Enquanto a tecnologia se desenvolve de maneira cada vez mais célere, os governantes e formuladores de políticas públicas se deparam com um desafio: como garantir o acesso a essas inovações aos pequenos produtores e à agricultura familiar. Esse cenário foi descrito pelo gerente da Unidade de Tecnologia da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Bruno Jorge Soares, durante o CB Fórum Agro 4.0, realizado em parceria com a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI).
"Quando a gente fala em transformação digital, a gente acha que é só incorporação da tecnologia, mas você tem uma transformação da atividade, e uma transformação e um treinamento e uma capacitação das pessoas. Então essa abordagem holística é mais do que necessária quando a gente vai enfrentar o desafio da agricultura familiar", disse o gerente, nesta quinta-feira (31/8).
Atualmente, cerca de 95% dos produtores do país são considerados pequenos (quando a propriedade é menor que 100 campos de futebol) ou agricultores familiares (menos de 5 campos). A fim de assegurar a acessibilidade a tecnologias, como as que envolvem inteligência artificial no campo, o gerente da ABDI afirma que a agência está pronta para demonstrar ao produtor que ainda se sente inseguro com as mudanças tecnológicas, que os riscos podem ser mitigados com planejamento, antes da execução.
Luminárias inteligentes
Um dos exemplos desenvolvidos pela ABDI no meio urbano, e destacados por Bruno Soares, são as luminárias inteligentes. Segundo o gerente de tecnologia, foram criadas para garantir o uso da iluminação pública como uma ferramenta de habilitação para a conectividade. As luminárias foram desenvolvidas para comportar antenas que oferecem sinal 5G nos espaços públicos.
"A ABDI, com essa visão holística, tem desenvolvido e vem se aproximando e interagindo com o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) para pensar em formas de como essa tecnologia pode chegar de forma sustentável à política pública que apoia esses programas", ressaltou Soares.
Na visão do representante da ABDI, o foco das políticas de fomento é organizar os atores que participam de toda a cadeia da agricultura familiar; estimular a atuação de startups e empresas de base tecnológica para produzir soluções voltadas a essa modalidade; promover o intercâmbio com outros países mais avançados em soluções tecnológicas.
“Às vezes a gente fala da inovação, e me surpreende ter uma tecnologia para agricultura familiar na Europa, ou na Ásia, e não estar aqui no Brasil, sendo que o Brasil é um dos grandes produtores do mundo. Então estreitar essas relações e criar essas pontes também é papel da ABDI”, frisou.
Projetos destacados
Durante o segundo painel do evento, que teve como tema Tecnologias digitais para o pequeno produtor rural/agricultura familiar, foram apresentadas algumas ideias que já estão sendo executadas pelo MDA, em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Trata-se de projetos que envolvem agroindustrialização, melhoria da infraestrutura no campo e fortalecimento do cooperativismo foram alguns dos destaques.
Sobre essa parceria, o gerente da ABDI ressaltou a importância de executar com eficiência os projetos, além de garantir que a população siga informada com as políticas públicas que envolvem a agricultura familiar. "Dois desafios: pensar em como acelerar esse processo de aceleração da inovação para a agricultura familiar e modelos de negócio que sustentem a conectividade. Se a gente conseguir atacar essas duas pontas, a gente vai dar uma grande contribuição para o debate pelas políticas e para todas as iniciativas de apoio à agricultura familiar”, destacou.
*Estagiário sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza