A maioria das pessoas conhece distúrbios psiquiátricos como a esquizofrenia e o transtorno bipolar. Mas existem algumas condições tão incomuns que muitos psiquiatras não encontrarão um único caso em toda a sua vida profissional.
Aqui, apresento cinco das síndromes mais raras — e estranhas — conhecidas pela psiquiatria.
A síndrome de Fregoli acontece quando alguém acredita que pessoas diferentes, na verdade, são a mesma pessoa que simplesmente muda de aparência. Pessoas com esta síndrome costumam sentir-se perseguidas por quem elas acreditam estar disfarçada.
O nome do distúrbio vem do ator de teatro italiano Leopoldo Fregoli (1867-1936), que ficou conhecido pela sua notável capacidade de mudar de aparência rapidamente no palco.
A síndrome de Fregoli ocorre tipicamente em conjunto com outros distúrbios mentais, como o transtorno bipolar, a esquizofrenia e o transtorno obsessivo-compulsivo. Ela pode também ser causada por lesões cerebrais e pelo uso da droga levodopa, durante o tratamento de mal de Parkinson.
Um estudo de 2018 concluiu que menos de 50 casos foram relatados em todo o mundo desde a descoberta desta condição. Mas um estudo mais recente, de 2020, relatou incidência de 1,1% entre pacientes que sofreram AVC. Por isso, certamente são mais de 50 casos, mas ainda é algo muito raro.
Não existe cura conhecida para a síndrome de Fregoli, mas o tratamento com drogas antipsicóticas pode reduzir os sintomas.
A síndrome de Cotard, também conhecida como "síndrome do cadáver ambulante", ocorre quando as pessoas têm a crença ilusória de que estão mortas e não existem. Outras acreditam que partes do seu corpo estão faltando.
O nome da síndrome vem do neurologista francês Jules Cotard (1840-1889), que descreveu a condição pela primeira vez em 1882.
A esquizofrenia, a depressão e o transtorno bipolar são fatores de risco para a síndrome de Cotard. Mas ela também foi relatada como um raro efeito colateral do medicamento antiviral aciclovir.
Acredita-se que a síndrome seja originada da desconexão entre as regiões do cérebro que reconhecem os rostos e as regiões que associam o conteúdo emocional a esse reconhecimento facial.
Esta condição rara normalmente é tratada com antidepressivos, antipsicóticos e estabilizadores do humor, além de terapia eletroconvulsiva.
A síndrome da mão alienígena é um dos distúrbios neurológicos mais estranhos que existem.
Ela ocorre quando a mão de uma pessoa e age de forma autônoma. A sensação da pessoa é que sua mão não lhe pertence.
Esta síndrome foi identificada pela primeira vez em 1908, mas só foi definida claramente no início dos anos 1970.
A expressão "síndrome da mão alienígena" foi cunhada pelo neurofisiologista norte-americano Joseph Bogen (1926-2005), para descrever um comportamento voluntarioso incomum, observado ocasionalmente durante a recuperação de certos tipos de cirurgia cerebral.
As pessoas que sofrem da síndrome da mão alienígena tipicamente possuem transtornos do processamento sensorial e se dissociam das ações da sua mão.
Pesquisas indicam que as pessoas com a síndrome frequentemente personificam a mão alienígena e podem acreditar que ela está possuída por algum outro espírito ou forma de vida extraterrestre.
As causas da síndrome incluem demência, AVC, doença de príon (uma doença cerebral fatal), tumores e convulsões. Casos de síndrome da mão alienígena também foram relatados entre pacientes que passaram por cirurgia para separar os hemisférios direito e esquerdo do cérebro, no tratamento de epilepsia grave.
A síndrome é muito rara. Uma análise de 2013 encontrou apenas 150 casos nas publicações médicas.
Embora não haja cura conhecida para a síndrome da mão alienígena, os sintomas podem ser gerenciados e minimizados, até certo ponto, mantendo a mão afetada ocupada e envolvida em uma tarefa — dando um objeto para que ela segure, por exemplo.
Outros tratamentos incluem injeções de toxina botulínica e terapia de caixa de espelhos. Pacientes com caso de AVC costumam apresentar melhor sucesso no tratamento.
A síndrome de Ekbom é uma alucinação tátil que faz com que as pessoas acreditem que estão infestadas por parasitas. Muitas vezes, elas sentem insetos rastejando sob a sua pele.
A síndrome recebeu o nome do neurologista sueco Karl Ekbom (1907-1977), que descreveu a condição pela primeira vez no final dos anos 1930.
O número exato de pessoas que sofrem desta síndrome é desconhecido, mas um estudo relatou que existem cerca de 20 novos casos por ano em uma grande clínica de referência nos Estados Unidos.
Segundo uma meta-análise de 1.223 casos de Ekbom, a síndrome é mais comum entre as mulheres (que representam dois terços dos pacientes) e em pessoas com mais de 40 anos. Os sintomas duram tipicamente de três a quatro anos.
A síndrome de Ekbom é associada a diversas condições, incluindo esquizofrenia paranoide, doença cerebral orgânica, neurose e transtorno de personalidade paranoide. Ela também foi relatada em pessoas com abstinência de álcool, abuso de cocaína, AVC, demência e lesões em uma parte do cérebro chamada tálamo.
Os pacientes que sofrem da síndrome de Ekbom, muitas vezes, não querem receber tratamento psicológico porque estão convencidos de que o problema exige tratamento médico.
Na síndrome de Alice no País das Maravilhas, também conhecida como síndrome de Todd, a sensação de imagem do corpo, visão, audição, tato e espaço/tempo da pessoa estão distorcidos.
Pessoas com a condição tipicamente observam objetos como se fossem menores do que a realidade e as pessoas parecem maiores do que são. Ou o contrário: os objetos são percebidos como maiores do que são e as pessoas parecem menores.
Estas experiências podem ser acompanhadas por sensações de paranoia.
Pouco se sabe sobre a incidência deste distúrbio, que afeta principalmente crianças e pessoas que sofrem de enxaqueca.
As pessoas com a condição podem ficar assustadas e entrar em pânico. Por isso, o tratamento bem sucedido, muitas vezes, inclui repouso e relaxamento.
Na maioria dos casos, é uma condição que dura relativamente pouco tempo. O estudo mais recente sobre a síndrome de Alice no País das Maravilhas relatou que cerca da metade dos pacientes são tratados com sucesso.
*Mark Griffiths é diretor da Unidade Internacional de Pesquisa em Jogos e professor de Dependência Comportamental da Universidade Trent de Nottingham, no Reino Unido.
Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado sob licença Creative Commons. Leia aqui a versão original em inglês.
Fonte: correiobraziliense
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