O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, decidiu, ontem, reduzir a taxa básica da economia (Selic) em 0,50 ponto percentual, para 13,25% ao ano, marcando o início de um novo ciclo de queda de juros. É a primeira mudança após sete reuniões de manutenção da taxa atual, de 13,75% anuais.
A decisão dos nove diretores do Comitê não foi unânime, mas o colegiado sinalizou que haverá novos cortes no mesmo patamar. Segundo o comunicado do BC, existe uma "unanimidade" para reduções na mesma dimensão "nas próximas reuniões". A redução da Selic foi menor do que a maioria das apostas do mercado, de 0,25 ponto percentual, mas o consenso do mercado era de redução da Selic. A divisão dos votos também era esperada pelos analistas.
Os dois novos diretores indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) — Gabriel Galípolo (Política Monetária) e Ailton de Aquino Santos (Fiscalização) — votaram pela redução de 0,50 ponto percentual, juntamente com o presidente do BC, Roberto Campos Neto, a diretora de Administração, Ana Carolina de Assis Barros e o diretor de Regulação, Otávio Damaso. Em contrapartida, os diretores Diogo Guillen (Política Econômica), Fernanda Guardado (de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos), Maurício Moura (de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta) e Renato Dias Gomes (de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução) votaram pelo corte de 0,25 ponto percentual.
Na nota divulgada após a reunião, o Copom informou que a decisão é compatível com a estratégia de ancoragem das expectativas de inflação ao redor da meta, "ao longo do horizonte relevante". Nesse argumento, o BC incluiu, "em grau menor" o ano de 2025, juntamente com o de 2024. A meta de inflação determinada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) de 2023 é de 3,25%, com teto de 4,75%. E, para os três anos seguintes, passará para 3%, com limite superior de 4,50%.
O Comitê destacou ainda que o processo de desaceleração da inflação "tende a ser mais lento" e, portanto, reforçou que será necessário "serenidade e moderação na condução da política monetária".
Menos de uma hora após o anúncio da decisão, os dois maiores bancos públicos do país, a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil, anunciaram redução nas taxas de juros cobradas nos empréstimos.
A Caixa informou que, a partir de amanhã, passará a cobrar 1,70% ao mês no crédito consignado de aposentados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) em vez de 1,74%. O BB informou que reduziu de 1,80% ao mês para 1,77% as linhas de crédito, incluindo consignado do INSS, na faixa mínima, e de 1,95% para 1,89% mensais, no patamar máximo.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) considerou "acertada" a queda de 0,50 ponto percentual na Selic e informou que espera "mantido o cenário de controle de inflação nos próximos meses, novos cortes e mais intensos".
A Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) considerou que a decisão do Copom está na "direção correta", contudo, ressaltou que "para se alcançar ambiente propício para um ciclo longo e sustentável de queda dos juros é essencial a materialização do novo arcabouço fiscal e o avanço célere da reforma tributária".
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também comemorou a decisão, apesar de esperar um corte maior ainda, de 0,75 ponto percentual. Ele disse aos jornalistas estar mais "otimista" após a reunião do Copom e reforçou o respeito ao Banco Central. Ao ser questionado sobre o placar apertado da reunião, disse que as divergências são resultado da livre manifestação em uma democracia. "Eu posso assegurar que o diálogo tanto entre nós quanto das nossas equipes foi o mais elevado possível. Nunca faltou nenhuma abertura de nenhum lado para sentar e dialogar a respeito das decisões corretas que precisam ser tomadas. O fato do placar ser apertado é porque é uma discussão técnica", afirmou. (Colaborou Edla Lula)
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