Guarujá — O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, aproveitou sua fala no Forum Esfera 2023 para apresentar propostas e alertas ao governo e a empresários. Propôs, por exemplo, um novo programa nos moldes do "Desenrola Brasil" para as empresas, aproveitando a dívida ativa da União, quase R$ 1 trilhão que o governo não consegue receber, em uma espécie de desenrola empresarial. "Vamos pegar a dívida ativa que o Estado não consegue cobrar. A empresa não paga e isso fica no passivo. E não consegue financiamento, porque fica com um passivo fiscal gigantesco. Vamos transformar um pedaço dessa dívida em investimento, em PAC, em política industrial, em desenvolvimento", afirmou.
Embora esteja negociando US$ 6 bilhões em financiamentos via BNDES, Mercadante alertou que o país não pode ficar esperando que os recursos venham de investidores estrangeiros. "Os Estados Unidos fazem um plano Marshall ao revés, a Europa também segue por esse caminho. Não virá dinheiro lá de fora para resolvermos nossos problemas. Precisamos ter um pacto de investimento no Brasil", pregou, ao mencionar a proposta do "Desenrola Empresarial". "O Brasil precisa de criatividade, inovação e ousadia", sentenciou.
Mercadante apresentou o BNDES como um porto extraordinário para os interessados em financiamentos da economia verde. "O planeta está fervendo. Há 140 quilômetros de incêndio no Canadá, a tragédia no Havaí, na Grécia, inverno de 40 graus no Rio de Janeiro. A crise climática é dramática", disse ele, abrindo as portas para que os interessados em ajudar a resolver esses problemas procurem o banco. E lembrou que o BNDES tem apenas 0,01% de inadimplência, "o que mostra que podemos correr mais riscos".
No mesmo painel, que tratava do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), estavam o presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, o secretário executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, e o banqueiro André Esteves, do BTG Pactual. Dantas afirmou que, com a volta da temporada de obras no país, haverá um reforço na fiscalização e citou as ações de prevenção que o TCU tem feito no sentido de evitar desperdício de dinheiro público. "Mais do que nunca, o Brasil precisa de entendimento. Temos focado no papel pedagógico", disse ele.
Durigan, que, na ausência de Fernando Haddad, está na função de ministro da Fazenda em exercício, mostrou que entendeu o recado do Congresso a respeito da taxação das offshores. Perguntado sobre o tema, ele respondeu: "Nos pareceu razoável, para compensar a correção da tabela do Imposto de Renda, propor essa taxação. "Mas queremos fazer uma discussão transparente e recompor as receitas de que a Fazenda precisa", ressaltou, ao mencionar também a taxação dos fundos fechados. Mas evitou mencionar tudo o que pode ser feito para recompor as receitas. Afinal, este é um tema que será discutido por Haddad, a partir desta segunda-feira, quando volta ao Brasil.
Os investimentos são considerados hoje o principal gargalo para o crescimento do país. Nesse sentido, Mercadante aproveitou para provocar o banqueiro André Esteves, cobrando a volta dos IPOs — Inicial Public Offering — das empresas. 'Vamos retomar os IPOs", disse Mercadante. "Quero o mercado de capitais como parceiro", afirmou, ressaltando que a "aversão ao risco que veio com o caso das Americanas começa a se dissipar". Esteves não respondeu diretamente, mas fez um balanço positivo do Brasil: "Já não temos problemas de inflação, mais baixa que da Europa. Vamos olhar o lado bom, porque o copo está bem mais cheio do que se diz por aí", afirmou. O Forum Esfera 2023 prossegue hoje com painéis sobre cibersegurança e oportunidades para o Brasil, e terá uma exposição do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
A jornalista viajou a convite do Fórum Esfera Brasil
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