22 de Novembro de 2024

Pacientes melhoram a comunicação após receberem implante cerebral


Em 2012, a norte-americana Pat Bennett, hoje com 68 anos, foi diagnosticada com esclerose lateral amiotrófica (ELA), doença neurodegenerativa que ataca os neurônios que controlam a atividade motora. Progressivamente, a enfermidade causa fraqueza muscular e paralisia. Bennett era diretora de recursos humanos em uma empresa, ex-atleta de hipismo e, na época em que descobriu o mal, corria diariamente. Com o tempo, não só perdeu os movimentos como a fala. Agora, graças a sensores implantados em seu cérebro, ela voltou a se comunicar com o mundo.

Na edição desta quarta-feira (23/08) da revista Nature, dois artigos independentes, incluindo o da Universidade de Stanford que descreve a trajetória de Pat Bennett, anunciam avanços na tecnologia de interface cérebro-computador. O outro estudo, da Universidade da Califórnia, em San Francisco, conta como outra mulher, que ficou severamente paralisada após um acidente vascular cerebral, voltou a falar por um avatar digital graças à inteligência artificial.

Em uma coletiva de imprensa on-line, o neurocirurgião de Stanford Jaimie Henderson contou que, em março do ano passado, implantou dois pequenos sensores em duas regiões associadas à fala no cérebro de Bennett. Combinados com um software de decodificação, os dispositivos traduzem a atividade cerebral da paciente, transcrevendo, na tela, o que ela quer dizer.

Passadas quatro semanas do procedimento, a equipe começou a ensinar o programa a "ler a mente" da mulher. Em quatro meses, o computador convertia as tentativas de comunicação a uma velocidade de 62 palavras por minuto, três vezes mais rápido que o recorde anterior de comunicação assistida.

Jaimie Henderson afirma que, atualmente, o ritmo de decodificação da expressão de Bennett aproxima-se da taxa natural de conversação entre falantes de inglês, que é de 160 palavras por minuto. "Mostramos que é possível decodificar a fala pretendida gravando a atividade de uma área muito pequena na superfície do cérebro", destacou. Os sensores são implantados no córtex, a área mais externa do cérebro, e contêm, cada um, 64 eletrodos. Contudo, os pesquisadores destacam que ainda não há previsão de quando a tecnologia estará pronta para a prática clínica.

Na Califórnia, pesquisadores de duas universidades desenvolveram uma interface que devolveu o poder de comunicação a uma mulher que sofreu um derrame cerebral, cuja identidade não foi divulgada. O sistema decodifica tanto o discurso quanto as expressões faciais em 80 palavras por minuto, contou, em uma coletiva de imprensa, Edward Chang, chefe de cirurgia neurológica da Universidade da Califórnia, em San Diego, que ajudou a desenvolver a tecnologia ao longo de uma década.

Segundo o pesquisador, em um futuro breve, o dispositivo será submetido à aprovação pela agência Food and Drugs Administration (FDA), nos Estados Unidos. "Esses avanços nos levam muito mais perto de uma solução real para os pacientes", destacou Edward Chang, principal pesquisador do experimento. A equipe implantou um chip da espessura de um papel, no formato retangular, com 253 eletrodos no córtex cerebral da paciente, em regiões associadas ao discurso.

Os eletrodos interceptam os sinais cerebrais interrompidos pelo AVC, enviando comandos para os músculos da língua, mandíbula, laringe e face. Um cabo conectado em um dispositivo fixado à cabeça da mulher faz a ponte com uma rede de computadores.

Com semanas de treinamento, os algoritmos aprenderam a reconhecer os sinais cerebrais do discurso. Em vez de identificar a palavra na totalidade, o sistema decodifica os fonemas, levando a uma precisão maior, afirmaram os pesquisadores. Na tela de um computador, um avatar digital reproduz os movimentos faciais intencionados pela paciente, além da fala dela. O sistema identifica ações relacionadas a sentimentos de felicidade, tristeza e surpresa. (PO)

Fonte: correiobraziliense

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