23 de Novembro de 2024

A caçada a líder de facção da Venezuela que já envolve 5 países da América do Sul


A detenção de Héctor Guerrero Flores, conhecido como Niño Guerrero e líder da gangue Trem de Aragua, não é mais apenas um objetivo das autoridades venezuelanas.

As forças policiais de Chile, Colômbia, Equador e Peru juntaram-se à busca por Guerrero, depois que o governo do presidente Nicolás Maduro não conseguiu prendê-lo durante a operação para recuperar o controle da prisão que servia como centro de operações da organização criminosa mais importante da Venezuela e uma das mais poderosas da região.

Em 21 de setembro, 11 mil policiais e militares venezuelanos entraram em Tocorón, uma prisão venezuelana localizada cerca de 140 quilômetros a sudoeste de Caracas, que foi dominada durante anos por Guerrero e pelos membros da Trem Aragua.

No entanto, as autoridades não encontraram Niño Guerrero dentro da prisão. Maduro disse que autoridades "corruptas" avisaram o líder do Trem de Aragua sobre a operação para que ele pudesse escapar.

"Infelizmente, devido à corrupção de um grupo de funcionários que já estão presos, alertaram esses pranes [como são conhecidos os chefes das prisões na Venezuela] e criminosos da operação de libertação. Eles estão detidos e serão julgados e punidos", disse Maduro num discurso televisionado na segunda-feira (25/9).

O presidente disse que seu governo oferecerá uma recompensa a quem apresentar informações sobre o paradeiro de Guerrero.

Afirmou que 88 pessoas ligadas à organização foram detidas e que pediu ajuda às autoridades de outros países para prender outros fugitivos do grupo criminoso.

"Nos coordenamos com os governos da Colômbia, Equador, Peru e Chile para que a operação de busca, perseguição e captura contra esses criminosos seja internacional", afirmou.

O ministro venezuelano das Relações Interiores, Remigio Ceballos, acrescentou que a Venezuela está posicionada "geopoliticamente para colaborar e contribuir com os órgãos de segurança cidadã" de outros países, com os quais está em "contato permanente".

No entanto, a ONG Observatório Prisional Venezuelano, especializada na defesa dos direitos humanos da população carcerária, alertou em um comunicado que Guerrero tinha negociado com o governo a sua libertação antes de assumir o controle da prisão.

O ministro do Interior do Peru, Vicente Romero, garantiu que as autoridades peruanas redobraram o trabalho de vigilância e inteligência policial para impedir a entrada do Niño Guerrero no país.

Por sua vez, o general Óscar Arriola, chefe da Direção Nacional de Investigação Criminal do Peru, disse que o governo do seu país oferecerá uma recompensa a quem fornecer informações que levem à captura de Guerrero.

No Ministério do Interior peruano "há uma comissão de recompensas que funciona no Vice-Ministério da Ordem Interna", disse Arriola segundo jornais locais.

Acrescentou que as autoridades de Lima atuam em coordenação com o governo da Venezuela e mantêm "comunicações oficiais" com Colômbia, Equador e Chile para capturar o líder do Trem de Aragua.

"Primeiro (decidimos) olhar bem de perto para a fronteira, ao mesmo tempo fazer uma análise, e depois a partir da investigação e da inteligência olhamos também para aquelas pessoas que temos sob investigação e que são os principais membros deste mega-gangue transnacional", indicou.

Por sua vez, as autoridades colombianas emitiram um mandado de prisão contra Guerrero.

Sandra Patricia Hernández, comandante da Polícia Metropolitana de Bogotá, destacou que as autoridades estão trabalhando em conjunto com a Interpol diante da possibilidade de Guerrero estar na Colômbia, informou o jornal El Tiempo.

O ministro do Interior do Equador, Juan Zapata, disse ao jornal El Expreso que seu gabinete tomou “as ações correspondentes” para impedir que Guerrero entrasse em território equatoriano.

Os integrantes do Trem de Aragua estão no radar das autoridades de outros países sul-americanos há mais de um ano.

Em julho de 2022, o presidente Gabriel Boric disse que os membros dessa organização não eram “bem-vindos no Chile”.

“Vamos persegui-los, vamos prendê-los e vamos expulsar os que forem necessários”, acrescentou. “Não vamos tolerar a preocupação com o crime.”

Héctor Rusthenford Guerrero Flores nasceu e cresceu em Maracay, capital do estado de Aragua, no centro-norte da Venezuela.

As autoridades judiciais venezuelanas informam que Guerrero iniciou a sua carreira criminosa no início dos anos 2000 e foi acusado de disparar contra um agente da polícia que morreu em 2005.

'Niño Guerrero' foi preso em 2010, quando entrou pela primeira vez na prisão de Tocorón, sob a acusação de tráfico de drogas, homicídio e roubo.

Dois anos depois conseguiu escapar e cometeu novos crimes que o levaram a se tornar um dos criminosos mais procurados da Venezuela.

Guerrero foi capturado novamente em 2013 e novamente detido na prisão de Tocorón.

Foi condenado a 17 anos de prisão pelos crimes de homicídio, tráfico de droga, roubo de identidade e ocultação de armas de guerra, entre outros crimes, em 2018, pelos quais não cumpriu a totalidade da pena.

A jornalista e pesquisadora venezuelana Ronna Rísquez, autora do livro "El Tren de Aragua. A gangue que revolucionou o crime organizado na América Latina", alerta que a intervenção na prisão onde surgiu esta mega gangue não significa que a organização tenha sido desmantelada.

Além de terem encontrado armas de guerra, granadas, explosivos, lança-foguetes e munições, as autoridades venezuelanas disseram que descobriram túneis para o exterior na prisão e que a fuga de alguns presos foi frustrada durante a operação.

O presídio contava com instalações semelhantes às de um hotel, como piscina, boate, playground, cassino, restaurantes com esplanada, bares, lojas de bebidas, caixas eletrônicos e até um zoológico que exibia onças, pumas e avestruzes.

Fonte: correiobraziliense

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