Falta de tempo, receio em descobrir uma doença ou os tabus que rondam o bem-estar quando o assunto é a sexualidade. Diferentemente das mulheres, que, geralmente, visitam um ginecologista desde a primeira menstruação e realizam exames de rotina, preocupadas com a saúde íntima, o hábito de se cuidar com acompanhamento não é tão comum entre os homens. Existem conceitos pré-estabelecidos e estereótipos que afetam o público masculino e acabam potencializando a resistência em procurar um médico. É notável que, entre eles, persiste a necessidade de manter uma imagem inabalável e máscula, evitando demonstrar fraquezas por estar em uma sociedade que dificilmente as aceitaria.
Muito se preconiza sobre a importância de ir ao urologista, a partir de uma certa fase da vida, para monitorar problemas como o câncer de próstata. Mas a saúde do homem vai além. Recorrente entre as mulheres, as terapias de reposição hormonal também podem ser indicadas para eles, no momento em que aparecem sintomas que podem estar relacionados a baixos níveis de testosterona e que, em um certo momento, impactam diversos aspectos do dia a dia e a qualidade de vida como um todo.
A testosterona é o principal hormônio sexual masculino e um esteroide anabolizante. Em humanos e animais machos, cumpre função importante na manutenção da libido e no desenvolvimento de tecidos reprodutores masculinos, como testículos e próstata, bem como a promoção de características sexuais secundárias - como o aumento da massa muscular, aumento e maturação dos ossos e o crescimento do cabelo corporal - e também na prevenção da osteoporose. Está presente nas mulheres, porém com níveis de referência mais baixos.
A testosterona está intimamente ligada à saúde e bem-estar - quantidades insuficientes no organismo podem levar a anormalidades e diferentes desequilíbrios. Uma vez que os níveis do hormônio diminuem gradualmente à medida que os homens envelhecem, a testosterona sintética - em alguns casos - é prescrita para homens mais velhos para neutralizar essa deficiência.
"A reposição hormonal masculina consiste na suplementação de testosterona para homens com nível baixo desse hormônio e que venham apresentando sintomas decorrentes dessa baixa hormonal. Normalmente, consideramos que esse nível é abaixo de 300 ng/ml de testosterona total no exame de sangue", explicam João Brunhara, urologista e co-fundador da Omens, plataforma dedicada à saúde e bem-estar dos homens, e o urologista da plataforma Matheus Almeida Carvalho Siqueira. Segundo os médicos, os benefícios esperados com o tratamento são reverter os sintomas causados pela deficiência, como queda de libido, falta de energia e disposição, alterações do sono, perda de massa muscular, falhas de memória. "A expectativa é ter um ganho nesses campos", apontam.
Por outro lado, há que se ter atenção a riscos associados, dizem os médicos, como infertilidade, doenças cardíacas, doenças do fígado, aumento do colesterol e da viscosidade do sangue, comportamento agressivo, acne e queda de cabelo, para citar os mais comuns. "Esses riscos são maiores quando se realiza uma dosagem excessiva ou quando se administra a reposição para um paciente que já tinha a testosterona normal, ou seja, quando é feito uso inadequado dessa terapia", ponderam.
O tratamento pode ser realizado por injeções intramusculares (cuja periodicidade pode variar desde quinzenal até trimestral a depender da fórmula utilizada), por um gel de uso diário de aplicação na pele ou de um implante subcutâneo popularmente chamado de chip. O formato de comprimidos, esclarecem João e Matheus, está praticamente abandonado por causar problemas no fígado.
"Quando o nível de testosterona está baixo, a reposição do hormônio é uma das medidas. Uma outra forma de aumentar a testosterona é oferecer medicamentos que aumentam a produção hormonal do corpo, sem repor o hormônio diretamente. Exemplos dessas medicações são o clomifeno e o HCG", explicam. Mais do que a parte farmacológica, é fundamental considerar o estilo de vida, com a prática de atividade física, alimentação, sono, controle de estresse, redução de álcool e cigarro. "Muitas vezes, essas medidas conseguem aumentar a testosterona, a libido e a massa muscular sem uso de medicações", recomendam os médicos, reforçando que a falta de testosterona funciona quase como uma falta de combustível - e a reposição auxilia nesse ponto.
Entre os indícios de que algo não vai bem, os especialistas elencam falta de libido, de disposição e de energia para realizar as atividades cotidianas, sonolência excessiva, perda de massa muscular ou dificuldade em ganhar massa magra, ao lado do aumento de gordura corporal e até osteoporose. No campo comportamental, acrescentam os médicos, pode acontecer perda de memória, declínio cognitivo, ansiedade ou irritabilidade e até um humor depressivo, simulando um quadro de depressão. "Uma ou mais dessas alterações, e principalmente quando tragam perda de qualidade de vida, devem motivar a procura por um especialista para avaliação. A causa pode ser baixa de testosterona, mas é importante investigar, pois existem outras doenças que ocasionam os mesmo sintomas", orientam.
A reposição para homens com testosterona em índices de referência, que desejam usar o hormônio apenas para fins estéticos, não é recomendada. Segundo os especialistas, quem já tem níveis normais de testosterona está com o corpo em equilíbrio e, assim, introduzir tratamento hormonal nesse caso trará um desbalanço, promovendo infertilidade e inibição da produção natural de testosterona, deixando o homem dependente da continuidade desse tratamento.
"Além disso, os níveis pretendidos por quem faz reposição para fins estéticos é muitas vezes acima da referência de normalidade. São essas as situações mais perigosas para o fígado e coração." Eles falam sobre estudo recente feito pelo Instituto do Coração da Universidade de São Paulo (InCor) que mostrou que um quarto dos homens abaixo de 30 anos que usavam testosterona estavam com obstrução das artérias do coração. "É um número altíssimo para pacientes jovens", reiteram.
Quanto a outras patologias que podem gerar sintomas semelhantes à baixa de testosterona, João e Matheus citam o hipotireoidismo (doença da tireoide) e a depressão, mas outras doenças crônicas podem causar os mesmos sintomas. "A avaliação médica é fundamental. É complementada por exames de sangue e, dependendo do caso, também exames de imagem."
Bons hábitos ajudam o homem a manter naturalmente níveis adequados de testosterona no organismo, dispensando a reposição. Basicamente, conforme os urologistas, tudo aquilo que leva a uma vida saudável: dormir horas de sono suficientes para acordar descansado, ter uma alimentação balanceada evitando excessos de açúcar, de gorduras saturadas e de alimentos processados, fazer atividade física regular, tanto de resistência muscular quanto aeróbia (hoje chamados de cardio), evitar ou controlar o estresse e manter o peso, visando níveis adequados de gordura corporal.
E, para quem pensa que a reposição hormonal para homens ainda é um tabu, os médicos dizem o contrário. "Muitas vezes é difundida em excesso, com promessas e premissas irreais, e usada por pessoas que não deveriam usar, como no caso dos fins estéticos. O que falta é informação de qualidade para essa terapia chegar a quem realmente precisa, e deixar de ser feito uso irresponsável dela", consideram.
Fonte: correiobraziliense
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