Homens, brancos, dos Estados Unidos ou de algum país europeu. Assim era formado até pouco tempo o exclusivo clube das 5 pessoas mais ricas do mundo.
Mas isso mudou há apenas algumas semanas, quando o empresário indiano Gautam Adani desbancou Bill Gates, fundador da Microsoft, da quarta posição e tirou o megainvestidor Warren Buffett do grupo, segundo os índices de bilionários elaborados pela revista Forbes e pela agência de notícias Bloomberg.
O magnata indiano entrou no seleto círculo porque sua fortuna teve um aumento significativo nos últimos anos e, em particular, nos últimos 12 meses. Hoje, estima-se que as empresas e bens de Adani ultrapassem US$ 125 bilhões, que é o dobro do Produto Interno Bruto (PIB) do Uruguai de 2021.
Só no ano passado, a riqueza do empresário aumentou em US$ 48,7 bilhões, fazendo dele o homem mais rico de toda a Ásia.
Em contrapartida, os outros membros do clube (Elon Musk, fundador da Tesla e novo dono do Twitter; Bernard Arnault, dono da Louis Vuitton; Jeff Bezos, fundador da Amazon; e Bill Gates) sofreram perdas significativas, devido às turbulências que os mercados vêm sofrendo, especialmente após a invasão russa da Ucrânia.
Adani é fundador de um conglomerado de empresas chamado Adani Group, que tem negócios em setores que vão desde infraestrutura e logística até energia.
Mas como esse império começou?
Adani não ficou milionário por herança. Ele nasceu em junho de 1962 em uma família de classe média em Ahmedabad, no Estado de Gujarat, perto de Mumbai. Seu pai era um pequeno comerciante têxtil.
Depois de terminar o colégio, ele começou a estudar negócios na Universidade de Gujarat, mas desistiu no segundo ano.
Em 1981, seu irmão mais velho comprou uma fábrica de plásticos em Ahmedabad e o convidou para fazer parte do negócio. Adani se dedicava à importação de PVC, mas anos depois expandiu para outros produtos - e começou a exportar tecidos, produtos agrícolas e pedras preciosas (diamantes).
A sorte sorriu para ele. Foi assim que, em 1995 ele passou a operar seu primeiro porto na Índia, e hoje opera vários em todo o país.
Mas a prosperidade atraiu a atenção de grupos criminosos - e um deles o sequestrou em 1997, quando estava saindo de um clube exclusivo.
Ele foi liberado horas mais tarde, mas depois de pagar US$ 1,5 milhão, segundo a imprensa local.
Anos depois, em 26 de novembro de 2008, quando Adani estava no luxuoso Taj Mahal Palace Hotel em Mumbai, o mesmo foi atacado por extremistas islâmicos.
O empresário estava jantando com colegas, mas saiu ileso, pois conseguiu se esconder no porão do prédio até que as tropas indianas conseguiram liquidar os terroristas.
"Vi a morte a 4 metros", declarou mais tarde.
Dos portos e da distribuição de mercadorias, Adani saltou para o setor de energia. Assim, hoje ele não só possui usinas geradoras de energia elétrica, como também empresas que a distribuem e comercializam diretamente para os lares indianos.
Também é dono do controverso projeto Carmichael, na Austrália, uma mina de carvão a céu aberto que abastece usinas de energia, pelo qual recebeu duras críticas de ambientalistas e até processos judiciais.
No entanto, em seu país ele tem fábricas que desenvolvem painéis solares e também centros de processamento de dados.
Além do faro e da visão para os negócios, na Índia há quem acredite que existem outros motivos que explicam o sucesso de Adani.
Uma dessas razões é sua relação com o atual primeiro-ministro do país, o nacionalista hindu Narendra Moodi, com quem mantém uma relação próxima desde a época em que era governador do Estado de Gujarat (2001-2014), onde Adani nasceu e onde estão as sedes de suas empresas.
"Ele obteve tratamento preferencial do Estado", disse o pesquisador Hemidra Hazari à rede americana CNBC.
Em 2019, Adani ganhou o contrato para administrar seis aeroportos no país, apesar de não ter experiência nesta área.
"Na Índia, está ocorrendo algo parecido com o que aconteceu com os oligarcas russos, após a dissolução da União Soviética, que enriqueceram com a privatização de antigas propriedades soviéticas enormes, conglomerados e monopólios setoriais, graças a seu acesso aos líderes", acrescentou Hazari.
Além disso, Adani tem sido um importante financiador do Bharatiya Janata, o partido de Moodi.
E prova disso é que, quando o primeiro-ministro chegou ao poder em 2014, ele usou o avião do magnata para voar de Gujarat a Nova Déli, a capital do país, para assumir o cargo, informou o jornal britânico Financial Times em novembro de 2020.
Com o aval do governo, Adani agora quer se aventurar em outra área: as comunicações. Em agosto, fez uma oferta para adquirir 26% da New Delhi Television (NDTV), a principal emissora de notícias do país.
Alguns no país veem isso como mais um passo que favorece as chances de Moodi, face as eleições gerais de 2024.
As conexões de Adani com o poder político indiano também parecem tê-lo protegido das turbulências financeiras que a invasão russa da Ucrânia causou. A razão? O governo Moodi se recusou a impor sanções a Moscou e, em resposta, o Kremlin decidiu vender à Índia seu petróleo e gás com desconto.
Essa política explicaria por que Adani é um dos poucos bilionários que viu o valor de suas empresas subir nos últimos meses.
Neste ano, o preço das ações da Aldani Power, a divisão de energia do grupo, subiu 293%, enquanto da Adani Gas aumentou 146%, de acordo com os relatórios da Bloomberg.
- Este texto foi publicado originalmente em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63584455
Fonte: correiobraziliense
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