22 de Novembro de 2024

Julho roxo: especialista alerta sobre os riscos do câncer de bexiga


Sendo o segundo câncer mais comum do trato urinário e o décimo segundo mais frequente na população Brasileira, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) alerta para riscos do câncer de bexiga — que registra mais de 11 mil casos por ano no país. Para conscientizar a população, o mês de julho é dedicado ao combate ao câncer de bexiga no Brasil.

O desconforto ao urinar com ardência, sangramento visível na urina e aumento na frequência ou urgência para ir ao banheiro podem ser sinais de alerta para um possível câncer na bexiga. Dentre os diferentes subtipos deste câncer, o carcinoma urotelial corresponde a cerca de 85% dos casos, sendo caracterizado pelo crescimento de células malignas no tecido urotelial que reveste a parede interna da bexiga.

O oncologista da Oncoclínicas, em Brasília, Daniel Vargas, detalha sobre a importância de perceber os sinais da doença: "É possível perceber alguns sinais do tumor de bexiga nos estágios mais iniciais, sendo a presença de sangue na urina, o sinal mais importante e algumas vezes esse sangue pode aparecer no próprio ato da micção".

Além de armazenar a urina antes de ser eliminada do corpo, a bexiga tem um papel importante na eliminação de toxinas na micção, quando os músculos da bexiga se contraem e passam pelo canal da uretra. Durante o estágio inicial, o câncer de bexiga pode ser assintomático. Os sinais e sintomas desse tumor são variáveis dependendo do estágio da doença e podem, por vezes, ser confundidos com outras doenças do sistema urinário.

Vargas alerta que inflamações crônicas podem aumentar o risco de desenvolver câncer de bexiga. "A cistite, que é a infecção urinária, assim como a incontinência urinária, que pode predispor a infecção urinária de repetição ou (até) a bexiga hiperativa que também pode predispor a infecção urinária de repetição. Todos esses podem ter relação com o aumento do risco de câncer (de bexiga), sem sombra de dúvidas".

De acordo com o oncologista, o tabagismo é um dos principais fatores para o aumento do risco. “Isto ocorre pois no ato de fumar as substâncias tóxicas metabolizadas pelo organismo são também eliminadas através da via urinária, podendo causar mutações e, consequentemente, a transformação maligna das células que revestem as paredes internas do órgão”.

"Quando a gente fala de saúde, diferentes hábitos podem estar associados ao desenvolvimento (de câncer), ainda que o impacto seja menor, como por exemplo a alimentação não balanceada, sedentarismo, obesidade, tudo isso está envolvido, mas o impacto é muito menor sem sombra de dúvidas do que o tabagismo", completa Vargas.

Para Vargas, a investigação inicial do câncer de bexiga, necessita de exames de urina, tomografia computadorizada ou ressonância nuclear magnética. "Quando o paciente faz aquele exame de urina de check up e de rotina às vezes pode ter uma persistência de uma quantidade de sangue que só é visto no microscópio. Assim, ao perceber sinais, é preciso consultar-se com um urologista".

Porém o diagnóstico só é estabelecido, de fato, com a realização de cistoscopia e da ressecção transuretral da lesão, um procedimento realizado pelo médico urologista que resultará na biópsia confirmatória.

"O tratamento em geral varia (com) o estágio da doença, porque em estágios mais iniciais o paciente passa por uma avaliação com o urologista, fazendo raspagem da bexiga a cada três meses, podendo ser associada ou não a administração de medicamentos no interior da bexiga", explica Vargas.

Em casos um pouco mais avançado, pode ser necessária fazer a cirurgia de remoção parcial ou total da bexiga, associadas ou não à administração de quimioterapia ou imunoterapia antes ou depois da cirurgia.  "Nesses casos, é realizada a confecção de um novo modo de eliminação da urina, seja através da realização de uma derivação chamada de uroteroileostimia (ou cirurgia de Bricker) ou pela confecção de uma nova bexiga utilizando parte do intestino”, aponta.

Os avanços em medicamentos, técnicas de cirurgia e radioterapia mais personalizadas e individualizadas trouxeram benefícios efetivos a qualidade de vida do paciente. "Temos vivenciado uma transformação no tratamento do câncer de bexiga, através da incorporação bem-sucedida de novas modalidades de tratamento, como a imunoterapia, a terapia-alvo e os anticorpos conjugados a drogas no manejo do câncer de bexiga em diferentes cenários. Estas drogas, apresentam perfis de eficácia e segurança mais favoráveis do que a utilização de quimioterapia", indica o oncologista.

Durante o último congresso da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO), em junho, foi apresentado o resultado de um grande estudo sobre o tema. “Trata-se do estudo THOR, que demonstrou que a utilização de erdafitinibe, uma terapia-alvo direcionada à mutação do FGFR — alteração genética presente em cerca de 20-30% dos pacientes com câncer de bexiga avançado —, (tem eficácia) superior ao uso de quimioterapia".

Além de possibilitar a utilização de um tratamento oral e personalizado para o paciente, aqueles que receberam erdafitinibe tiveram uma redução de 36% no risco de morte em comparação ao uso de quimioterapia.

*Estagiário sob supervisão de Ronayre Nunes

Fonte: correiobraziliense

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