21 de Novembro de 2024

O segredo do musgo, ancestral de todas as plantas e vital para o planeta


crédito: Reprodução/Pixabay

Quando as pessoas pensam em plantas extraordinárias, dificilmente elas se lembram do musgo.

Os musgos se misturam no ambiente verde da vida vegetal e parecem crescer em toda parte, quer você queira ou não.

Mas este grupo de plantas – que, na verdade, compreende de 12 mil a 15 mil espécies – é surpreendente. Sua resiliência quase única permite que eles cresçam em praticamente todos os lugares da Terra.

Os musgos ajudam os cientistas a entender a evolução da vida e formam um dos grupos vegetais mais antigos ainda vivos.

Um estudo recente de uma equipe australiana descobriu que os musgos são a força vital dos habitats em todo o mundo, melhorando as plantas e o solo em quase todos os lugares onde crescem.

Mas, apesar da sua importância, o musgo é muitas vezes menosprezado devido ao seu tamanho diminuto. Os musgos menores, conhecidos como micromusgos, medem apenas alguns milímetros de comprimento.

E até o maior musgo do mundoDawsonia superba, uma espécie nativa da Austrália, Nova Zelândia e das ilhas do Pacífico – atinge apenas 50 cm de altura.

É um gigante entre os musgos, mas ainda é menor do que a média das plantas domésticas.

A verdade é que os musgos ajudam a sustentar ecossistemas inteiros.

A contribuição do musgo para a estrutura e o funcionamento dos ecossistemas modernos, muitas vezes, é ignorada. Nosso conhecimento sobre as plantas mais complexas é muito maior.

O estudo australiano examinou detalhadamente a relação entre os musgos e os seus habitats, e concluiu que eles são fundamentais para a saúde do solo.

Os pesquisadores recolheram amostras de musgo de ecossistemas de todo o mundo, desde as florestas tropicais até os ambientes polares e áridos desertos.

E, combinando as descobertas obtidas com essas amostras e a análise de pesquisas anteriores, seus resultados demonstraram que os musgos são fundamentais em todos os habitats onde são encontrados.

Os musgos armazenam enormes quantidades de carbono e ajudam no ciclo de nutrientes do solo e na decomposição de matéria orgânica.

Os musgos podem até auxiliar no resgate de ecossistemas desestabilizados.

Pesquisas na área em volta do vulcão do Monte Santa Helena, nos Estados Unidos, concluíram que os musgos foram uma das primeiras formas de vida a reaparecer após uma erupção devastadora no início dos anos 1980.

Alguns tipos de musgo, incluindo as espécies do gênero Sphagnum, absorvem e retêm água nos seus tecidos. Isso regula o fluxo de água na região, evitando enchentes e criando habitats de turfa que abrigam plantas e animais raros.

Os musgos também fornecem habitats únicos para a vida microscópica. Os tardígrados, por exemplo, são microanimais de oito pernas, também conhecidos como ursos-d’água.

Em inglês, eles são chamados de "ursos-do-musgo", pois vivem escalando "selvas" de musgo em busca de alimento.

Os tardígrados são quase indestrutíveis e podem sobreviver até no espaço, entrando em um estado parecido com a morte chamado criptobiose.

O musgo, as hepáticas e os antóceros fazem parte de um grupo de plantas conhecidas como briófitas.

Elas evoluíram há mais de 400 milhões de anos e ainda apresentam muitas características comuns com as primeiras plantas que surgiram na superfície terrestre do planeta, como seu pequeno tamanho e a falta de raízes verdadeiras.

E, ao contrário da maioria das plantas, os musgos não têm uma coluna contínua de água que flui no seu interior por meio do xilema e do floema – da mesma forma que algumas das plantas mais antigas da história da Terra.

Em vez disso, essas plantas minúsculas têm seus próprios sistemas condutores para mover substâncias pelos seus corpos.

Elas absorvem água e nutrientes da água da chuva e depósitos de poeira na sua superfície. E suas "raízes" parecidas com cabelos, chamadas rizoides, fixam os musgos à superfície onde eles crescem.

A capacidade dos musgos de sobreviver em ambientes hostis quase não tem paralelos. Por isso, eles são excelentes para estudar a evolução das plantas, que ocorreu, em grande parte, em condições inóspitas no planeta.

O estudo da genética e da fisiologia dos musgos e das outras briófitas modernas forneceu aos pesquisadores informações sobre as adaptações que permitiram que as plantas fizessem a transição da água para a terra, como a formação de parcerias com os fungos para ter acesso aos nutrientes do solo, por exemplo.

Sua incrível resistência a tensões ambientais como a seca e a radiação ultravioleta também foi fundamental para desenvolver sua capacidade de evoluir na terra.

Uma das características mais importantes dos musgos terrestres é a sua tolerância à quase completa desidratação.

Quando a água é escassa, os musgos podem entrar em um estado de animação suspensa, o que reduz muito sua atividade metabólica, permitindo que eles sobrevivam até que as condições melhorem.

Algumas espécies, como o musgo do deserto Syntrichia caninervis, podem sobreviver por cem anos nesse estado dormente e "renascer" em questão de horas após serem umedecidos novamente.

O estudo dos mecanismos desta capacidade nas plantas modernas ajuda os cientistas a entender como as plantas antigas podem ter se adaptado à terra.

É possível que o estudo da tolerância à desidratação dos musgos possa ajudar os cientistas a descobrir novas formas de proteger safras agrícolas contra secas extremas no futuro.

Estas plantas minúsculas também estão interligadas com a história humana.

Desde as propriedades antissépticas do musgo para a cura de feridas até o uso do musgo Dicranum scoparium para alívio da prisão de ventre, os musgos vêm desempenhando papel substancial na redução do sofrimento humano.

Por tudo isso, talvez devêssemos pensar duas vezes antes de arrancar musgos do gramado.

Em vez disso, dedique um momento para contemplar a beleza natural de suas delicadas gavinhas verdes – e sua história como um dos exploradores mais destemidos da história do planeta.

*Katie Field é professora de processos entre as plantas e o solo da Universidade de Sheffield, no Reino Unido.

Silvia Pressel é chefe de pesquisa de ciências da vida do Museu de História Natural de Londres.

Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado sob licença Creative Commons. Leia aqui a versão original em inglês.

Fonte: correiobraziliense

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