Em 2014, o voo 370 da Malaysia Airlines desapareceu enquanto voava de Kuala Lumpur para Pequim, provocando a busca mais onerosa da história da aviação. Alguns destroços foram levados para a costa, mas o corpo principal do avião, juntamente com os passageiros e a tripulação, continua desaparecido. Entretanto, um novo estudo sugeriu uma maneira de encontrar a aeronave quase uma década depois. E a resposta são as cracas.
O geocientista Gregory Herbert, da Universidade do Sul da Flórida, viu fotos de destroços na costa na Ilha da Reunião, na costa da África. Nos destroços, ele percebeu a presença de cracas. "Os destroços estavam cobertos de cracas e, assim que vi isso, comecei imediatamente a enviar e-mails para os investigadores da busca porque sabia que a geoquímica de suas conchas poderia fornecer pistas sobre o local do acidente", disse Herbert em um estudo publicado na AGU Advances.
Foi confirmado que o flaperon, parte da asa do avião, tinha vários exemplares da craca Lepas anatifera presos a ele. Herbert ficou empolgado porque as conchas das cracas crescem diariamente, com cada camada colocada sendo afetada pela temperatura da água em que se encontra.
O resultado de pesquisas assim é algo parecido com a forma como os anéis das árvores podem informar a idade da árvore e como eram as condições climáticas ou como a observação de corais antigos pode nos informar como a Terra era a milhões de anos atrás. Observando esse registro da temperatura da água contida nas cracas e comparando-o com a modelagem oceanográfica, talvez seja possível rastrear o caminho das cracas até o local onde ocorreram os destroços.
O acidente em 2014 acredita-se que o acidente tenha ocorrido em um corredor norte-sul chamado "O Sétimo Arco", onde as temperaturas mudam rapidamente, facilitando o rastreamento do caminho. O geocientista teve a oportunidade de testar o método em algumas das cracas mais jovens dos destroços, depois de aperfeiçoar o processo de extração de dados de temperatura mais exatos das cracas cultivadas em laboratório.
"A colonização do flaperon (asa do avião) ocorreu em águas mais quentes em torno de 27°C, seguida de uma mudança para águas continuamente mais frias em torno de 23-24°C durante uma parte significativa da última deriva", escreveu a equipe em seu estudo. "Isso é consistente com o experimento anterior de modelagem de deriva que mostrou que o flaperon do MH370 deveria ter tido uma trajetória para a esquerda (sul) em direção a águas mais frias à medida que se deslocava pelo Oceano Índico."
A equipe realizou uma simulação de rastreamento de partículas, na qual 50 mil "partículas" foram liberadas no Oceano Índico, a leste da Ilha da Reunião, a partir de possíveis pontos de deriva, para identificar possíveis áreas de interesse. A partir disso, eles escolheram os cinco melhores pontos de deriva para uma investigação mais aprofundada.
O estudo mostra que a reconstrução do caminho dos destroços pode ser possível, limitando onde procurar. No entanto, para isso, a equipe escreve que precisa refinar seus métodos e obter acesso a cracas mais antigas.
A equipe espera que a nova abordagem possa ajudar a retomar a busca pelo avião e, quem sabe, até mesmo dar um desfecho às famílias dos que estavam a bordo.
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