As frequentes notícias de ganhos de produtividade e safras recordes na agricultura, que vem ajudando a melhorar os indicadores da economia brasileira, não garantem ao produtor o retorno esperado. É o que afirmam lideranças do agronegócio. No Mato Grosso, por exemplo, o preço de venda da saca do milho, segundo a Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), e da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), caiu 39% nos últimos cinco meses, chegando ao piso de R$ 26 por saca, contra um custo de produção médio de quase R$ 40.
"Essa safra que está sendo colhida agora a gente está falando de empresa oferecendo de R$ 26 a R$ 27 pelo milho. O prejuízo de quem não vendeu antes vai ficar muito maior", diz Antônio Galvan, presidente da Abrasoja e produtor no Mato Grosso.
A solução desse problema esbarra numa velha deficiência do país: a falta de espaço para armazenamento de grãos. Sem armazéns e silos suficientes, os produtores precisam vender a mercadoria logo após a colheita e, assim, abrir o espaço para a safra seguinte. Quando a cotação dos produtos no mercado desce abaixo do custo da produção, o produtor fica no prejuízo.
O governo não está alheio ao problema, tanto que o Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA), que faz parte do Plano Safra recorde anunciado no fim de junho, teve aumento expressivo no volume de recursos, que chegou a de 81% para construção de armazéns com capacidade de até seis mil toneladas, com juros de 7% ao ano, e de 61% para armazéns de maior capacidade, com taxa de 8,5%.
O vice-presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), José Mário Schreiner, considera que os juros poderiam ser melhores, mas reconhece a importância do programa. "É necessário ter o recurso garantido para que os produtores possam construir seus armazéns e silos, já que temos uma grande deficiência de armazenagem no nosso país", afirma.
Hoje a estrutura de silos no país consegue atender apenas metade da produção nacional de grãos, enquanto os Estados Unidos contam com uma capacidade equivalente a 150% da produção local. Os produtores também reclamam da taxa de juros oferecida pelo Plano Safra para esses investimentos, entre 7% e 8,5% ao ano, enquanto os americanos contam com juros de 3,75% ao ano para construir os seus silos.
"O agricultor sabe que precisa ter a própria armazenagem, o que ele não tem hoje são linhas de crédito suficientes e compatíveis com a demanda e a necessidade do Brasil", diz Paulo Bertolini, presidente da câmara setorial de Equipamentos para Armazenagem de Grãos da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).
Para ele, essa diferença entre os dois países faz com que no Brasil tenha apenas 15% da sua capacidade de armazenamento diretamente nas fazendas produtoras, enquanto nos Estados Unidos, 65% estão dentro das propriedades. Dessa forma, as "tradings", empresas que negociam a produção de grãos, que tem parte da capacidade de armazenamento contratada, acabam esperando o produtor precisar abrir espaço para a nova safra e assim ofertar um preço rebaixado pela saca, aponta Bertolini.
Segundo os produtores, o PCA é insuficiente, e a obtenção do crédito, extremamente difícil. O maior problema é a apresentação de garantias para a contratação desse tipo de obra, que chega a mais de R$ 2 milhões para um silo metálico de 100 mil sacas.
Outra reclamação dos produtores é a impossibilidade de conseguir crédito por todos que têm restrições em função de atrasos no pagamento de custos de safras anteriores. Esses dois fatores reduzem o valor efetivamente utilizado no PCA, sempre menor que o previsto no Plano Safra, reclamam os produtores.
Fonte: correiobraziliense
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