de viajar sozinhas para fora de sua localidade. Criado há mais de seis anos, o Parque Zazai, situado na parte alta de Cabul, está com a roda gigante parada. Nos fins de semana, a atração da capital afegã recebia cerca de 15 mil visitantes por dia. "Sem mulheres, as crianças não virão sozinhas", lamentou à AFP Habib Jan Zazai, o coadministrador que investiu US$ 11 milhões e emprega 250 pessoas. "Gostaria que o Talibã apresentasse razões convincentes. No islã você pode ser feliz. O islã não permite que as pessoas sejam presas em casa. Com essas decisões, vão desencorajar os investidores. E sem empresários que paguem impostos, como vão governar?", questionou Zazai.
"O Talibã segrega as mulheres de todas as maneiras. Há segregação nas universidades, nas escolas de idiomas, nas clínicas. As mulheres não têm permissão nem para mostrar o rosto na televisão, a menos que cubram os cabelos. Eles estão apagando cada mulher de todas as partes das arenas socioeconômica e política."
Fonte: correiobraziliense
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