23 de Novembro de 2024

Prigozhin está na Rússia, revela presidente de Belarus


Yevgeny Prigozhin está em Moscou, apesar de um acordo feito com o Kremlin estabelecer que o líder do Grupo Wagner se exilasse em Belarus, depois do motim fracassado de 23 de junho passado. "Quanto a Prigozhin, ele está em São Petersburgo. Onde ele está esta manhã? Ele pode ter partido para Moscou ou outro lugar, mas não está em território bielorrusso", disse Alexander Lukashenko, presidente de Belarus, durante entrevista à imprensa estrangeira em Minsk. "Tenho certeza de que ele está livre." Um dos principais aliados de Vladimir Putin, Lukashenko relatou que falou ao telefone com Prigozhin na última quarta-feira (5/7).

O chefe dos mercenários que se rebelaram contra a cúpula militar do Kremlin assegurou que "continuaria trabalhando para a Rússia", mas não aparece em público desde sua partida da cidade de Rostov-on-Don. Dmitry Peskov, porta-voz do governo russo, desconversou, ao ser questionado sobre o assunto. "Não estamos acompanhando seus movimentos (de Prigozhin)", rebateu. 

Horas antes da declaração de Lukashenko, Lviv — no extremo oeste da Ucrânia — foi atacada com uma série de mísseis russos durante a madrugada, que mataram pelo menos seis pessoas. Durante visita à República Tcheca, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, publicou um vídeo com imagens de drones mostrando a destruição na cidade. "Lviv. Consequências do ataque noturno pelos terroristas russos. Infelizmente, há feridos e mortos. Minhas condolências aos familiares. Definitivamente, haverá uma resposta ao inimigo. Uma resposta forte", escreveu. O Exército russo assegurou que os bombardeios visaram lugares de "destacamento temporário" de soldados ucranianos. "Todas as instalações designadas foram atingidas", declarou, por sua vez, o Ministério da Defesa russo.

Socorristas observam prédio residencial parcialmente destruído por mísseis na cidade de Lviv, no oeste do país
Socorristas observam prédios residenciais parcialmente destruídos por mísseis na cidade de Lviv, no oeste do país: madrugada de terror (foto: Yuriy Dyachyshyn/AFP)

Zelensky se reuniu com o presidente tcheco, Petr Pavel, em Praga, antes de uma importante cúpula da Otan em Vilnius, na Lituânia, prevista para 11 e 12 de julho. O ucraniano aproveitou a ocasião para fazer uma cobrança à aliança militar ocidental. "Exigimos honestidade em nossas relações com a Otan", disse Zelensky à imprensa. "É hora de demonstrar a coragem e a força dessa aliança."

Sobre a presença de Prigozhin na Rússia, Angelo Segrillo — professor de história da Universidade de São Paulo (USP), explicou ao Correio que o líder do Grupo Wagner tinha uma série de negócios na Rússia que estão sendo vasculhados pelas autoridades de Moscou. "As tevês russas fizeram reportagens negativas sobre ele, algumas mostravam batidas policiais em suas mansões. A campanha na mídia da Rússia tem o aval do Kremlin", observou. Para o historiador, isso põe por terra a tese de orquestração entre Putin e Prigozhin ou de um motim "arranjado".

Yevgeny Prigozhin, em gravação de vídeo feita durante o motim, em 24 de junho: figura obscura
Yevgeny Prigozhin, em gravação de vídeo feita durante o motim, em 24 de junho: figura obscura (foto: Telegram/AFP)

"Talvez Prigozhin tenha voltado de Belarus para saber como ficará a sua situação, se ele perderá todo o dinheiro. O retorno à Rússia mostra como a situação é volátil. Se ele tiver costas quentes com o alto escalão do Exército russo, pode tentar reativar alguma parceria do Grupo Wagner com Moscou", disse Segrillo.

Mísseis na madrugada

Professor de história da Universidade Católica Ucraniana e morador de Lviv, Yaroslav Hrytsak se assustou com os estrondos no meio da madrugada desta quinta-feira, entre 2h e 3h (entre 20h e 21 de quarta-feira, em Brasília). "Houve três explosões. Na primeira, creio que o míssil foi interceptado, porque era um som ao qual estamos acostumados. No entanto, a última, por volta das 2h40, foi uma explosão muito grande e todos a escutamos. Moro a cerca de 2km do prédio atingido, e o câmpus da universidade em que trabalho fica a 200m. Temos sorte porque o edifício onde fica meu escritório foi construído com nova tecnologia. Ainda assim, tivemos janelas e portas quebradas", contou ao Correio, por telefone. 

De acordo com Hrytsak, o prédio residencial destruído é um dos mais icônicos de Lviv. "Ele foi erguido durante o domínio polonês e se tornou um símbolo. Os russos tentaram atingir uma unidade militar próxima, mas a falta de precisão fez com que destruíssem um alvo civil", disse. O professor descreveu a devastação como "enorme". "Estive lá pela manhã e vi a destruição. Você não tem a dimensão até ver as fotos tiradas por drones. O que os russos fizeram foi inimaginável. É um ato de barbárie."

A Unesco condenou o bombardeio — "o primeiro que afeta uma área protegida pela Convenção sobre o Patrimônio Mundial desde o início da guerra, em 24 de fevereiro de 2022" — e  o qualificou de uma "violação" deste acordo. A agência especializada da ONU sediada em Paris também apontou um desrespeito à Convenção de Haia de 1954 para a proteção de bens culturais em caso de conflito armado".

Hrytsak destacou que a população de Lviv tem mostrado resiliência e resistência nos últimos meses. Para ele, os ataques de ontem transmitem a ideia de que a cidade é importante para Putin. "Nossa cidade é um significativo centro da resistência. Putin quis afetar o moral das pessoas daqui", aposta. Ele acredita que o bombardeio foi um recado para a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). "Lviv se situa muito perto da fronteira entre Ucrânia e Polônia, membro da Otan", ressaltou.

Chefe da administração militar regional de Lviv, Maksym Kozytskyy relatou ao Correio que os trabalhos de resgate contam com 668 pessoas e 139 maquinários. "São socorristas, médicos, policiais e voluntários. Ainda não conseguimos contato com uma família que morava no prédio destruído", afirmou. 

DUAS PERGUNTAS PARA - Maksym Kozytskyy, chefe da administração militar regional de Lviv

Maksym Kozytskyy, chefe da administração militar regional de Lviv
Maksym Kozytskyy, chefe da administração militar regional de Lviv (foto: Arquivo pessoal )

Qual é a situação em Lviv após este ataque?

Por volta das 3h (desta quinta-feira, pelo horário local), um míssil russo atingiu um prédio residencial, na cidade de Lviv. Seis pessoas morreram e 36 ficaram feridas, das quais 14 estão hospitalizadas. Mais de 300 precisaram receber suporte psicológico. Hoje, tivemos o ataque mais prejudicial à nossa cidade até agora. Isso prova que a Rússia está combatendo todos os ucranianos, não apenas os militares, pois estão atacando os civis.

Mas Moscou sempre tem insistido que não ataca civis. Como vê isso?

A Rússia ataca civis ucranianos com frequência. Ao longo das últimas semanas, vimos como seus mísseis mataram civis em Kremenchuk, em Sumy e em Zaporizhzhia. O ataque desta noite contra Lviv é outro importante lembrete de que devemos fazer tudo o que pudermos para ganhar essa guerra, a fim de que nossos filhos e netos não tenham que lutar contra o mau totalitário russo. Nós não vamos nos quebrar. Vamos deixar que o modesto humilde nem mesmo tenha esperança. (RC

Fonte: correiobraziliense

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