23 de Novembro de 2024

O que é 'dating déjà vu', que nos faz escolher sempre o mesmo tipo de parceiro


Você continua saindo com pessoas com a mesma personalidade e até traços físicos mesmo após uma série de experiências malsucedidas?

Se a resposta for sim, então você pode estar sendo vítima do "dating déjà vu", um novo conceito que você talvez não conheça, mas que certamente lhe é familiar.

“Dating” é um termo em inglês para designar encontros românticos; “déjà vu” vem do francês e significa “sensação de já ter vivido algo semelhante no passado”.

A professora Jessica Maxwell, pesquisadora e psicóloga social da Universidade McMaster em Ontário, Canadá, diz que o "dating déjà vu" vem da suposição de longa data de que "todos nós temos um tipo preferido", uma teoria que ela diz ser apoiada por muitos estudiosos do assunto, como ela própria.

"É verdade que algumas pessoas tendem a sair sempre com o mesmo tipo de parceiro e são atraídas pelo mesmo tipo de padrão de namoro", explica ela, em entrevista à BBC News Mundo, o serviço de notícias em espanhol da BBC.

"É um fenômeno do qual os estudiosos do relacionamento estão cientes, embora não usemos necessariamente esse termo."

A psicóloga Leslie Becker-Phelps, autora do livro Insecure in Love ("Inseguro no Amor", em tradução livre), explica que geralmente falamos em "dating déjà vu" quando uma pessoa repete relacionamentos problemáticos, mas isso não significa apenas experiências negativas.

"Você pode ter se apaixonado perdidamente por alguém e querer repetir essa história de amor saudável", acrescenta.

A especialista destaca que na psicologia frequentemente há pacientes que repetem padrões ao longo da vida, algo que no mundo do namoro "é ainda mais comum".

"Temos a tendência de procurarmos pessoas com características semelhantes e nos apaixonarmos por elas porque nos sentimos confortáveis com o que nos é familiar", continua ele.

Leslie acrescenta que numa situação saudável alguém pode ser atraído por uma qualidade positiva, como bondade, empatia ou generosidade, e no final os relacionamentos funcionam.

"Mas algumas pessoas são atraídas por dinâmicas e características que são tóxicas para elas e é aí que isso se torna um problema."

Ambos os psicólogos citam a teoria do apego como uma das principais razões pelas quais muitos tendem a insistir no mesmo erro.

Formulada pelo psiquiatra e psicanalista britânico John Bowlby (1907-1990) após o fim da 2ª Guerra Mundial, trata-se de uma teoria psicológica e evolutiva que tenta explicar as relações humanas.

Bowlby defende que desde quando somos jovens desenvolvemos uma relação com nosso cuidador principal, geralmente nossa mãe ou nosso pai, que nos marca e definirá a nossa procura de proximidade em relacionamentos futuros.

A teoria propõe quatro tipos principais de apego: Apego Seguro; Apego Evitante; Apego Ansioso/Ambivalente; Apego Desorganizado.

De acordo com psicólogos, você desenvolverá um apego seguro se seu cuidador reagir de forma adequada e consistente às suas necessidades quando criança, formando assim com sucesso um vínculo parental estável.

No apego evitante, a pessoa busca manter distância da pessoa alvo de seu apego. No apego ambivalente, a pessoa quer proximidade com seu perceiro, mas ao mesmo tempo mantém uma resistência. No apego desorganizado, o comportamento da pessoa é confuso, sem um padrão claro.

Se você tem um pai ou cuidador excessivamente protetor, intrusivo, negligente ou inconsistente, provavelmente terá um apego inseguro, que muitas vezes leva certas pessoas a acabarem em relacionamentos tóxicos.

"A menos que você trabalhe ativamente para mudar seu apego, você pode acabar seguindo o mesmo padrão", alerta a psicóloga Jessica Maxwell, pesquisadora da Universidade McMaster, em Ontário.

"Sabe-se que pessoas que têm apegos evitantes acabam ficando com pessoas que têm apegos ansiosos/ambivalentes, porque ambos se atraem", acrescenta.

"Mas esta é a pior coisa que pode acontecer porque acabam com pessoas dependentes que agravam o desejo de manter distância."

Em seu livro Insecure in Love, Leslie Becker-Phelps explica como os apegos podem criar obstáculos para conexões saudáveis e seguras em relacionamentos românticos adultos.

Sua pesquisa se concentra no apego ansioso/ambivalente e em como ele pode resultar em ciúmes, dependência e preocupação.

A psicóloga garante que quem tem um apego evitante ou ansioso/ambivalente tem maior probabilidade de repetir dinâmicas problemáticas, ou "os dating déjà vus", devido às inseguranças que podem ter desenvolvido na infância.

"Se você se vê como uma pessoa que merece amor e encontra alguém emocionalmente disponível, é provável que desenvolva um relacionamento saudável", explica.

"Mas aqueles que se consideram indignos de amor ou de afeto recorrem a outras pessoas para ajudá-los a se sentirem melhor consigo mesmos."

Becker-Phelps diz que pessoas com apego ansioso/ambivalente podem desenvolver um relacionamento saudável com quem lhes ofereça o apoio de que precisam.

"Por outro lado, infelizmente, é comum que acabem presas em relacionamentos com parceiros evitativos que as rebaixam e que se afastam quanto mais elas se apegam."

A especialista acrescenta que geralmente esse tipo de relação termina em um círculo vicioso em que a pessoa com apego ansioso/ambivalente busca a pessoa com apego evitativo e esta se afasta ao ver que a pessoa ansiosa/ambivalente está se aproximando demais, mas lhe dá um pouco de carinho, o suficiente para que ela não desista do relacionamento.

É uma dinâmica que pode durar anos e que, segundo a psicóloga, é uma das mais comuns no "dating déjà vus".

Jessica Maxwell assinala que outros fatores, como baixa autoestima, também podem desencadear o "dating déjà vu".

Segundo pesquisa publicada em abril deste ano na revista científica Personality and Social Psychology Bulletin, aspectos como beleza, humor e inteligência perdem importância na busca de um parceiro à medida que ficamos mais velhos.

Mas preferências individuais por características como cordialidade, honestidade, autoconfiança ou espírito aventureiro permanecem, tanto em homens como em mulheres.

Portanto, pode-se concluir que muitas pessoas que têm um tipo preferido raramente deixam de tê-lo.

Segundo Becker-Phelps, um dos primeiros passos para deixar de se apaixonar pelo mesmo tipo de pessoa, quando isso é problemático, é a autoconsciência e a autocompaixão.

"Se você tiver consciência de que está repetindo um padrão que não combina com você, e fizer isso com autocompaixão, sem se culpar e sem se sentir mal, poderá antecipar e evitar repetir o mesmo erro", destaca.

Ao identificar o padrão, você poderá calibrar suas opções e decidir se deseja embarcar em outra aventura semelhante à anterior ou tentar um relacionamento diferente, que poderia ser mais saudável.

Maxwell também recomenda autoconsciência e terapia para parar de cometer o mesmo erro.

A psicóloga afirma que a chave para um relacionamento saudável e bem-sucedido é estar com um parceiro sensível que atenda às suas necessidades.

"Alguém amoroso que tenta te entender e te apoiar, e que te dá validação."

Maxwell também acredita que devemos deixar de lado a ideia de que é possível encontrar a sua "alma gêmea" ou "cara-metade" com quem você vai compartilhar exatamente os mesmos gostos.

"É importante entender que não existe apenas um tipo de pessoa com quem você pode ser feliz e que é preciso ter a mente aberta para encontrar a felicidade."

Fonte: correiobraziliense

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