22 de Novembro de 2024

Cigarro: maior risco de dependência é ligado a menor massa cinzenta


A quantidade de massa cinzenta em duas partes do cérebro pode estar relacionada à vontade de começar a fumar durante a adolescência e ao aumento da dependência em nicotina, mostra um estudo divulgado, na edição desta terça-feira (15/08) da revista Nature Communications. A descoberta, segundo os autores, poderá ajudar no desenvolvimento de novas estratégias de prevenção.

A massa cinzenta é o tecido que processa informações e onde ficam localizados os neurônios. Enquanto o desenvolvimento do cérebro continua na idade adulta, o crescimento dessa parte atinge o pico antes da adolescência. Cientistas das universidades de Cambridge e Warwick, no Reino Unido, e da Universidade de Fudan, na China, analisaram imagens cerebrais e dados comportamentais de mais de 800 pessoas com 14 a 23 anos para identificar se haveria alguma relação entre o consumo do tabaco e essa área estratégica do corpo humano.

Uma das descobertas foi a de que adolescentes que começaram a fumar com 14 anos apresentavam menos massa cinzenta em uma seção do lobo frontal esquerdo, região ligada à tomada de decisões e ao descumprimento de regras. Segundo os cientistas, esse baixo volume pode ser um "biomarcador hereditário" para a dependência de nicotina, com implicações para a prevenção e o tratamento da dependência.

A equipe também descobriu que a parte direita dessa mesma área, que está ligada à busca de sensações, tinha menor volume em fumantes. Conforme o ensaio, uma vez que o tabagismo se estabelece, a matéria cinzenta no lobo frontal direito diminui, o que pode enfraquecer o controle sobre o hábito, afetando a motivação hedônica, que é a maneira como o prazer é buscado e gerenciado. A perda excessiva desse volume também foi relacionada ao consumo desmedido de álcool e ao uso de maconha.

Impulsividade

Além disso, a menor no lobo frontal esquerdo pode reduzir a função cognitiva e levar à desinibição, um comportamento impulsivo e de violação de regras decorrente de uma capacidade limitada de considerar as consequências. De acordo com o grupo, isso pode aumentar as chances de fumar em uma idade jovem.

"Fumar é, talvez, o comportamento viciante mais comum no mundo e uma das principais causas de mortalidade adulta. Em nosso estudo, a redução da massa cinzenta no córtex pré-frontal esquerdo está associada ao aumento do comportamento de quebra de regras, bem como a experiências precoces de tabagismo. Pode ser que essa quebra de regra leve à violação das normas antifumo", cogita, em nota, Trevor Robbins, coautor do ensaio e pesquisador do Departamento de Psicologia de Cambridge.

Segundo os autores, os resultados apontam para um "mecanismo neurocomportamental" prejudicado, que pode levar ao uso de nicotina desde cedo, tornando-se uma dependência a longo prazo. "O início do hábito de fumar é mais provável de ocorrer durante a adolescência. Qualquer forma de detectar um risco maior disso, para que possamos direcionar as intervenções, pode ajudar a salvar milhões de vidas", afirma Robbins.

Fonte: correiobraziliense

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