A ministra do Meio Ambiente e da Mudança Climática (MMA), Marina Silva, está pessoalmente empenhada em alavancar os desenvolvimento econômico e social sustentáveis, além de recuperar o protagonismo do Brasil no debate ambiental. Nesse sentido, a pasta comandada por ela trabalha em um grupo interministerial liderado pelo Ministério da Fazenda para construir uma agenda mais focada na economia de baixo carbono e na transição energética para apresentar na cúpula do G20 — grupo das 19 maiores economias desenvolvidas e emergentes do planeta mais a União Europeia (UE).
“O Brasil vai levar uma agenda robusta com essa transição energética para dialogar na cúpula do G20”, afirmou Marina, nesta quinta-feira (29/6), em São Paulo, durante o painel Sustentabilidade, meio ambiente, clima e bioeconomia como políticas de Estado, no terceiro e último dia do Febraban Tech, maior evento de tecnologia bancária da América Latina.
O Brasil assumirá a presidência do G20 no fim deste ano, na cúpula da África do Sul. Segundo a ministra, 19 dos 37 ministérios do governo têm uma secretária preocupada com as mudanças climáticas e a preservação ambiental. “O Brasil está trabalhando em várias agendas, mas a mudança só virá se for uma agenda do setor público, do setor privado e do setor plural (a sociedade)”, frisou.
Em referência às medidas que podem ser adotadas nessa agenda, ela citou o Plano Safra e voltou a defender um programa que estimule a agricultura de baixo carbono, mas reconheceu que o processo será gradual. Marina ressaltou que os avanços nessa agenda também poderão ser apresentados durante a 30ª Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Mudanças Climáticas, COP 30, em 2025, em Belém. “Queremos um Plano Safra mais sustentável e estou esperançosa para que o Brasil possa liderar essa agenda e essa cúpula de Belém possa colocar o Brasil de volta como protagonista no setor ambiental”, afirmou.
A ministra lembrou que o sistema de monitoramento por satélites que dão os alertas de desmatamento foi implementado em sua gestão e eles não podem ser ignorados, como no governo anterior. Agora, ela vem reestruturando a fiscalização e contou que a pasta conseguiu ampliar a capacidade em 200%. “Os dados ainda não são definitivos, mas estamos percebendo queda de 31% nos alertas de desmatamento e esse percentual deve aumentar”, disse.
Na avaliação da ministra, o velho ciclo de prosperidade tem 300 anos de investimento, de incentivos, e, portanto, o novo ciclo precisará “de uma força incrível” para a mudança e a descontinuidade produtiva de uma atividade para outra. “Não ficar apenas no campo das commodities. Temos matéria-prima enérgica para sermos exportadoras da energia da terceira geração e descontinuar o velho ciclo produtivo”, afirmou.
Ao explicar a importância da preservação da Amazônia em meio ao cenário de emergência climática, a ex-senadora lembrou que cerca de 75% do Produto Interno Bruto (PIB) do país está relacionado ao regime de chuvas da floresta, que para ela é a maior riqueza nacional “É possível fazer uma integração entre a economia e a ecologia nessa situação de emergência climática. Está surgindo uma nova forma de viver e se relacionar com a natureza”, afirmou.
Nesse sentido, a ministra elogiou as instituições financeiras que estão desenvolvendo critérios de sustentabilidade governamental para escolher melhor os projetos em que pretendem incentivar, conceder crédito ou investir.
“Não basta torcer para que a floresta fique em pé. Ela tem que ser viável economicamente”, frisou. Em seguida, afirmou que o governo está trabalhando para aumentar o número de concessões florestais para o manejo responsável da floresta, pois hoje, 75% da madeira exportada pelo Brasil são demandas de áreas florestais que são certificadas. “Durante o governo passado, foram concedidos 300 milhões de hectares para a exploração. Vamos chegar, neste ano, a 1 milhão de hectares para exploração, inclusive, renovar as bases de processamento dessas cadeias, porque é preciso ter equipamentos mais sofisticados para agregar valor e gerar mais renda”, garantiu.
Ao comentar sobre a biodiversidade da Amazônia, ela confessou que se surpreendeu com um dado de um estudo sobre a região, pois existem mais de 30 mil espécies de cacau na Amazônia. “Imagina o potencial para pesquisar essas espécies todas”, afirmou. “O sistema financeiro vai encontrar uma série de pequenas empresas e startups esperando recursos financeiro e pessoal para alavancar os negócios. Quando você tem o sistema financeiro disposto a fazer os investimentos, há um potencial de novas cadeias de valor e materiais e que podem se associar aos mercados. Tenho trabalhado muito para a abertura do mercado para os produtos da nossa bioeconomia”, afirmou.
Na avaliação da ministra, as decisões de todos devem convergir para a mudança de cultura e da agenda voltada para a transição energética. “Nós devemos fazer todos os investimentos necessários para fazer a transição energética”, afirmou.
Marina Silva reforçou o compromisso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de que o país vai conseguir chegar ao desmatamento zero em 2030. “Mudança climática está no mais alto nível de prioridade”, afirmou. “Vamos fazer do Brasil uma potência agrícola e ambiental e vamos fazer a transição na indústria brasileira também. E vamos fazer tudo isso fortalecendo a democracia, combatendo a desigualdade”, afirmou. Ela defendeu que, ao mesmo tempo em que é preciso proteger as riquezas naturais, o país tem que encontrar as bases e os pontos de apoio, porque todos os brasileiros querem que o país seja desenvolvido e próspero. “Chega de o Brasil brigar consigo mesmo. Temos que aprender a conviver com as divergências e escolher o essencial”,
Ao concluir a apresentação, a ministra comparou o potencial do Brasil ao dos Estados Unidos no início do Século 20. “Os Estados Unidos eram um país jovem competindo com países de cultura milenar, Podemos ser, isso agora neste século, porque temos amplas vantagens comparativas e distributivas”, destacou. Na avaliação dela, o Brasil pode inaugurar “o conceito de externalidades positivas”, pois é capaz de produzir e entregar grãos e energias sustentáveis e respeito aos direitos humanos. “Podemos ser o endereço de todas essas demandas”, afirmou.
Fonte: correiobraziliense
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