23 de Novembro de 2024

A história do extraordinário Damanhur, o maior templo subterrâneo do mundo


Em 1979, nos Alpes italianos, um grupo inicial de 28 pessoas começou a escavar uma montanha durante a noite... Em segredo.

O objetivo era construir o maior templo subterrâneo do mundo. E, de fato, quando terminaram, anos depois, o que haviam feito era impressionante.

Nove templos ornamentados, distribuídos em cinco níveis diferentes, conectados por centenas de metros de túneis, construídos como um livro tridimensional que conta a história da humanidade por meio de diversas formas de arte. Tudo isso sob a terra.

Essa catedral é conhecida como os Templos da Humanidade. "Hoje é o coração de uma realidade, o centro histórico de Damanhur, a capital da federação internacional com cinco comunidades, abrangendo 1.500 pessoas em todo o mundo", disse Reel Barys Elleboro, um nativo de Damanhur e atual embaixador, à BBC.

A ecovila e comunidade espiritual recebe o nome do antigo templo subterrâneo egípcio de Damanhur, que significa "Cidade da Luz", dedicado ao mítico deus Horus.

O local fica a 50 quilômetros ao norte de Turim, Itália, e foi fundada por Oberto Airaudi (1950-2013), que mudou seu nome para Falco Tarassacose.

"Para a maioria de seus seguidores, Falco é considerado uma figura extraordinária", observou Stephania Palisano, professora de Sociologia da Religião na Universidade de Turim. Para eles, ele é "um homem do futuro que viajou no tempo para cumprir uma 'missão mágica' para salvar a Terra e seus habitantes", acrescentou.

Nos seus primeiros anos, os damanhurianos falavam de experimentos de viagem no tempo, utilizando "cabines de viagem" que permitiam àqueles que tivessem atingido o mais alto nível de iluminação se tornarem "temponautas".

Falco afirmava ter originado 600 anos no futuro e retornado para salvar a humanidade do desastre. Também dizia ter viajado para o passado distante e fundado e incentivado o desenvolvimento de uma colônia que, sob sua orientação, se tornaria a civilização mítica da Atlântida.

Apesar da suspeita que isso possa gerar, é fato que, em um passado mais recente, semeou a semente daquilo que se tornaria uma comunidade com sua própria forma filosófica de vida.

"Damanhur é único no mundo", explicou Palisano, que estudou a comunidade por anos. "São pessoas que decidiram deixar sua zona de conforto para se unir a uma missão desafiadora."

"Falco encorajou esse tipo de afiliação porque, ao seguir sua missão 'mágica', precisava construir templos, onde 'tecnologias mágicas' residiriam", disse a socióloga. Entre esses discípulos está Antílope Verbena, da Academia Damanhur, cujo nome reflete a tradição do grupo de adotar nomes de animais e vegetais.

"Vim morar em Damanhur em 1º de abril de 1985. Meu primeiro dia foi interessante, porque naquela época era um lugar onde você chegava e tinha que deixar todas as suas coisas do lado de fora e começar a viver em uma realidade que se assemelhava muito a um kibutz."

Sob a liderança de Falco, os primeiros habitantes de Damanhur começaram a cavar. "Todos participamos na construção dos templos naquela época. Era a nossa vida."

"Durante os primeiros 15 anos, isso permaneceu em segredo, porque na Itália não havia nenhuma lei que permitisse a construção de estruturas subterrâneas privadas", esclarece Elleboro.

Além disso, eles temiam que em um país tão católico como a Itália, um templo ligado a outra crença fosse rejeitado.

Portanto, nunca solicitaram qualquer permissão de planejamento e seguiram adiante com seu projeto de maneira clandestina.

Aos poucos, mais pessoas que compartilhavam dessa visão de criar uma sociedade utópica que respeitasse e cuidasse do planeta e dos outros se juntaram a eles. E aos poucos, adquiriram mais propriedades.

Para atender às necessidades da comunidade e garantir seu sustento, estabeleceram pequenas empresas cooperativas, que se transformaram em padarias, vinhedos, livrarias e lojas.

Os proprietários desses negócios, assim como os pedreiros, artistas, agricultores e artesãos, trabalhavam durante o dia e cavavam silenciosamente em turnos, ano após ano.

Apesar de todas as precauções tomadas para ocultar o que estavam fazendo sem autorização, de alguma forma ainda não explicada, o segredo foi revelado.

Em julho de 1992, quando grande parte do templo já estava concluída, Damanhur foi invadida e o procurador estadual deu um ultimato: "Mostrem-nos os templos ou detonaremos toda a encosta". Sem outra opção, Falco e seus colegas abriram a porta secreta."

"Era absolutamente impossível sequer pensar ou imaginar que um mundo incrível e inimaginável pudesse se abrir atrás de uma porta de madeira tão anônima", apontou Verbena. O procurador e três policiais percorreram as salas temáticas com colunas altas

cobertas de pan de ouro, e paredes e tetos profusamente decorados com murais, mosaicos, afrescos e cristais.

"Foi incrível, eles vieram com dinamite, mas quando viram cada câmara e começaram a compreender a sabedoria inerente contida, emocionaram-se até às lágrimas", contou Esperide Ananas, uma cidadã residente de Damanhur, em seu livro "Damanhur: Templos da Humanidade".

"Após verem as nove câmaras, nos disseram para continuar com a obra de arte, mas que não construíssemos mais."

Durante os anos seguintes, os damanhurianos enfrentaram uma batalha política e legal que terminou em 1996 com a autorização oficial para manter e reabrir sua catedral subterrânea. "Recolhemos cem mil assinaturas para ajudar a salvar os templos", disse Ananas.

"Os templos são um hino à humanidade", afirmou Elleboro. "Cada sala conta um capítulo diferente de nossa vida, nossa maneira de interagir conosco, com o ambiente, com o tempo, com a vida e a morte. Portanto, representam - do nosso ponto de vista - uma enciclopédia da espiritualidade humana."

Fonte: correiobraziliense

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