21 de Novembro de 2024

John Wesley: o pastor anglicano que, sem querer, criou uma nova igreja


De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são apenas 341 mil aqueles que seguem a Igreja Metodista no Brasil. As raízes dessa religiosidade vieram do outro lado do Atlântico, na Inglaterra — mas a igreja tomou forma mesmo nos Estados Unidos.

Considerado o líder precursor, o clérigo e teólogo John Wesley (1703 Epworth-1791 Londres - ambas na Inglaterra) nasceu e morreu anglicano. E, curiosamente, nunca teve a intenção de criar uma nova igreja.

"Até o final da vida ele não se via separado da Igreja Anglicana. E não estimulava seus seguidores a romperem com ela", comenta à BBC News Brasil o historiador, teólogo e filósofo Gerson Leite de Moraes, professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie.

"Wesley não criou uma nova igreja. Ele era da Igreja da Inglaterra - como mais tradicionalmente ele chamava a Igreja Anglicana -, filho de anglicanos, seu pai era pastor anglicano, sua mãe filha de pastor anglicano, seus avós e bisavós eram ligados à igreja", acrescenta à reportagem o historiador e teólogo Vinicius Couto, doutor em ciências da religião pela Universidade Metodista de São Paulo, presbítero da Igreja do Nazareno e professor do Seminário Teológico Nazareno do Brasil e do Seminário Batista Livre.

A Igreja Metodista nasceu fruto de um movimento criado por Wesley. Mas só se tornou uma denominação independente por conta de um episódio político: no caso, a independência dos Estados Unidos.

Couto explica que o movimento capitaneado por Wesley era o que se costuma chamar de paraeclesiástico, ou seja, um grupo paralelo à igreja da qual eles participavam. Cresceu e passou a contar com muitos adeptos, tanto na Inglaterra onde se originou como nas colônias inglesas na América do Norte, para onde emigraram muitos de seus adeptos.

Contudo, após aquele 4 de julho de 1776, quando os Estados Unidos se tornaram um país livre das amarras coloniais, a ruptura institucional com a Inglaterra também teve consequências religiosas.

"No corte de todo o tipo de relacionamento com as ex-colônias, muitas igrejas nos Estados Unidos, estabelecidas de maneiras rústicas em templos improvisados, foram crescendo e ficando sem pastores para administrar os sacramentos, sem presbíteros ordenados [pela Igreja Anglicana]", diz Couto.

Foi para não deixar esse povo desassistido que Wesley, à distância acompanhando o movimento que se espalhava por terras americanas, decidiu que era preciso viabilizar uma maneira para que sacerdotes fossem ordenados lá.

"Então ele viu a necessidade de autorizar, pessoalmente, orando por pessoas que trabalhavam com ele na sociedade metodista, esses novos presbíteros", prossegue o professor.

O especialista explica que ocorreu uma corrente, em que um presbítero passou a orar pelo candidato a tal, e com isso novos sacerdotes foram ordenados. E assim por diante.

De modo que a intenção de Wesley, lá na Inglaterra, chegou até as terras norte-americanas. E os metodistas passaram a ganhar os primeiros presbíteros propriamente metodistas.

A Igreja Metodista foi organizada oficialmente em solo norte-americano no Natal de 1784. Na Inglaterra, onde o movimento nasceu, essa cisão do seio anglicano só ocorreria após a morte de Wesley — uma ala formalizou a separação em 1795, outra em 1797.

"John Wesley nunca abandonou a Igreja Anglicana", enfatiza Couto.

Moraes ainda lembra que havia outra questão legal que "forçava" os metodistas a se assumirem como uma nova denominação religiosa, em vez de seguirem como um grupo paraeclesiástico.

"Havia uma lei inglesa do século 17 que permitia a existência de outras denominações que não a anglicana desde que se reconhecessem como outras denominações. Assim, os seguidores de Wesley se viam numa situação delicada: não queriam se separar da Anglicana mas, ao mesmo tempo, para existirem enquanto grupo precisavam se reconhecer como um agrupamento à parte", explica o historiador.

Para entender as origens do movimento criado pelo religioso é preciso retornar à sua própria biografia e ao contexto de sua época. Wesley viveu em um período conturbado, em que as consequência da primeira Revolução Industrial eram vistas nas ruas das grandes cidades inglesas. A urbanização havia crescido e, ao mesmo tempo, desempregados, mendigos e criminosos passavam a fazer parte da paisagem cotidiana.

Ao mesmo tempo, Wesley notava que o cristianismo estava em baixa. Passou a infância em Epworth, na região leste da Inglaterra, onde nasceu. Foi alfabetizado pela mãe, uma religiosa compenetrada que usava o livro bíblico dos Salmos como apostila para educar os 19 filhos — Wesley foi o 15º.

Depois de concluir o ensino básico em uma escola pública, ele foi mandado para a Universidade de Oxford, onde se prepararia para, um dia, assumir o papel que tradicionalmente cabia aos de sua família: ou seja, tornar-se ele também um sacerdote anglicano.

Fonte: correiobraziliense

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