22 de Novembro de 2024

Maca peruana é afrodisíaca? O que se sabe sobre efeitos do superalimento


Cultivada nos Andes por mais de dois milênios, a maca peruana se popularizou por seus benefícios nutricionais e sua fama de "alimento afrodisíaco".

A planta pertence à família das crucíferas, que inclui vegetais como brócolis, couve-flor e repolho, mas sua parte mais consumida é a raiz, em forma seca e moída para produzir suplementos em pó.

Entre os benefícios de sua composição nutricional rica e complexa, que confere à planta o título de 'superalimento', está a presença das macamidas, substâncias geralmente encontradas em plantas e que possuem ação anti-inflamatória. Além disso, a maca possui alto teor de carboidratos, proteínas, fibras, ácidos graxos, minerais e vitaminas D e C.

A real popularidade da maca peruana, no entanto, não se deve aos micro e macronutrientes — estes, que podem ser encontrados em outros alimentos — mas sim às alegações de benefícios para fertilidade, libido e regulação de hormônios femininos e masculinos.

No entanto, a questão é: quais destes supostos poderes têm respaldo científico?

A BBC News Brasil conversou com especialistas em alimentação e fitoterapia para esclarecer quais são os mecanismos do alimento no corpo, quais benefícios são conhecidos e quais ainda não foram comprovados.

Pelas regras da Anvisa, a maca peruana pode ser vendida no Brasil como alimento (sua apresentação mais comum é em forma de farinha), ou como suplemento alimentar — uma categoria que não necessita de registo na agência, mas deve ter sua fabricação regularizada junto às vigilâncias sanitárias locais.

A agência reguladora alerta, no entanto, sobre propagandas que mencionem eventuais efeitos do produto.

Embora a venda seja permitida, a Anvisa respondeu à BBC News Brasil que qualquer alegação terapêutica, de propriedade funcional ou de saúde da maca peruana é "completamente irregular", já que não há processo de avaliação de segurança e eficácia do produto na forma de medicamento.

A Anvisa já suspendeu propagandas irregulares do produto, cujos anúncios alegavam benefícios na regulação de libido, fertilidade e fadiga não comprovados.

O impacto da modulação da espécie sobre as questões hormonais ainda é discutido pelos cientistas — e, por enquanto, não há consenso.

Até agora, a maioria das pesquisas com o intuito de analisar os efeitos da maca peruana na produção de hormônios têm sido feitas em culturas de células ou em animais, explica Danielle Miranda, nutricionista especialista em fitoterapia.

"Isso faz com que infelizmente ainda não tenhamos evidências robustas em humanos — apesar das semelhanças com outros mamíferos, também temos muitas diferenças em nossos organismos", afirma ela, que é professora de pós-graduação em nutrição clínica no Senac.

Apesar de não ser possível estabelecer uma relação direta, de acordo com a nutricionista, estudos indicam melhora de sintomas relacionados aos desequilíbrios hormonais — algo que ela e colegas de profissão contam notar na prática clínica.

"Durante a menopausa, quando os ovários perdem sua função de produzir estrogênio, sintomas como 'ondas de calor' e cansaço passam a surgir como consequência. O uso da maca para essas pacientes demonstra melhora nesse tipo de incômodo."

A coordenadora do Ceplamt (Centro Especializado em Plantas Aromáticas, Medicinais e Tóxicas) da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), Marina Scopel, complementa que, em homens, a maca parece estimular a produção dos níveis de testosterona, mas isso não é nenhuma garantia de benefícios.

"Ainda que haja um aumento, isso não quer dizer que o hormônio estará livre para para exercer suas funções [como ganho de músculos e aumento da libido] de forma completa ou eficaz — outros fatores ou mecanismos no corpo podem afetar a utilização desse hormônio no organismo."

Em relação à libido e à potência sexual, as conclusões, por enquanto, são semelhantes às que dizem respeito à produção hormonal: há relatos de bons resultados, mas mais estudos são necessários para comprovar a relação.

Um dos principais benefícios advertidos em propagandas com o intuito de vender a maca como suplemento é a fertilidade masculina. No entanto, hoje não é possível afirmar com segurança que o alimento tenha esse poder, diz Rafael Christian de Matos, farmacêutico e mestrando da UFMG.

