O britânico Bingo Allison, 36 anos, tornou-se a primeira pessoa não binária a virar padre no Reino Unido, após ser nomeado por uma igreja localizada em Liverpool, na Inglaterra. Ele afirma que conheceu o conceito do gênero neutro em 2016.
Em entrevista ao Liverpool Echo, Bingo Allison conta que durante sua trajetória religiosa conheceu cristãos gays "incríveis e fiéis", o que o fez perceber que deveria se distanciar da criação conservadora que condena homossexuais ao inferno.
“Meu ponto de vista costumava ser muito tradicional e conservador”, afirmou. “Eu não tinha tempo para aprender com as experiências de outras pessoas. Eu estava em negação e parte disso resultou na negação da identidade de outras pessoas”, concluiu.
Em 2016, Bingo conheceu o conceito de gênero neutro, quando começou a se perceber como pessoa não binária.
“’Sair do armário’ foi muito mais difícil do que eu pensava que seria. Definitivamente, muitas vezes eu questionei minha identidade, mas crescer em um ambiente cristão conservador era um desafio além da minha imaginação. Eu não conhecia nenhuma pessoa trans e devo ter conhecido apenas dois gays na minha vida. Então era quase como um ‘outro planeta’ para mim”, relatou.
Foi relendo o capítulo 1, versículo 27, do livro de Gênesis, da Bíblia, que fala da “masculinidade para a feminilidade” em oposição a homens e mulheres, que Allison começou a mudar sua percepção sobre a identidade de gênero.
“Eu estava rezando no meio da noite quando percebi que talvez precisasse virar minha vida ‘de cabeça para baixo’. Foi uma experiência espiritual de aprofundamento, senti corretamente que Deus estava me guiando para esta nova verdade sobre mim mesmo. Uma das coisas que mantive em meu ministério é que tanto a transição quanto a saída do armário devem ser uma experiência espiritual, bem como emocional e social e, às vezes, física. Há algo de belo em crescer como fomos criados para e ser em nosso ‘eu’ autêntico”, relatou.
Allison afirma ter grande admiração pela geração mais jovem da comunidade LGBTQIA+ por eles serem bem resolvidos sobre quem são.
“Eu tento me envolver, não apenas no meu trabalho religioso, mas fora dele, com os grupos locais de jovens LGBT seculares. Uma das maiores coisas é apenas ser uma representação visual na minha comunidade e ir às escolas, fazer assembleias e fazer uma grande diferença em normalizar isso para as crianças. Quando estou usando meu colarinho, as crianças sabem que está tudo bem e que há um lugar na igreja e no mundo exterior para pessoas como eu”, conta.
Em uma entrevista para o livro O poder da vocação, do padre espanhol Fernando Prado, em 2018, o Papa Francisco afirma que o importante é viver o celibato.
“Aos padres, religiosos e religiosas homossexuais, é preciso encorajá-los a viver integramente o celibato e, sobretudo, a serem requintadamente responsáveis, procurando nunca escandalizar nem as suas comunidades, nem o santo povo fiel de Deus, vivendo uma vida dupla”, disse o papa. “É melhor que deixem o ministério ou sua vida consagrada antes de viver uma vida dupla.”
Ao mesmo tempo, Francisco afirmou que "a questão da homossexualidade é muito séria", completando que os responsáveis por formar novos padres devem observar se os candidatos são "humanos e emocionalmente maduros" antes de serem ordenados.
"Por essa razão, a Igreja pede que pessoas com essa tendência enraizada não sejam aceitas no ministério [sacerdotal] ou na vida consagrada", afirmou.
Alguns padres foram perseguidos e afastados pelo Vaticano após se declararem gays publicamente. Foi o caso do polonês Krzysztof Charamsa, o primeiro sacerdote de alto escalão a tomar a atitude. Ele atuava na Congregação para a Doutrina da Fé quando decidiu assumir sua opção sexual em 2015, durante uma entrevista.
“Fui proibido de exercer o ministério e de lecionar teologia, mas nunca houve um julgamento, nem tive a oportunidade de me defender”, contou Charamsa em uma entrevista à revista Veja.
Na década de 1980, o irlandês Bernárd Lynch foi afastado de suas funções quando decidiu se assumir homossexual para seus superiores. Ele integrava um movimento de combate à aids em Nova York.
“Fui removido da minha paróquia e deixei de receber auxílio financeiro. Mas continuo atuando como padre”, contou Lynch à Veja, que, aos 74 anos, vive com o parceiro em Londres e comanda grupos de apoio a católicos da comunidade LGBT.
Já o britânico James Alison, um padre gay que morou 10 anos no Brasil, foi processado pela Arquidiocese de São Paulo por tentar criar a primeira pastoral LGBT. Ele conta que recebeu um telefonema de apoio do Papa. “As palavras exatas dele foram: ‘Quero que caminhes com plena liberdade interior, no espírito de Jesus’”, relatou.
Em 2013, o papa Francisco chegou a dizer: “Quem sou eu para julgar?”, ao ser indagado em um voo do Rio de Janeiro para Roma ao final da Jornada Internacional da Juventude. Em gravação para um documentário, ele defendeu a criação de leis para facilitar a união civil — não o casamento — de pessoas do mesmo sexo.
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Fonte: correiobraziliense
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