20 de Setembro de 2024

Câncer de vulva: como silêncio está dificultando diagnóstico de doença pouco divulgada


A maioria das pessoas já ouviu falar do câncer do colo do útero ou cervical, do câncer do ovário e, talvez, do útero. Mas existe um tipo de câncer ginecológico que raramente é mencionado: o câncer da vulva.

E este é um silêncio mortal. A organização britânica Cancer Research UK afirma que 69% dos casos de câncer da vulva podem ser prevenidos.

O tratamento deste tipo de câncer em estágio terminal pode ser devastador. E, em casos extremos, pode incluir a retirada completa da vulva.

Por isso, é fundamental aumentar a consciência sobre esta condição. Mas os tabus existentes em torno da genitália fazem que muitas mulheres e pessoas com vulvas nem mesmo saibam que têm uma vulva.

A vulva é a parte externa dos genitais femininos. Ela inclui os lábios maiores e menores, o clitóris e a entrada da vagina.

O câncer da vulva é considerado raro. Ele representa menos de 1% dos diagnósticos de câncer entre as mulheres britânicas.

Mas isso não significa que ele seja menos importante. Afinal, quatro pessoas são diagnosticadas por dia no Reino Unido e as projeções indicam que as taxas de mortalidade devem aumentar em 20% nas próximas décadas.

A maior parte dos casos de câncer da vulva está relacionada a infecções por papilomavírus humano (HPV) ou por uma condição chamada líquen escleroso.

Os especialistas acreditavam que o câncer da vulva fosse mais comum em pessoas idosas. Mas sua incidência está aumentando entre as mulheres mais jovens – parte delas, provavelmente, devido ao aumento nas infecções por HPV.

Muitas pessoas sabem que o HPV pode gerar câncer do colo do útero. Mas o fato menos conhecido é que o HPV também pode causar outros tipos de câncer, como o da vulva, ânus, pênis e vagina.

A vacina contra o HPV protege contra todos os tipos de câncer relacionados ao vírus, incluindo o da vulva.

A outra condição importante relacionada ao câncer da vulva é o líquen escleroso, uma condição crônica da pele que, tipicamente, causa intensa coceira e manchas brancas ou cinzentas.

O líquen escleroso é associado a um tipo de pré-câncer chamado neoplasia intraepitelial vulvar diferenciada (NIVd). Este tipo de NIV tem maior probabilidade de se desenvolver e se tornar câncer do que o tipo resultante da infecção pelo HPV.

Um estudo realizado na Dinamarca comparou o tempo de diagnóstico de todos os tipos de câncer ginecológico. A conclusão foi que o câncer da vulva é o que leva mais tempo para ser diagnosticado.

Cientistas indicam que isso se deve aos sintomas observados nos seus estágios iniciais, que, muitas vezes, são vagos.

Mas também sabemos que a falta de conhecimento sobre as condições da vulva e a normalização dos sintomas observados naquela região, além da vergonha e do constrangimento, fazem com que as mulheres demorem para procurar ajuda.

Além disso, as mulheres que buscam ajuda para tratar de sintomas da vulva, muitas vezes, não são examinadas e recebem diagnósticos errados de candidíase ou sintomas da menopausa.

Se você estiver preocupada com sintomas de câncer da vulva ou líquen escleroso, talvez você precise insistir para que seja examinada.

O Reino Unido, por exemplo, não tem atualmente um programa de detecção de câncer da vulva porque ele é muito raro. Mas a paciente, durante o exame do colo do útero, pode pedir à enfermeira para também examinar a vulva em busca de qualquer sinal visível de câncer.

Os sintomas e sinais de câncer da vulva incluem:

Se você tiver qualquer um destes sintomas, deve procurar ajuda. Mas não entre em pânico. Eles também podem ser causados por outras condições, que podem ser benignas.

É importante que você se familiarize com a sua vulva e compreenda o que é normal para você. Para isso, a Universidade de Manchester, no Reino Unido, elaborou um informativo (em inglês) para ensinar às mulheres como fazer o autoexame da vulva.

Iniciativas como o projeto A Grande Muralha da Vulva podem ajudar as mulheres a entender que a vulva pode ter as mais diversas formas e tamanhos.

Se for detectado na sua fase inicial, o câncer da vulva pode ser tratado com excisão local, retirando as células cancerosas e uma faixa de células normais à sua volta. Mas o tratamento do câncer da vulva em estágio avançado pode ser brutal

Dependendo de onde esteja o tumor e do seu tamanho, a cirurgia pode significar a remoção, no todo ou em parte, dos lábios maiores ou menores (os dois conjuntos de lábios que compõem a maior parte da anatomia vulvar) e até mesmo do clitóris.

Não é preciso ter muita imaginação para entender o impacto deste tipo de tratamento sobre a qualidade de vida de uma pessoa.

A recuperação da cirurgia da vulva costuma ser um longo processo. Durante esse período, é impossível ficar sentada – a mulher só pode ficar de pé ou se deitar.

A remoção dos nódulos linfáticos pode causar linfedema, que é um inchaço doloroso das pernas, causado pelo acúmulo do fluido linfático nos tecidos do corpo. As mulheres podem precisar usar meias de compressão diariamente pelo resto da vida.

E é desnecessário dizer que a atividade sexual pode ser menos atraente e prazerosa depois da cirurgia.

Como ocorre com muitas condições de saúde, o câncer da vulva não afeta todas as pessoas da mesma forma.

Globalmente, a idade em que as mulheres são diagnosticadas com câncer da vulva é cerca de 10 a 15 anos menor em países de renda mais baixa, como a África do Sul, em comparação com os países ricos. O motivo é porque na África do Sul existe maior incidência do HPV.

Na Inglaterra, a incidência de câncer da vulva é 74% maior entre as pessoas mais necessitadas.

Sintomas vulvares persistentes não devem ser considerados normais. O aumento da consciência pode evitar que algumas mulheres sejam diagnosticadas com câncer da vulva em estágio avançado e aumentar os índices de sobrevivência.

Por isso, é preciso levar a sério as dores e coceiras na vulva, falar sobre o câncer da vulva e enfatizar a importância da vacina contra o HPV.

* Sophie Rees é pesquisadora da Universidade de Bristol, no Reino Unido.

Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado sob licença Creative Commons. Leia aqui a versão original em inglês.

Fonte: correiobraziliense

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