O Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) decidiu manter os juros básicos no intervalo de 5% a 5,25% ao ano, conforme comunicado do comitê de política monetária da instituição (Fomc, na sigla em inglês). A decisão foi unânime e analistas não apostam em queda dos juros neste ano pelos sinais dados pelo órgão.
“Indicadores recentes sugerem que a atividade econômica segue crescendo em ritmo modesto. Os ganhos de empregos foram robustos nos últimos meses e a taxa de desemprego permaneceu baixa. A inflação continua elevada”, destacou a entidade no comunicado.
“O Fomc busca alcançar o máximo de emprego, com a inflação em 2% ao ano, no longo prazo”, foi a justificativa da decisão, acrescentando que “está fortemente empenhado em retornar a inflação ao seu objetivo de 2%”. “Manter o intervalo da meta estável nesta reunião permite ao Comitê avaliar informações adicionais e suas implicações para a política monetária. Ao determinar a extensão do endurecimento adicional da política que pode ser apropriado para retornar a inflação a 2% ao longo do tempo, o Comitê levará em conta o aperto cumulativo da política monetária, os atrasos com os quais a política monetária afeta a atividade econômica e a inflação e os fatores econômicos e desenvolvimentos financeiros”, acrescentou o documento.
O Comitê ainda informou que continuará enxugando a liquidez do mercado, reduzindo as participações do Fed em títulos do Tesouro e dívidas de agências e títulos lastreados em hipotecas de agências, conforme descrito em seus planos anunciados anteriormente.
Ao avaliar a orientação apropriada da política monetária, o Fomc disse que continuará monitorando as implicações das informações recebidas para as perspectivas econômicas. "O Comitê estaria preparado para ajustar a orientação da política monetária conforme apropriado caso surgissem riscos que pudessem impedir o alcance de suas metas. As avaliações do Comitê levarão em conta uma ampla gama de informações, incluindo leituras sobre as condições do mercado de trabalho, pressões inflacionárias e expectativas de inflação, e desenvolvimentos financeiros e internacionais", informou a nota.
Na avaliação de Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, apesar de a manutenção dos juros pelo Fed ser esperada pelo mercado, houve "mudanças importantes" na decisão de hoje. Manutenção “As projeções, aquele material que eles divulgam a cada três meses, vem um pouco mais forte do que o projeto do que o esperado, porque o banco central norte-americano coloca 5,6% para os juros no fim deste ano, isso significa que o Fed poderia realizar uma ou duas altas de juros neste ano que estaria mais ou menos duas altas a mais de juros, você levaria para os juros básicos para 5,30% e depois subiria para 5,75%, e, no fim deste ano indica que eles ainda pretendem apertar a política monetária nas próximas reuniões”, destacou. Cruz lembrou que as projeções do mercado indicam que os juros básicos dos EUA podem encerrar o ano em 5,5% ao ano.
“Provavelmente a gente ainda teremos mensagens um pouco mais duras do Fed adiante”, acrescentou.
O analista lembrou que, para 2024, algo semelhante acontece e há divergências entre as projeções do Fed e as do mercado. “A maior parte dos dirigentes está falando em taxas acima de 4,5%. Tem muita gente falando em 4,5% ao ano, mas a maioria está acima dessa taxa. O mercado, hoje, precifica que, em junho do ano que vem, os juros podem recuar para 3,75%, ou seja, bem abaixo do que o Fed projeta para o final do próximo ano”, afirmou.
O mercado, de acordo com Cruz, está querendo precificar sobre os indicadores econômicos Em dezembro do ano passado, a expectativa era de um crescimento relevante do Produto Interno Bruto (PIB), mas, em março, a maioria cortou para zero e,agora, passaram a subir para 1%. “É isso que a gente viu no primeiro semestre. Os Estados Unidos devem sustentar um crescimento interessante. E também é um ponto importante daqui. Teve uma discussão grande sobre se haveria um hard landing ou um soft landing na economia dos EUA com a taxa de juros subindo. Por enquanto, para o Fed, não vai ter uma queda, o país não vai entrar em uma recessão, mesmo com eles prevendo 1% de crescimento neste ano”, afirmou. Ele adicionou que, para o ano que vem, a previsão do Fed para o PIB é de 1,82%. “Eles reduziram a projeção da taxa de desemprego deste ano de 4,5% para 4,1% e houve uma leve mudança para a inflação acumulada do ano, de 3,3% para 3,2%”, destacou. “Imaginando que os EUA só vão chegar a ter inflação de 2% no longo prazo, mas, no ano que vem seguem com a projeção de 2,5%, e, para 2025, de 2,1%”, acrescentou.
Na avaliação de Cruz, esse cenário deve fortalecer o dólar, porque os Estados Unidos ainda vão ter alta de juros neste ano, o que deixa o ambiente de lá mais atraente para os investidores. “Para a renda variável, isso também não é tão bom, porque você está até de novo favorecendo uma prateleira de renda fixa. Nos Estados Unidos, você acaba pressionando outros bancos centrais do mundo a subirem mais a taxa de juros e dificulta bancos centrais emergentes a começarem a cortar juros, porque haveria uma pressão externa de que esses bancos estariam cortando os juros enquanto o Fed ainda deve continuar subindo as taxas no cenário de curto prazo”, explicou.
Contudo, para o longo prazo, é melhor que seja assim, segundo Cruz. “Estamos vendo uma desaceleração global que tem contribuído para a queda dos preços internacionais, como, por exemplo, o petróleo. Portanto, acho que se o banco central norte-americano conseguir levar a inflação para a meta, nos próximos anos, é positivo para a inflação brasileira também. Isso acaba trazendo, sim, uma taxa de juros menor para o resto do mundo também. Ruim seria se eles observassem a inflação descontrolada e pouco fizessem. Acho que existe um problema”, completou.
Em maio, a inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), desacelerou acima do previsto pelo mercado, de 0,61%, em abril, para 0,23%. Após esse resultado, aumentaram as apostas do mercado para um início do ciclo de queda da taxa básica da economia (Selic), de 13,75% ao ano, a partir de agosto ou, no mais tardar, em setembro.
De acordo com o analista da RB, contudo, o resultado da decisão do Fomc poderá dificultar a velocidade de queda da taxa Selic pelo Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central do Brasil, na reunião da próxima semana, entre os dias 20 e 21 deste mês. "Acho que o Copom pode começar os cortes em agosto, de 0,25 ponto percentual", disse.
Fonte: correiobraziliense
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