23 de Novembro de 2024

Produção do cacau se renova na Bahia com foco nos jovens


Ilhéus (BA) — Fruto originário da Região Amazônica e matéria-prima do chocolate, o cacau tem origem nobre. Em latim, é conhecido pelo nome científico Theoromabroma, que significa "comida dos deuses". Ao longo dos séculos, resistiu a diversas pragas. Mas, em 2023, os temores de redução da oferta global deixam a indústria preocupada para que essa iguaria não falte aos consumidores de um mercado bilionário. No Brasil, por exemplo, o faturamento do mercado de chocolates gira em torno de R$ 21 bilhões por ano.

Atualmente, o país está na 6ª colocação entre os maiores produtores de cacau, conforme a Organização Internacional do Cacau (ICCO, na sigla em inglês). Além disso, é o sétimo maior mercado consumidor. E, como a produção global tem ficado abaixo da demanda, iniciativas de fabricantes como a Nestlé buscam focar na formação de jovens produtores. O objetivo é manter a tradição cacaueira, permitir o acesso a novas tecnologias e compartilhar experiências.

 Produção de cacau em Ilhéus, na Bahia. Formação de sucessores nas pequenas lavouras.
Produção de cacau em Ilhéus, na Bahia. Formação de sucessores nas pequenas lavouras (foto: Carlos Vieira/CB)

Em solo brasileiro, a multinacional suíça implementou o Programa Cacauicultores do Futuro, realizado em parceria com o Instituto Ampliê. O programa busca preparar jovens produtores à sucessão familiar, além de promover ações para uma indústria sustentável e auxiliar na manutenção da cadeia produtiva do cacau.

"Um dos maiores desafios dos produtores é a gestão da propriedade. O programa tem como conteúdo a gestão, a inovação regenerativa e o empreendedorismo. Nosso objetivo é tirar o jovem da área de conforto para a transição da sociedade mais sustentável", afirma Igor Mota, gerente de agricultura da Nestlé.

grafico cacau
Brasil está entre Nigéria e Indonésia no ranking mundial da produção de cacau (foto: grafico cacau)

O Cacauicultores do Futuro tem foco nos quatro estados que produzem cacau no país. Lançado em 2022, treinou 35 jovens no Espírito Santo. Em agosto deste ano, formou 40 jovens na Bahia e, neste mês, outros 40, no Pará. Ao todo, foram recebidas 230 inscrições. E, no próximo ano, estão previstas outras duas turmas de 40 alunos, sendo uma na Bahia e uma em Rondônia.

Erllayne da Silva Neris de Araújo, 28 anos, é uma dos 40 integrantes da turma no curso de uma semana em Ilhéus. "Foi muito interessante e proveitoso", conta a mãe de Noah, de pouco mais de dois anos, e grávida do segundo filho, Ethan.

Erllayne e o marido Rodrigo Costa, 36, administram uma propriedade de 35 hectares, a Fazenda Liberdade, próxima a Ilhéus. O local busca se especializar na produção do cacau especial e vem conseguindo índices bastante positivos de produtividade, chegando em um dos anos a colher 130 arrobas por hectare. O lucro, por enquanto, está sendo investido na terra que já tem cerca de 30 mil pés plantados em dois tipos de sistemas: cabruca e pleno sol.

"O desafio é muito grande, porque a produção e o preço oscilam muito. Mas ele é a nossa aposta para o crescimento da produção sustentável, pois muitos países ainda utilizam mão de obra infantil para serem competitivos", diz Rodrigo Costa, que tem a ajuda dos pais Josely e Eliane na administração da fazenda. "Estamos caminhando e a nossa expectativa é que vamos conseguir equilibrar as contas no ano que vem", afirma.

O técnico em agronomia Misael Silva Oliveira frequentou o curso para jovens produtores promovido pela Nestlé em Ilhéus, realizado em agosto. Aos 27 anos, ele busca se aperfeiçoar como produtor de cacau para ajudar o pai a trabalhar, aos fins de semana, em uma propriedade de 10 hectares que faz parte de uma espécie de cooperativa. A ideia dele é adquirir mais conhecimento para compartilhar com outras famílias da associação.

"Estamos começando, mas todo conhecimento tem que ser compartilhado. A produção enxerga, no mercado de cacau, um negócio promissor", afirma. "Se todos os filhos de proprietários tomarem a fazenda e investirem também na produção, vamos conseguir melhorar a produtividade do cacau", afirma.

A iniciativa focada nos jovens produtores faz parte do Nestlé Cocoa Plan no Brasil, medida implementada há 13 anos para o aumento da produtividade dos mais de 4 mil parceiros que tem o objetivo de alcançar 100% do cacau sustentável até 2025. E um dos principais estímulos é o manejo das lavouras, principalmente, no sistema cabruca.

Os produtos das marcas KitKat, Alpino, Talento, Prestígio, Baton, Choco Trio, Passatempo, Bono, Nescau e Chocolate em pó Dois Frades (mais conhecido como o Chocolate do Padre) são desenvolvidos com cacau sustentável adquirido por meio do programa. "Queremos estar ao lado dos jovens, que são a futura geração, para desenvolver ainda mais a produção local e ter uma cadeia sustentável e próspera no país", afirma Igor Mota, gerente de agricultura da Nestlé.

O programa oferece assistência técnica em todas as fazendas certificadas e paga um valor adicional pelo cacau sustentável adquirido, que varia de acordo com o fornecedor e a classificação dos produtores parceiros. Assim, a empresa busca desenvolver um relacionamento de longo prazo com os agricultores. Além disso, há ferramentas de geomonitoramento para garantir que não haja desmatamento nas áreas contempladas no programa.

* A repórter viajou a convite de Nestlé

Fonte: correiobraziliense

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