23 de Novembro de 2024

Turquia decide neste domingo se Erdogan continuará no poder


crédito: Ozan Kose/AFP

Recep Tayyip Erdogan chega às urnas, hoje, como favorito para se consolidar no poder — há 3.195 dias, ele está no comando da Turquia, sob o regime presidencialista; e há 7.3780, se considerado o período em que foi primeiro-ministro. Candidato do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), o presidente, de 69 anos, recebeu o apoio do ultranacionalista Sinan Ogan, do Partido de Ação Nacionalista (MHP) e terceiro colocado no primeiro turno, com 5,28% dos votos.

Para permanecer por mais cinco anos no Cumhurbakanl Külliyesi, o Complexo Presidencial, Erdogan terá que repetir a façanha de duas semanas atrás e vencer o social-democrata Kemal Kiliçdaroglu, 74, do Partido Republicano do Povo (CHP). No primeiro turno, o chefe de Estado teve 49,24% dos votos contra 45,07% de Kiliçdaroglu. O adversário de Erdogan obteve o aval de Umit Ozdag, do Partido da Vitória, anti-imigração, que ficou com  2,2%.

Como estratégia para galvanizar apoio e tentar reverter uma tendência em favor de Erdogan, Kiliçdaroglu busca votos em todos os cantos. Nos últimos dias, focou-se em conquistar a adesão das donas de casa, uma das principais bases de suporte eleitoral do presidente.

O discurso do opositor se concentra na crise econômica que impacta a Turquia e se reflete no custo de vida. A desvalorização constante da lira turca e a inflação galopante afetaram a rotina das mulheres. A missão de Kiliçdaroglu esbarra no ativismo de Emine Erdogan. A esposa do presidente tem sido protagonista em alavancar o apoio feminino ao marido. O voto das mulheres é usado como arma desde 1994, quando Erdogan elegeu-se prefeito de Istambul.

Na última quinta-feira, o líder turco ampliou os ataques a Kiliçdaroglu. "Ninguém jamais se sentou com o presidente do CHP e saiu sem conseguir mais do que queria", ironizou Erdogan, em uma publicação no Twitter, onde mantém 20,5 milhões de seguidores. "O presidente do CHP cometeu inconsistências sem precedentes na história nos últimos quatro meses apenas para proteger seu cargo", acrescentou, ao acusar o rival de cooperar com organizações terroristas. "Nossa nação pedirá que você preste contas deles em 28 de maio nas urnas", concluiu, em um recado direto ao social-democrata. Um dia antes, Kiliçdaroglu usou a mesma rede social para avisar: "Nós fecharemos as portas do inferno".

Para Gul Berna Özcan, especialista em Turquia da Universidade de Londres, o primeiro turno das eleições, realizado duas semanas atrás, não produziu nenhum candidato vitorioso à Presidência do país. "O AKP perdeu muitos de seus assentos no Parlamento, mas ainda se saiu como a principal força política. Kilicdaroglu liderava em muitas pesquisa antes das eleições; por isso, o resultado foi algo surpreendente", admitiu ao Correio, por e-mail.

Ela lembra que, apesar de ter liderado a votação, Erdogan não conseguiu ultrapassar a marca dos 50% dos  votos, o que lhe daria a eleição imediata. "Há várias acusações de intimidação de eleitores e de fraude. O presidente, no entanto, entra na próxima rodada com vantagem, pois assegurou o apoio de Sinan Ogan."

Özcan aposta que Kiliçdaroglu segue no páreo, com chances de virar a disputa. Uma das estratégias para lograr a vitória seria aumentar o comparecimento às urnas, uma manobra que visa consolidar a oposição a Erdogan. "Kiliçdaroglu garantiu o apoio de um partido nacionalista pequeno, porém importante, que fazia parte da coalizão de Ogan. É altamente incerto, mas isso pode desviar votos nacionalistas que iriam para Erdogan. A principal motivação dessa recente mudança de foco é o ressentimento público contínuo em relação a milhões de migrantes ilegais no país", comentou. 

A especialista de Londres antecipa que o grande desafio de Erdogan será superar o risco eleitoral representado pela corrupção arraigada e pelo desempenho econômico pífio. Özcan admite que o presidente tem sido exitoso em controlar o humor da opinião pública no que diz respeito à inflação elevada e ao real declínio do poder aquisitivo. "As reservas do banco central turco estão em negativo, e mesmo com o apoio financeiro da Rússia e do Golfo Pérsico, Erdogan não conseguirá girar a roda da economia por muito tempo. Então, uma eventual reeleição representará o início de uma nova rodada de turbulência no país. Não existe uma política clara à vista para uma nova era Erdogan."

Ao contrariar os bons prognósticos das pesquisas para o primeiro turno — algumas sondagens indicavam a possibilidade de eleição imediata de Kiliçdaroglu —, a oposição, por sua vez, se decepcionou com os resultados e perdeu fôlego. Özcan prevê que, caso Kiliçdaroglu não consiga a vitória hoje, a coalizão antigovernamental entrará em crise. "Eu antevejo algumas mudanças de liderança nesses partidos, inclusive em seu próprio CHP", admitiu. Um cenário capaz de deixar Erdogan em uma situação ainda mais confortável.

"Se Erdogan ganhar nas eleições de hoje, ele poderá adotar posições ainda mais linhas-duras sobre as liberdades e os direitos das mulheres. Isso porque a sua coalizão política conta, agora, com partidos islâmicos radicais, entre os quais o Hezbollah Curdo. Ao mesmo tempo, ele poderá achar difícil manter seus parceiros de coalizão unidos. A ampla aliança pode causar atritos entre o seu partido AKP e o ultranacionalista e secular Partido de Ação Nacionalista (MHP)."

Gul Berna Özcan, especialista em Turquia da Universidade de Londres

Fonte: correiobraziliense

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