O Sínodo dos Bispos, o encontro mundial sobre o futuro da Igreja Católica, começa nesta quarta-feira (4/10) no Vaticano entre grandes expectativas de abertura e a preocupação dos conservadores com temas como o tratamento aos divorciados e aos fiéis da comunidade LGBTQIA+.
A reunião acontecerá ao longo de quatro semanas em Roma, após dois anos de consultas em todo o mundo, e também deve abordar temas como as mulheres diaconisas e o celibato sacerdotal.
O papa Francisco não perdeu tempo e já na missa de abertura apresentou o tom da reunião, quando pediu uma Igreja "hospitaleira de portas abertas a todos". Também recordou que no Sínodo não há espaço para "estratégias humanas, cálculos políticos ou batalhas ideológicas".
Até 29 de outubro, os 365 membros com direito a voto e mais de 100 especialistas debaterão a portas fechadas, antes de apresentar suas propostas ao pontífice. Francisco terá a palavra final sobre a eventual aplicação das medidas.
Porém, antes do início do evento, cinco cardeais conservadores pediram publicamente ao papa que reafirme a doutrina católica sobre o tratamento aos casais homossexuais e a ordenação de mulheres.
As perguntas do grupo aparecem em um texto com o título "Dúvidas", enviado ao lado de uma carta aberta aos fiéis na qual alertam para o risco de "confusão" e "erro". Também expressam o temor de que os temas apresentados no Sínodo possam afastar muitos católicos.
Em sua resposta, o pontífice de 86 anos pareceu sugerir uma via para a bênção dos casais homoafetivos por parte dos clérigos, algo não reconhecido pela Santa Sé mas praticado em países como Alemanha e Bélgica.
Embora insista que a Igreja reconhece apenas o casamento entre homem e mulher, o papa afirmou que "não podemos ser juízes que apenas negam, rejeitam e excluem".
"A prudência pastoral debe discernir adequadamente se há formas de bênção, solicitadas por uma ou mais pessoas, que não impliquem um conceito equivocado de matrimônio", escreveu.
A 16ª Assembleia Geral Ordinária começou oficialmente na manhã desta quarta-feira com uma missa na Praça de São Pedro do Vaticano, com a participação do papa, que discursará durante a tarde, antes do início formal dos debates.
Diante das "expectativas, esperanças e alguns medos" provocados pelo Sínodo, Francisco recordou que o encontro "não é um Parlamento".
"Não estamos aqui para fazer uma reunião parlamentar ou um plano de reforma, mas para caminhar juntos", destacou, antes de alertar contra "algumas tentações perigosas: ser uma Igreja rígida, que se arma contra o mundo e olha para trás; ser uma Igreja apática, que se submete às modas do mundo; ser uma Igreja cansada, fechada em si mesma".
Desde que assumiu o pontificado em 2013, Francisco trabalha para reformar a governança da Igreja, que pretende tornar menos vertical e mais próxima dos fiéis, embora tenha esbarrado em uma forte resistência interna.
Pela primeira vez na história da Igreja, freiras e mulheres laicas poderão participar nas consultas do Sínodo e inclusive votar.
"Entre os bispos há uma cultura eclesiástica. Com a laicidade, isso não funcionará mais, não se contentarão com palavras bonitas, haverá uma demanda por procedimentos, vontade de mudar, de eficiência", declarou à AFP uma analista da Santa Sé que pediu anonimato.
"Neste sentido, Francisco está ultrapassando os limites e, por isso, muitos sentem medo", acrescentou.
Uma segunda sessão da assembleia está programada para outubro de 2024, o que significa que nenhuma decisão concreta deve ser adotada rapidamente.
Mas as expectativas são elevadas, assim como a preocupação, e as consultas revelaram até o momento opiniões diversas entre as Igrejas nacionais e entre estas e o Vaticano.
O papa Francisco alertou no sábado sobre a necessidade dos católicos "caminharem juntos". E pediu ao Sínodo que permaneça acima das "conversas, da ideologia e da polarização".
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