Enquanto a taxa básica da economia (Selic) continua no mesmo patamar de agosto de 2022, de 13,75% ao ano, a micro e pequena indústria segue cada vez mais pessimista com a economia, em grande parte, devido ao crédito escasso e ao aumento dos custos operacionais que corroem a margem de lucro dos empresários. É o que mostram dados do "Indicador Nacional da Micro e Pequena Indústria", pesquisa realizada pelo Simpi/Datafolha, referente aos meses de abril e maio.
O Índice de Satisfação Macroeconômica das Micro e Pequenas Indústrias (MPI's) atingiu o valor mais baixo da série histórica: passou de 103 para 93 pontos. Além disso, a pesquisa mostra que a avaliação negativa dos empresários sobre a situação econômica do país passou de 37%, entre fevereiro e março, para 48% no bimestre seguinte. Já a avaliação ruim ou péssima entre os entrevistados oscilou de 13% para 14%, no mesmo período. E a regular recuou de 48% para 37%, na mesma base de comparação.
No recorte regional, os empresários do Sul são os mais pessimistas, com 56% avaliando a situação econômica como ruim ou péssima. Enquanto isso, no Nordeste, o percentual de pessimistas foi o menor, de 41%.
De acordo com o presidente do Sindicato da Micro e Pequena Indústria (Simpi), Joseph Couri, há uma estimativa de que 10% a 11% do segmento, que engloba 1,3 milhão de empresas no país, pode fechar as portas nos próximos três meses, ou seja, algo em torno de 130 mil firmas. Conforme os dados da pesquisa, o percentual de empresas que estão sendo muito prejudicadas pela taxa de juros no Brasil passou de 52% para 66%, e praticamente metade das indústrias não têm capital de giro suficiente.
"Se pegarmos a nossa pesquisa, as empresas que estão sendo prejudicadas e as que estão sendo muito prejudicadas pelas taxas de juros elevadas, o percentual sobe para 82%, e apenas 16% responderam que estão sendo pouco prejudicadas", destacou Couri.
Para ele, a simples sinalização do Banco Central de que poderá iniciar o ciclo de queda da taxa Selic a partir de agosto não resolve o problema do setor, pois, pelas estimativas do mercado, os juros básicos devem encerrar o ano em torno de 12% ao ano. "Nenhuma empresa sobrevive muito tempo com juros nesse patamar, porque o crédito para a pessoa jurídica está muito mais caro no mercado, girando em torno de 60% a 80% ao ano", lamentou Couri, em entrevista ao Correio.
"Estamos batendo na taxa de juros não de agora, e, portanto, o risco de insolvência das empresas também não é recente. Até as grandes empresas passaram a ter problemas de crédito, e algumas delas estão em recuperação judicial ou entraram com pedido de falência. Isso mostra que, infelizmente, as grandes corporações estão sendo afetadas também", destacou Couri.
O percentual de empresas que estão deixando de pagar alguma dívida passou de 25% para 26% entre fevereiro/março e abril/maio. "A causa raiz realmente são os juros altos, e, se a Selic cair 0,5 ponto percentual em agosto, não muda o quadro, porque o que tem que ser feito é muito agressivo e as empresas estão em um quadro extremamente difícil", afirmou.
Além disso, o indicador de contratação recuou e atingiu o menor patamar bimestral desde abril e maio de 2022, recuando para 96 pontos em uma escala até 200. No ano passado, esse indicador estava em 105 pontos.
Além do crédito caro, as linhas de crédito subsidiadas com a qual o setor poderia contar, como o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) não estão mais disponíveis no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). "As operações estão suspensas porque não há mais dinheiro para o programa", lamentou Couri. Procurado, o BNDES não comentou o assunto. No site da instituição para o Pronampe, que tem taxas de juros de 8% ao ano para investimentos e custeio, o interessado se depara com a seguinte mensagem: "O protocolo de pedidos de financiamento neste programa encontra-se suspenso em razão do comprometimento total dos recursos disponíveis".
Em relação à reforma tributária, Couri destacou que o fato positivo foi a manutenção do Simples Nacional, porque a proposta inicial pretendia excluir o benefício com a implementação do imposto único. "Trabalhamos ativamente entre os congressistas e os técnicos do Ministério da Fazenda. Fizemos várias reuniões com o secretário Bernard Appy. Agora, a nossa questão não é só a manutenção do Simples, mas o aumento do teto", afirmou.
Apesar do cenário sombrio para o setor, o presidente do Simpi acredita que existe uma luz no fim do túnel. "Acho que as coisas ruins podem ser corrigidas, porque o caminho que o novo governo está seguindo é o correto. As votações da pauta econômica desta semana são importantíssimas", afirmou ele, em referência à reforma tributária e ao novo arcabouço fiscal.
Ele lembrou que o presidente Lula não teve os primeiros 100 dias tranquilos, por conta dos ataques de 8 de janeiro. "O processo de transição de poder não ocorreu em condições normais e, até agora, o governo ainda está mexendo na sua estrutura. Mas está trabalhando na direção de corrigir os problemas, o que é ótimo", afirmou ele, reconhecendo que, na reforma tributária, haverá muita grita de quem não paga imposto e vai começar a pagar. "O Congresso tem o papel de harmonizar os interesses da sociedade e do Executivo. Se tudo for aprovado, eu vejo uma luz no fim do túnel sim", completou.
Para os próximos três meses, 32% dos entrevistados esperam melhora na economia do país — mesmo percentual dos pessimistas —, patamar mais baixo do que o registrado entre fevereiro e março, de 36%. O pessimismo com a inflação no país recuou de 54% entre fevereiro/março para 42% em abril/maio. No mesmo período de 2022, o índice estava em 56%. Quanto ao emprego, 42% acreditam que a desocupação vai aumentar, mesmo patamar do bimestre anterior.
Fonte: correiobraziliense
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