A apneia obstrutiva do sono faz a respiração de uma pessoa parar e reiniciar repetidamente enquanto ela dorme. Monitorar e avaliar esse distúrbio, no entanto, pode ser incômodo — os aparelhos disponíveis, em sua maioria, são grandes e cheios de fios. Cientistas do Instituto de Tecnologia da Geórgia, nos Estados Unidos, desenvolveram adesivos vestíveis que funcionam de forma wireless como uma alternativa mais confortável e barata. A ideia é que os dispositivos, que podem ser usados em casa, diminuam a necessidade do paciente de ir a um centro médico para realizar um exame de sono.
Descritos na revista Science Advances, em maio, os monitores sensíveis, com espessura de um curativo adesivo, conseguem detectar a apneia do sono com uma taxa de 88,5% de precisão. Eles são feitos de silicone e podem ser encaixados na testa e no queixo do usuário. Três sensores eletrônicos captam dados sobre atividade cerebral, ocular e muscular e enviam, via Bluetooth, para um aplicativo de celular. "O sistema baseado em inteligência artificial (IA) vai monitorar os dados em tempo real e fornecer um relatório sobre a qualidade do sono e os distúrbios", explica Woon-Hong Yeo, líder do estudo.
Ainda segundo o pesquisador, a tecnologia é prática para coletar informações de forma confortável. "Um usuário só precisa, em casa, anexar os adesivos ao rosto. Em seguida, um tablet com o software medirá automaticamente os dados, durante o sono, sem fios e técnicos", detalha. Além de registrar as informações, o dispositivo vestível fornece, por meio de IA, uma pontuação de sono que determina se o usuário tem apneia ou dorme com qualidade.
Na avaliação de Jéferson Nobre, professor do Instituto de Informática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e membro do Instituto dos Engenheiros Elétricos e Eletrônicos (IEEE), a tecnologia tem potencial para diagnosticar precocemente o distúrbio. "Os algoritmos de inteligência artificial e aprendizagem de máquina associados podem encontrar padrões não perceptíveis por um médico. Esse tipo de algoritmo permite, inclusive, que se consiga prever se uma pessoa pode ter algum desses distúrbios", explica.
O método atual de monitoramento do sono é chamado teste de polissonografia. Segundo Aliciane Mota Guimarães, otorrinolaringologista do Hospital Brasília, ele pode ser desconfortável, uma vez que as pessoas devem ir a um centro médico para serem avaliadas durante a noite. "Alguns pacientes têm dificuldade de dormir fora do próprio ambiente, e eles alegam que isso ocorre porque precisam dormir em uma cama diferente", conta. Segundo a médica, a série de sondas com fio do aparelho na cabeça, no peito e nas pernas também contribui para deixar o exame desconfortável.
Guimarães acredita que o monitoramento feito dentro de casa poderá levar a um aumento no número de diagnósticos da doença. "A própria pessoa poderá montar um aparelho e, ao menos, fazer uma espécie de triagem para, depois, fazer um exame mais específico. É uma excelente oportunidade de fechar diagnósticos que, em outros tempos, passariam despercebidos", completa.
Outra vantagem do aparelho, de acordo com Woon-Hong, é o fato de ser de baixo custo e mais acessível. "Utilizamos um processo de fabricação escalável para fabricar dispositivos, o que os torna econômicos. Além disso, os componentes eletrônicos necessários são mínimos. O custo total seria inferior a US$ 10 por aparelho", detalha.
A equipe busca, agora, ampliar os usos da inovação médica para atender a outras demandas de monitoramento. "Estamos trabalhando para melhorar a confiabilidade para que um único dispositivo possa ser usado para vários usos, economizando dinheiro para os usuários", explica Woon-Hong.
"A polissonografia é um exame mais caro, que não tem fácil acesso. E o equipamento proposto pelos cientistas é mais simples, menos dispendioso e mais barato. Além disso, o paciente poderá monitorar, de casa, se a apneia e a oxigenação no sangue estão controladas. Isso é importante porque nem sempre se tem acesso imediato ao médico. O usuário vai conseguir se sentir mais seguro tendo um dispositivo simples para mostrar que o ronco, a apneia dele e a oxigenação estão controlados."
Mohamad Bahmad, otorrinolaringologista do Hospital Anchieta
*Estagiária sob a supervisão
de Carmen Souza
Fonte: correiobraziliense
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