Apesar de o governo anunciado, na semana passada, o novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), prevendo R$ 1,3 trilhão em investimentos públicos e privados até 2026, com o intuito de fazer a economia decolar, ainda é cedo para apostar em crescimento sólido, segundo analistas. Isso porque os projetos precisam ser bem elaborados para não se tornarem novos elefantes brancos, e o Orçamento da União ainda é incerto para os investimentos do governo federal.
Além disso, o Produto Interno Bruto (PIB), que surpreendeu no primeiro trimestre ao crescer 1,9%, puxado pela agricultura, ainda segue a tendência de desaceleração, em grande parte, devido aos juros elevados, que freiam o avanço da atividade, mesmo com o Banco Central tendo iniciado, neste mês o novo ciclo de queda da taxa básica da economia (Selic), que passou de 13,75% para 13,25% ao ano.
Uma mostra dessa desaceleração foi dada pelo Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) — conhecido como prévia do PIB —, divulgado, ontem, pela autoridade monetária, indicando crescimento de 0,63% em junho. No segundo trimestre do ano, o avanço do IBC-Br foi de 0,43%, abaixo da alta de 2,21% contabilizada nos primeiros três meses, refletindo o impacto da política monetária, que costuma ter efeito defasado de seis a nove meses no ritmo de atividade.
"A economia pode até surpreender neste ano, mas tende a desacelerar em 2024, devido ao impacto defasado das elevações da taxa de juros em 2021 e em 2022 e da manutenção do de juro real (descontada a inflação) acima de 6%, na média, até o primeiro semestre de 2023", alertou Eduardo Velho, economista-chefe da JF Trust Gestora de Recursos. Ele prevê avanço no PIB de 2,34%, neste ano, e de 1,72%, no ano que vem. "Existem grandes dúvidas em relação ao cumprimento das metas fiscais e sobre como vai ser o desenrolar o El Niño sobre a inflação", acrescentou.
A mediana das projeções do mercado coletadas no boletim Focus, do Banco Central, para o PIB deste ano avançaram de 2,26%, na semana passada, para 2,29%, mas a de 2024, manteve-se em 1,30%. A mediana para a taxa Selic também não mudou, tanto para dezembro deste ano, de 11,75%, quanto para o fim do ano que vem, de 9%.
"O ciclo de corte dos juros ainda precisa se consolidar para as expectativas melhorarem e a economia decolar. Cabe observar que a Bolsa vem registrando vários pregões negativos, porque o mercado ainda desconfia da questão fiscal", destacou Julio Hegedus, economista-chefe da Mirae Asset. Ele prevê crescimento de 2,2% no PIB deste ano, mas ainda espera a Selic encerrar o ano de 2024 em 10% anuais.
Em meio às incertezas internas e externas, puxadas pela piora das perspectivas para a economia chinesa após novo calote no setor imobiliário, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) fechou, nesta segunda-feira, com queda de 1,06%, a 116.809 pontos. Foi o 10º pregão seguido no vermelho, acumulando queda de 4,20% em agosto, de acordo com dados do TradeMap. É a maior sequência de quedas em 39 anos, ou seja, desde 1984. Diante da desconfiança dos investidores com a perspectiva de desaceleração da China, o dólar voltou a subir ontem e fechou a R$ 4,965, com alta de 1,25%.
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