Aproximadamente 10% da população mundial desenvolverá, pelo menos uma vez na vida, pedras nos rins, aponta a Organização Mundial de Saúde (OMS). Os sintomas mais comuns são dor intensa, náusea, vômito, febre, calafrios e urina com sangue. Entre os fatores de risco conhecidos para a condição, estão obesidade e desidratação. Agora, pesquisadores da China descobriram que o consumo elevado de açúcares adicionados pode aumentar, em até 88%, as chances de uma pessoa ter cálculo renal. O açúcar adicionado é aquele presente em muitos alimentos processados — especialmente em refrigerantes, doces, sorvetes, bolos e biscoitos.
O trabalho, liderado por Shan Yin, cientista do Hospital Afiliado do North Sichuan Medical College, na China, e publicado pela revista Frontiers in Nutrition, analisou dados de 28.303 pessoas, coletados entre 2007 e 2018, na Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição dos EUA. Os participantes do estudo relataram se tinham histórico de cálculos renais. A ingestão diária de açúcares adicionados de cada um deles foi estimada a partir do que relataram sobre consumo de alimentos e bebidas. As informações sobre a dieta foram colhidas duas vezes: uma em uma entrevista presencial e uma por telefone entre três e 10 dias depois.
De acordo com Yin, esse é o primeiro ensaio a relatar uma associação entre o consumo de açúcar adicionado e pedras nos rins. "Isso sugere que limitar a ingestão de açúcar adicionado pode ajudar a prevenir a formação de cálculos renais", contou o principal autor, por meio de nota.
Patrícia Segatto, nefrologista do Hospital de Base, explica como a doença surge. "Os cálculos renais são formados pelo acúmulo de substâncias, como oxalato de cálcio, ácido úrico e fosfato de cálcio, entre outros, que, quando em grande quantidade e concentração, formam os cristais, que acumulam-se nas vias urinárias", afirmou. De acordo com a especialista, a baixa ingestão de água, o excesso de sal na dieta e a obesidade, geralmente relacionada ao excesso de alimentos doces e gordurosos e sedentarismo, podem levar a uma maior predisposição.
Durante a pesquisa, cada participante também recebeu uma pontuação sobre o quão saudável era sua alimentação. Os cientistas ajustaram as chances de cada pessoa desenvolver cálculos renais, incluindo fatores como sexo, idade, raça ou etnia, renda, índice de massa corporal (IMC) e tabagismo, e avaliaram se os participantes tinham histórico de diabetes. Ao observarem os resultados, notaram que a ingestão média de açúcares adicionados foi de 272,1 calorias por dia, o que equivale a 13,2% da ingestão energética diária total.
Os pesquisadores também descobriram que a quantidade de ingestão da substância foi relacionada aos cálculos renais de forma consistente. Por exemplo, os participantes que obtiveram mais de 25% de sua energia total de açúcares adicionados tiveram chances 88% maiores de ter pedra nos rins do que aqueles que obtiveram menos de 5% de sua energia vinda desses açúcares.
De acordo com Elber Rocha, nefrologista e coordenador do Programa de Transplante Renal do Hospital Santa Lúcia, de Brasília, o consumo excessivo de açúcar pode contribuir indiretamente para a formação de cálculos renais por meio de alguns mecanismos. "Pode levar à hiperinsulinemia, capaz de resultar em maior reabsorção de cálcio nos rins. Por conseguinte, há um aumento da concentração de cálcio na urina, favorecendo a formação de cristais de oxalato de cálcio. Além disso, o consumo excessivo de açúcar pode estar associado a um aumento da excreção de cálcio pela urina, o que também pode contribuir para o aparecimento da condição."
No entanto, os pesquisadores sustentam que a relação precisa ser mais bem avaliada. Segundo eles, os mecanismos da relação entre o consumo de mais açúcares adicionados e um maior risco de desenvolver pedras nos rins ainda não são conhecidos. "Mais estudos são necessários para explorar a associação entre o açúcar adicionado e várias doenças ou condições patológicas em detalhes. Por exemplo, que tipos de cálculos renais estão mais associados à ingestão de açúcar adicionado e o quanto devemos reduzir nosso consumo de açúcares adicionados para diminuir o risco de formação de cálculos renais", finalizou.
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