Em 15 de julho de 2016, uma tentativa de golpe perpetrada pela organização Fetö, fundada e comandada pelo clérigo e teólogo turco Fethullah Gülen, deixou 251 mortos e 2 mil feridos. Caças bombardearam o prédio do Parlamento, enquanto tanques foram usados para combater o próprio Exército. Sete anos depois, o embaixador da Turquia em Brasília, Halil Ibrahim Akça, disse esperar que "ninguém se atreva, nem tenha a coragem" de atentar contra a ordem institucional e democrática do país. De acordo com Akça, a Fetö atuava como um Estado paralelo, formado por uma grande rede de burocratas e altos funcionários turcos. Membros da organização se infiltraram no Exército e tentaram derrubar o presidente Recep Tayyip Erdogan, naquela noite. Fracassaram porque não contaram com a adesão do próprio Exército.
"Eles bombardearam os prédios do governo, inclusive o Complexo Presidencial, a sede da Inteligência Nacional e a sede do Estado-Maior. "Até tentaram assassinar o primeiro presidente eleito diretamente. A organização terrorista atacou os civis que saíram às ras para proteger seu governo legítimo com armamento pesado, incluindo jatos de combate, helicópteros e tanques", disse Akça. Naquela noite, o próprio Erdogan convocou o povo, por meio de seu telefone celular, para sair e defender a democracia. "Gulen, um pregador religioso, e seus seguidores se disfarçaram como um movimento educacional benigno quando iniciaram uma campanha de criação de escolas na Turquia e, posteriormente, em todo o mundo. No auge de seu poder, eles controlavam mil escolas na Turquia e mais de 800 institutos educacionais privados em todo o mundo", afirmou. Para o embaixador, essa foi a primeira fase de uma campanha de infiltração, em que crianças e pais se transformaram em "soldados de inflexão do movimento de Gülen".
O embaixador afirmou que o governo Erdogan pediu aos Estados Unidos a extradição de Fethullah Gülen, que hoje vive com seguidores no estado da Pensilvânia. A solicitação, no entanto, foi negada por Washington. "Isso criou uma tensão nas relações entre Turquia e EUA", admitiu. Além da tentativa de golpe, o diplomata falou sobre outros assuntos. Confira:
Turismo
De acordo com o embaixador Halil Ibrahim Akça, são esperados cerca de 100 mil turistas brasileiros na Turquia neste ano. Ele apontou que Istambul, Capadócia e locais de interesse do cristianismo — como a casa onde morou a Virgem Maria, em Izmir — são os pontos turísticos mais procurados pelos brasileiros. A Turkish Airlines mantém 11 voos diretos, semanalmente, de São Paulo a Istambul.
Relação entre Turquia e Brasil
Akça admitiu que as relações entre a Turquia e o Brasil são "muito boas". "Não temos conflitos com o Brasil. Na maior parte dos assuntos internacionais, nossos países estão do mesmo lado. Eu citaria a guerra da Rússia, as mudanças climáticas, o conflito no Oriente Médio e a questão da África. Nossos posicionamentos e estratégias são muito similares", observou. O diplomata lembrou que a Turquia tem trabalhado em cooperação com o Brasil no apoio humanitário na Síria.
Segundo o representante máximo do governo turco no Brasil, o comércio bilateral entre Turquia e Brasil movimenta, anualmente, cerca de US$ 6 bilhões. "Nós importamos do Brasil, principalmente, soja, algodão, aço e ferro, além de gado. Por sua vez, a Turquia exporta peças de automóveis e, por incrível que pareça, produtos agrícolas."
Guerra na Ucrânia
O embaixador Halil Ibrahim Akça declarou que existem várias tentativas para mediação de uma solução para a guerra entre Ucrânia e Rússia, incluindo iniciativas da China, de países da África, da própria Ucrânia, do Brasil e da Turquia. Ele acrescentou que a participação mais efetiva da Turquia nesse processo dependerá da evolução no próprio terreno, no front de batalha. "Nos primeiros dias de conflito, a Turquia tentou encontrar uma solução como mediadora, mas a situação mudou desde então", observou.
Ele explicou que, depois da visita do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, à Turquia, a possibilidade do envolvimento mais direto de Erdogan como mediador ficou mais evidente. "Na recente cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), em Vlinius (capital da Lituânia), a Rússia acompanhou esse processo de perto. Existe uma expectativa grande para a retomada de negociações, mas tenho novas informações nesse sentido. O principal assunto sobre a mesa é a extensão do acordo sobre o escoamento de grãos da Ucrânia", afirmou.
Adesão da Suécia à Otan
Durante a mesma cúpula, a Turquia concordou com a adesão da Suécia à aliança militar ocidental. De acordo com Akça, a resistência turca se devia por conta da questão do terrorismo. "O Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) e o Fetö atuavam na Suécia, e o governo de Estocolmo não fazia o bastante para combater esses grupos. A Suécia chegou a mudar a sua Constituição em relação ao terrorismo, mas nós dissemos a eles que isso não era suficiente. Na última cúpula da Otan, cobramos mais passos da Suécia".
Fonte: correiobraziliense
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