Em um mundo assolado por crises, entre a guerra na Ucrânia, os golpes de Estado na África e as tensões geopolíticas, o Prêmio Nobel da Paz é anunciado como a grande incógnita deste ano.
O tão esperado prêmio da paz, ponto-chave da temporada do Nobel, será anunciado na sexta-feira (6/10) em Oslo, mas poucas vezes a situação no planeta tornou as previsões tão difíceis.
"A triste realidade é que não há muitos avanços na paz mundial em 2023", afirmou Dan Smith, diretor do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri).
"Há mais guerras agora, quase o dobro das guerras que havia em 2010, por exemplo. Portanto, não acredito que encontraremos um pacificador para o Prêmio Nobel da Paz este ano", disse Smith à AFP.
No ano passado, tendo como pano de fundo a guerra na Ucrânia, o Nobel foi atribuído a um trio simbólico de defensores dos direitos e liberdades: a ONG russa Memorial - oficialmente dissolvida na Rússia -, o Centro Ucraniano para as Liberdades Civis e o militante bielorrusso preso Ales Beliatsky.
Depois de consagrar outro crítico do Kremlin no ano anterior – o jornalista russo Dmitri Mouratov, premiado ao lado da jornalista filipina Maria Ressa –, o Comitê do Nobel norueguês poderá sentir-se tentado desta vez a olhar para outra área geográfica.
Por exemplo, as mulheres iranianas que expressaram a sua indignação e, em alguns casos, retiraram o véu após a morte da jovem Mahsa Amini em setembro de 2022 em Teerã, ou os militantes que lutam pelos direitos das mulheres, especialmente na educação, em países onde esses direitos são desrespeitados.
O diretor do Instituto de Pesquisa para a Paz de Oslo, Henrik Urdal, gostaria que o Nobel premiasse a iraniana Narges Mohammadi, atualmente presa, e a afegã Mahbouba Seraj, que lutaram "pelo acesso à política e à sociedade".
Seu homólogo do Sipri, Smith, está mais inclinado a um prêmio que destaque a urgência da mudança climática e menciona o movimento Sextas-Feiras pelo Futuro, inspirado pela sueca Greta Thunberg, juntamente com o cacique brasileiro Raoni Metuktire, defensor dos direitos dos povos indígenas contra o desmatamento.
Outros, deprimidos pela atual situação geopolítica, acreditam que o Comitê Nobel poderá não atribuir o prêmio da paz este ano.
Mas a comissão não gosta dos "anos em branco" – o último aconteceu em 1972 – por considerá-los uma admissão de fracasso, no ano em que recebeu muitas indicações: 351.
A lista permanece em segredo há 50 anos, o que torna as previsões ainda mais difíceis.
Milhares de pessoas em todo o mundo (legisladores e ministros de todos os países, vencedores anteriores, alguns professores universitários) podem propor um nome antes do prazo final de 31 de janeiro.
Os cinco membros do Comitê do Nobel também podem indicar nomes na sua primeira reunião anual.
Entre os candidatos mencionados estão o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) ou tribunais como a Corte Internacional de Justiça ou o Tribunal Penal Internacional.
O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, é o favorito dos sites de apostas online, mas os especialistas consideram pouco provável que o Prêmio Nobel seja atribuído ao líder de um país em guerra.
O historiador especializado no Prêmio Nobel, Asle Sveen, aponta para o secretário-geral da ONU, António Guterres, que há um mês afirmou que a "família global é bastante disfuncional".
Para Sveen, este prêmio seria um impulso bem-vindo ao multilateralismo, aos esforços de paz, aos direitos humanos e à defesa do clima e do meio ambiente, em um momento em que todas estas causas estão sendo atacadas.
O veredicto será anunciado na sexta-feira, às 11h (6h no horário de Brasília), no Instituto Nobel.
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