"Alguns estudos clínicos randomizados encontraram resultados promissores no uso da planta para aumentar o desejo sexual em casos de impotência. No entanto, a ciência ainda não confirmou se ela realmente melhora a produção de espermatozoides saudáveis e, consequentemente, a fertilidade masculina", diz

Segundo o especialista, há uma teoria — não comprovada — sobre o mecanismo que a planta exerceria para melhorar aspectos da sexualidade de homens.

“Para a produção, circulação e efetivo aumento da libido, os hormônios precisam passar por vasos sanguíneos. Se possuímos hábitos alimentares e de vida não saudáveis, esses vasos se danificam e podem interferir neste processo. As moléculas da maca peruana permitem a melhora do tônus das veias e artérias, favorecendo o transporte de citocinas e hormônios produzidos pelo sistema nervoso, que podem ser responsáveis pela melhora na saúde sexual.”

Também tem-se estudado a utilização da espécie para aumento da capacidade cognitiva (como memorização e aprendizado), redução dos níveis de glicose sanguínea, aumento de energia em contextos de atividade física e redução da percepção de fatiga.

“Mas, apesar do extenso uso tradicional pelas comunidades andinas com esses fins, novamente reforço: mais estudos precisam ser realizados para comprovação”, afirma Scopel.

Devido à falta de estudos científicos que avaliem a segurança do uso da maca peruana durante a gravidez, amamentação e na infância, é desaconselhável o consumo por esses grupos, de acordo com o nutrólogo Durval Ribas Filho, presidente da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia).

“Além desses, mulheres que tiveram câncer, especialmente o câncer de mama, que muitas vezes está relacionado ao estrogênio, devem evitar a maca peruana, uma vez que se considera possível que a planta mimetize hormônios sexuais, incluindo estrogênios e androgênios”, diz.

Pessoas com síndrome do intestino irritável também devem evitar o consumo de maca, devido à sua alta quantidade de fibras, que pode contribuir para distúrbios gastrointestinais em pacientes com essa condição, de acordo com especialistas.

Eles advertem que, para quem pode fazer uso do suplemento, ainda assim é necessário que haja a prescrição de um especialista. A dose adequada para cada pessoa vai depender da utilização de outros medicamentos, faixa etária, peso, estilo de vida e se há enfermidades pré-existentes.

Uma dose muito alta pode comprometer diferentes partes do corpo, especialmente o fígado, explicam.

“Tudo o que consumimos é processado pelo fígado, especialmente quando se trata de compostos bioativos, que também passam por metabolização no local. Isso significa que, dependendo do estado de saúde do órgão, pode haver uma sobrecarga”, alerta Danielle Miranda.

Scopel complementa que, quando abordamos acerca das plantas medicinais, tem-se a crença popular que estas apenas possuem benefícios e não apresentam riscos à saúde.

“Mas, se forem consumidas de forma inadequada podem gerar efeitos adversos que podem culminar até em óbitos.”

Ao entrar em nosso organismo, as diferentes formas de apresentação de plantas medicinais podem ter comportamentos distintos. Além disso, a dosagem de uso pode variar, assim como acontece com medicamentos.

"Extratos das plantas, por exemplo, geralmente contêm uma concentração maior de metabólitos ativos, o que resulta em dosagens normalmente menores em comparação com plantas simplesmente trituradas", explica a coordenadora do Ceplamt.

Além disso, é fundamental verificar a origem dos produtos vendidos como maca peruana, pois quando não há garantia de um processo logístico adequado, que inclui o plantio, colheita, processamento e distribuição, a segurança do tratamento e do paciente fica comprometida.

No contexto da maca peruana, a forma mais comum de consumo é na forma de pó, seja em cápsulas ou não.

“É importante estar ciente de que existe um grande mercado de produtos que não correspondem ao que é anunciado, muitas vezes contendo componentes sintéticos que representam sérios riscos à saúde. Portanto, é crucial ser cauteloso ao escolher produtos de maca peruana e garantir sua procedência e autenticidade”, diz o farmacêutico Rafael Christian de Matos.

Fonte: correiobraziliense

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