23 de Novembro de 2024

Trump sofre pressão para adiar anúncio da candidatura à Casa Branca


crédito: Eva Marie Uzcategui/AFP

Donald Trump bem que tentou, mas sentiu o golpe ante o desempenho aquém do esperado de seu Partido Republicano e dos candidatos endossados nas eleições de meio de mandato da última quarta-feira. Winsome Earle-Sears, vice-governador da Virgínia e ex-líder do grupo Americanos Negros pela Reeleição de Trump em 2020, defendeu que o magnata não volte a disputar a presidência em 2024. "Os eleitores falaram e disseram que querem um líder diferente. E um verdadeiro líder compreende quando se torna um risco", afirmou à emissora Fox News. De acordo com o jornal The Washington Post, o partido conservador ficou ainda mais dividido depois da votação desta semana e pressiona Trump a adiar o anúncio de sua pré-candidatura à Casa Branca — previsto inicialmente para terça-feira. 

"Para aquelas pessoas que estão recebendo a falsa narrativa da mídia corrupta de que estou irritado com as eleições, não acreditem. Não estou com raiva, fiz um ótimo trabalho (eu não estava concorrendo!) e estou muito ocupado olhando para o futuro. Lembrem-se, sou um 'gênio estável'", declarou Trump, na quarta-feira, em uma publicação em sua rede social Truth Social. Um dos chamados estados-pêndulos dos EUA, a Flórida se revela a principal decepção para Trump e os republicanos. O governador Ron DeSantis conseguiu a reeleição e se firmou como uma estrela em ascendência dentro do partido, além de potencial adversário de Trump nas primárias.

Não bastasse a performance decepcionante nas eleições de meio de mandato, o magnata terá pela frente as conclusões do comitê de investigação da Câmara sobre a invasão ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, e um inquérito sobre a posse de documentos confidenciais, guardados na residência de Mar-a-Lago, na Flórida. 

Até o fechamento desta edição, a disputa pela Câmara parecia perto de consolidar o controle republicano. O partido de Trump tinha conquistado 209 das 218 cadeiras necessárias para formar a maioria, enquanto os democratas, do presidente Joe Biden, haviam capturado 192.

A futura composição do Senado segue indefinida: os democratas fizeram 48 cadeiras, enquanto os republicanos, 49. No entanto, as batalhas no Arizona e em Nevada seguiam abertas, e o senador eleito pelo estado da Geórgia será decidido em um segundo turno, em dezembro.  

Para Sean Wilentz, professor de história da Princeton University e autor de The rise of american democracy: Jefferson to Lincoln (A ascensão da democracia americana: de Jefferson a Lincoln), o ex-presidente Donald Trump foi o maior derrotado nas eleições de meio de mandato. "Está claro que alguns republicanos, até então em silêncio, chegaram ao ponto de mostrarem disposição em criticá-lo publicamente", afirmou ao Correio. No entanto, ele lembra que, logo depois da insurreição de 6 de janeiro, Trump também foi alvo de francas críticas. "Mas desapareceram rapidamente, pela simples razão de que ele ainda comandava a lealdade fervorosa da vasta maioria dos eleitores republicanos."

Wilentz crê que Trump ainda goza de lealdade. "Nenhum líder do Partido Republicano pode mudar isso. Seria preciso uma deserção em massa de sua máquina de propaganda para começar a modificar esse cenário", disse. O especialista de Princeton não descarta uma rebelião interna no Partido Republicano, mas aposta que o movimento ainda não seria bem sucedido. "O próximo grande momento será quando ele anunciar sua candidatura. Não espero nenhuma drástica mudança até lá." 

"As perspectivas de Trump sobre a disputa pela Casa Branca, em 2024, teriam sido muito melhores se os republicanos tivessem conquistado uma grande vitória na última terça-feira. Se isso tivesse ocorrido, como imagino que Trump supôs que aconteceria, ele estaria em excelente forma para a disputa. Apesar de não estar ainda em tão boa forma, o ex-presidente mantém uma posição forte. Uma das ironias da exibição de força dos democratas é que a ala 'maluca' do caucus republicano na Câmara dos Representantes terá uma voz mais alta dentro do caucus. Ela perseguirá os cavalos para Trump. Isso torna ainda mais provável que Trump, em efeito, será uma espécie de presidente da Câmara.

Trump começa a parecer um perdedor para seus adversários. Essa é a única coisa que o deixa louco. Na política americana moderna, ter a aparência de um perdedor pode ser extremamente prejudicial, até mesmo fatal, tanto por razões psicológicas quanto políticas. Se Trump começar a ter a sensação de que as pessoas riem dele, considerando-o tudo, exceto o maior, isso atingiria as profundezas de sua ferida narcisista. Ele então poderia se autodestruir, o que o colocaria em uma situação muito ruim. Esse tipo de coisa tem acontecido repetidamente com ele na carreira empresarial. Mas, por enquanto, Trump ainda conta com sua base."

O poderoso império midiático do bilionário conservador Rupert Murdoch parece ter dado as costas a Donald Trump,  ao chamar o ex-presidente dos Estados Unidos de "perdedor" que mostra "um juízo cada vez mais pobre", após as eleições de meio de mandato. O jornal The Wall Street Journal, carro-chefe da News Corp de Murdoch, declarou em um editorial que "Trump é o maior perdedor do Partido Republicano". A capa do tabloide New York Post, do mesmo grupo, mostrava Trump sobre um muro como "Trumpty Dumpty", que "teve uma grande queda" na eleição, culpando-o pelo fracasso dos republicanos contra seus rivais democratas. Na influente emissora Fox News não faltaram elogios ao governador reeleito da Flórida, Ron DeSantis. "O maior vencedor das eleições foi sem dúvida o governador Ron DeSantis, cuja esmagadora vitória (...) foi impressionante", disse a colunista Liz Peek. "O maior perdedor? Donald Trump."

 

Fonte: correiobraziliense

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