Fortes bombardeios atingiram a capital sudanesa, Cartum, neste sábado (29/4), quando combates ferozes entre o exército e paramilitares entraram em sua terceira semana, apesar da extensão de uma frágil trégua.
A violência no Sudão eclodiu em 15 de abril entre as tropas do general Abdel Fatah al Burhan, líder de fato do país desde o golpe de 2021, e as paramilitares Forças de Apoio Rápido (FAR), comandadas pelo general Mohamed Hamdan Daglo.
Burhan e Daglo concordaram com várias tréguas desde o início do conflito, mas nenhuma se manteve, com cada lado culpando o outro por violá-las.
Apesar de um novo cessar-fogo de três dias, acordado na quinta-feira com a mediação dos Estados Unidos, Arábia Saudita, União Africana e ONU, os combates continuam na capital e em outras regiões do país.
"Acordamos mais uma vez com o barulho de aviões de combate e armas antiaéreas em todo o nosso bairro", disse à AFP um morador do sul de Cartum.
Outra testemunha afirmou que os combates aconteciam desde o início do sábado, principalmente em torno da sede do canal público de televisão na cidade de Omdurman, perto de Cartum. Os habitantes que não conseguiram fugir estão trancados em suas casas há semanas e enfrentam escassez de comida e água.
Em entrevista à rede americana Alhurra, Burhan descreveu a milícia FAR como um grupo que busca "destruir o Sudão" e disse que "mercenários" estão chegando do Chade, da República Centro-Africana e do Níger para se aproveitar do caos. Daglo rotulou seu rival como "traidor" que "não é digno de confiança" em entrevista à BBC.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, voltou a pedir a cessação imediata dos combates e apoiou os esforços de mediação liderados por africanos. “Não há direito de continuar lutando pelo poder quando o país está desmoronando”, disse Guterres ao canal Al Arabiya.
Até agora, os combates deixaram pelo menos 512 mortos e 4.193 feridos, segundo o Ministério da Saúde. Dezenas de milhares de sudaneses fugiram para países vizinhos, incluindo Egito, Etiópia, Chade e Sudão do Sul, enquanto países estrangeiros realizaram evacuações em massa de seus cidadãos.
O Programa Alimentar Mundial (PAM) alertou que a violência pode agravar as carências de milhões de pessoas neste país onde, em tempo de paz, um terço da população precisava de ajuda para evitar a fome.
Segundo a ONU, pelo menos 96 pessoas foram mortas na cidade de El Geneina, na região de Darfur do Oeste, nesta semana. "O que está acontecendo em Darfur é terrível, a sociedade está desmoronando", disse Guterres.
Segundo a Médicos Sem Fronteiras (MSF), há saques generalizados, destruição e incêndios de propriedades, inclusive em campos para deslocados. Os combates obrigaram a agência a interromper quase todas as suas atividades na região.
Fonte: correiobraziliense
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