22 de Novembro de 2024

Problemas intestinais: maior risco de doença de Parkinson


Pessoas que sofrem com problemas como dificuldade para engolir, prisão de ventre e síndrome de intestino irritável têm o dobro de risco de serem diagnosticadas, mais tarde, com a doença de Parkinson, diz um estudo publicado na revista Gut. Há algum tempo, acredita-se que sintomas gastrointestinais precedem o desenvolvimento de enfermidades cerebrovasculares, como aneurisma, Alzheimer ou acidente vascular cerebral (AVC). Até agora, havia poucas evidências de que isso também era verdade para o mal neurodegenerativo que afeta o controle dos movimentos.

Para testar a hipótese, pesquisadores de instituições norte-americanas e dos Hospitais Universitários Leuven, na Bélgica, analisaram dados de uma rede nacional de registros médicos dos Estados Unidos. Eles compararam 24.624 pessoas que tinham sido diagnosticadas com Parkinson de causa desconhecida com pacientes de outras condições neurológicas — Alzheimer (19.046) e doença cerebrovascular (23.942) — ou saudáveis (24.624). Os dados foram agrupados por faixa etária, sexo, raça, etnia. Os pesquisadores também analisaram a frequência de problemas intestinais incluídos no banco de dados, em média, seis anos antes de os pacientes descobrirem que tinham Parkinson.

Em seguida, os cientistas foram pela via oposta: dividiram todos os participantes com qualquer uma das 18 doenças gastrointestinais do registro em grupos separados. As pessoas foram, então, comparadas a indivíduos sem nenhuma condição intestinal específica. Ao longo de cinco anos, seus registros médicos foram monitorados para que os pesquisadores verificassem quantos desenvolveram Parkinson ou outras doenças neurológicas.

Ambas as análises indicaram que quatro condições intestinais estavam relacionadas a um maior risco de diagnóstico da doença de Parkinson. Gastroparesia (retardo no esvaziamento do estômago), disfagia (dificuldade em engolir) e constipação foram associadas a mais que o dobro de casos da enfermidade neurodegenerativa nos cinco anos anteriores ao diagnóstico. Já a síndrome de intestino irritável sem diarreia teve relação com um risco 17% maior no mesmo período.

De acordo com o artigo, a remoção do apêndice pareceu ser protetora, levantando questões sobre o seu papel potencial nos processos patológicos que levam à doença de Parkinson. Nem a doença inflamatória intestinal nem a vagotomia (remoção de todo ou parte do nervo vago para tratar úlcera péptica) foram associadas a um risco aumentado da enfermidade neurodegenerativa.

Outros problemas intestinais, incluindo dispepsia funcional (sensação de queimação ou plenitude no estômago sem causa óbvia), síndrome do intestino irritável com diarreia e diarreia mais incontinência fecal também foram mais prevalentes entre as pessoas que desenvolveram a doença de Parkinson. Essas condições também eram mais comuns antes do início da doença de Alzheimer ou da doença cerebrovascular.

Novos protocolos

Os pesquisadores destacam que se trata de um estudo observacional, ou seja, não pode estabelecer a causa das descobertas. Eles também destacam várias limitações, incluindo que o período de monitoramento foi relativamente curto, e que a informação de diagnóstico obtida nos registros de saúde eletrônicos pode ter sido incompleta. Porém, ressaltam a força do trabalho.

"Esse estudo é o primeiro a estabelecer evidências observacionais substanciais de que o diagnóstico clínico não só de obstipação, mas também de disfagia, gastroparesia e síndrome do intestino irritável sem diarreia pode prever especificamente o desenvolvimento da doença de Parkinson", escreveram, na Gut. "Essas descobertas justificam alerta para síndromes gastrointestinais em pacientes com maior risco de doença de Parkinson e destacam a necessidade de investigação adicional de precedentes do tipo na doença de Alzheimer e na doença cerebrovascular", concluíram.

Para Tim Bartels, líder do Instituto de Pesquisa de Demência da Universidade College London, na Inglaterra, o artigo "estabelece firmemente que o intestino pode ser um alvo principal de busca de biomarcadores em humanos para compreender a disfunção intestinal na doença de Parkinson, a fim de encontrar alvos de medicamentos".

Bartels, que não participou do estudo, lembra que, como a doença normalmente está avançada quando os sintomas neuromotores se desenvolvem, detectá-la precocemente pode ser "altamente valioso". O especialista também destaca a associação aparentemente protetora da apendicectomia com a doença de Parkinson. "Isso implica que, dentro do trato gastrointestinal, o apêndice pode ser a origem do problema patológico que, então, se espalha por todo o intestino e, finalmente, para o cérebro."

"Há muito, se sabe que o cérebro se comunica com o intestino, e alguns levantaram a hipótese de que fatores do intestino poderiam desencadear o desenvolvimento de condições neurológicas, como a doença de Parkinson (DP). O artigo publicado na Gut dá uma contribuição importante ao mostrar que alguns sintomas gastrointestinais estão ligados a um diagnóstico posterior de DP, sugerindo que pode ser importante que os médicos tomem nota dessas condições gastrointestinais ao avaliar pacientes em risco de DP, mesmo antes do aparecimento de sinais neurológicos. As conclusões dos autores são bem apoiadas pelo grande número de registros de saúde dos pacientes comparados no estudo e pelo fato de eles terem analisado a associação entre condições gastrointestinais e DP em ambas as direções e obtido os mesmos resultados. Ou seja, se aqueles com DP têm histórico dessas condições gastrointestinais e aqueles com condições gastrointestinais específicas desenvolvem DP nos cinco anos seguintes. As conclusões podem ter relevância clínica e, certamente, devem levar a estudos adicionais para identificar mecanismos subjacentes, porque existem implicações potenciais para o tratamento precoce."  (Kim Barrett, professora de medicina da Universidade da Califórnia, em Davis e pesquisadora especializada em distúrbios gastrointestinais)

Fonte: correiobraziliense

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