Até a noite desta quarta-feira (16/8), mais de 24 horas após o apagão que atingiu 25 estados e o Distrito Federal no dia anterior, o governo ainda não tinha um diagnóstico conclusivo sobre as causas do problema.
O ministro da Casa Civil, Rui Costa, atribuiu o blecaute a um "erro técnico". Os motivos estão sendo apurados, mas as autoridades não descartam a possibilidade de ação dolosa humana, e determinou à Polícia Federal (PF) e à Agência Brasileira de Inteligência (Abin) que participem da investigação que está sendo conduzida pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
O ONS tem prazo até esta quinta-feira (17/8) para apresentar um relatório que esclareça a origem do blecaute. Rui Costa reforçou o argumento de que a falha não aconteceu por um excesso de demanda, nem por falta de fornecimento de energia elétrica. "Foi erro técnico, falha técnica, precisa identificar o que foi que aconteceu. Espero que o mais rápido possível consigamos dizer à sociedade", disse, durante o programa Bom Dia, Ministro.
Na tarde desta quarta-feira (16/8), o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, reuniu-se com integrantes do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) e do ONS para discutir as possíveis causas do apagão. Após o encontro que durou mais de cinco horas, Silveira reiterou que o problema teve início quando uma sobrecarga atingiu uma linha de transmissão no interior do Ceará que liga a cidade de Quixadá à capital, Fortaleza. A linha pertence à Chesf, subsidiária da Eletrobras, privatizada no ano passado, durante o governo Jair Bolsonaro.
Silveira, porém, afirmou que, sozinha, essa falha não seria capaz de derrubar todo o Sistema Interligado Nacional (SIN), como ocorreu. Portanto, na visão dele, é necessária a investigação da PF. "A Chesf admitiu um erro no sistema que opera a rede. O que não se sabe é se essa falha foi humana", afirmou.
Em comunicado nas redes sociais, o ministro da Justiça, Flávio Dino, informou já ter enviado à PF o pedido de investigação sobre o episódio e enfatizou a possibilidade de que uma ação humana tenha provocado o apagão. "A providência (investigação da PF) é necessária em face da ausência de elementos técnicos, até o momento, que expliquem o que ocorreu", escreveu o ministro no X, o antigo Twitter.
O diretor-geral do ONS, Luiz Carlos Ciochi, disse que a possibilidade de ter ocorrido uma segunda falha, na Região Norte, como chegou a ser aventado na terça-feira, foi descartada. E também afastou a hipótese de que fontes de energia eólica, que geram energia com grau de intermitência maior do que usinas hidrelétricas e térmicas tenham contribuído para o problema.
Em nota divulgada na noite desta quarta-feira (16/8), a Eletrobras confirmou ter detectado, pouco antes da queda do sistema, na manhã de terça-feira, uma sobrecarga na linha de transmissão do Ceará que gerou o desligamento da rede pelos dispositivos de proteção que operam automaticamente em casos como esse. Entretanto, sustentou que, por si só, essa falha não teria sido capaz de gerar o apagão.
"Ressalta-se que o desligamento da citada linha de transmissão, de forma isolada, não seria suficiente para a abrangência e repercussão sistêmica do ocorrido. As redes de transmissão do Sistema Interligado Nacional (SNI) são planejadas pelo critério de confiabilidade", diz o comunicado da empresa.
O ex-diretor-geral do ONS Luiz Eduardo Barata disse considerar "inacreditável" a demora do governo para esclarecer esse tipo de ocorrência. Segundo o engenheiro elétrico, pelo nível tecnológico que possuem, os órgãos reguladores têm a capacidade de identificar a origem de um distúrbio energético imediatamente após seu acontecimento. Para ele, a ausência de informações precisas até o momento é motivo de preocupação e surpresa.
Segundo o especialista em energia João Guilherme Mattos, diretor-presidente da holding brasileira Oncorp, o apagão poderia ser evitado se houvesse, nos principais centros de carga do país, subsistemas com autonomia de geração. "Notamos que o sistema interligado não se aprimorou no decorrer do tempo. Por isso muito se fala na criação de subsistemas, em que você poderia mitigar os efeitos de uma causa como o que aconteceu", disse.
Quase todo o país é coberto por um sistema integrado de transmissão de energia, que depende das hidrelétricas, o que acendeu um alerta para o país. São quase 180 mil km de linhas de transmissão que partem de Itaipu, no Sul; Belo Monte, Santo Antônio e Jirau, no Norte; e, mais recentemente, das usinas de fontes renováveis, eólica e solar, no Nordeste.
Mattos destacou que os subsistemas poderiam auxiliar inclusive na intermitência das fontes renováveis no Nordeste, trazendo mais confiabilidade e redundância ao sistema. "O ideal seria que fossem criados subsistemas dentro de cada região: Nordeste, Sul, Sudeste, Norte e Centro-oeste. Esses subsistemas evitariam o que aconteceu e poderiam atuar em casos de falha, por exemplo, numa falha por conta da intermitência das renováveis ou por conta até de uma queda de uma linha de transmissão", afirmou.
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