Nem todo acúmulo excessivo de gorduras deve ser taxado imediatamente como obesidade. Na verdade, diferentes doenças e condições podem afetar o peso e a estrutura corporal de um indivíduo. Se o excesso de gordura for localizado em uma mulher, afetando unicamente as pernas, por exemplo, existe a possibilidade de ser lipedema — oficialmente, a condição só entrou na Classificação Internacional de Doenças (CID) em 2022.
Tanto lipedema quanto obesidade são condições de saúde crônicas, e podem dificultar a realização de atividades físicas, prejudicando o dia a dia do indivíduo. Além disso, existe a sobreposição de problemas, ou seja, pacientes com lipedema também podem ter obesidade, segundo a Cleveland Clinic, em artigo.
Apesar das coincidências, há diferença entre lipedema e obesidade, como veremos a seguir:
"O lipedema é uma doença crônica e progressiva caracterizada pela deposição anormal de gordura em membros inferiores e, às vezes, pode acometer membros superiores", afirma a Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular – Regional São Paulo (SBACV-SP), em artigo.
Segundo a entidade, essa doença vascular crônica atinge "quase que exclusivamente mulheres", podendo surgir durante a puberdade. Entre as possíveis causas, há "um componente hormonal na sua fisiopatologia", mas ainda não se sabe a causa exata do acúmulo de gordura em partes específicas do corpo.
Vale dizer que, até o momento, são conhecidos cinco tipos diferentes de lipedema, dependendo da região do corpo que a doença acomete. Por exemplo, em um dos quadros mais comuns, a gordura se acumula apenas entre a região do umbigo e dos quadris. Em outros casos, esse acúmulo é observado apenas do joelho para baixo (panturrilha), na perna como um todo ou ainda apenas nos braços.
Para a SBACV-SP, as pessoas que têm lipedema costumam sentir dor — especialmente, quando ocorre a palpação —, dificuldade de mobilidade, inchaço e hematomas. Em casos mais avançados e graves, é comum o comprometimento do sistema linfático, marcado pela ocorrência do linfedema.
"A prevalência estimada de lipedema na população de mulheres brasileiras é de 12,3%", segundo pesquisadores do Instituto de Medicina Avançada (Amato), em estudo publicado na revista científica Jornal Vascular Brasileiro. "Estimamos, de forma conservadora, que 8,8 milhões de mulheres brasileiras adultas com idade entre 18 e 69 anos possam apresentar sintomas sugestivos de diagnóstico de lipedema", complementam.
Conforme define a Organização Mundial de Saúde (OMS), a obesidade é o acúmulo anormal ou excessivo de gordura que apresenta risco à saúde. Esse acúmulo tende a ser homogêneo — braços e pernas acumulam níveis próximos de gordura — e afeta igualmente homens e mulheres.
Para determinar um quadro de obesidade, pode-se usar a ferramenta conhecida como Índice de Massa Corporal (IMC). Se o IMC for igual ou maior que 30, a pessoa é classificada como obesa. No entanto, cabe observar que nem sempre o resultado do IMC é definitivo, já que a medida "pode não corresponder ao mesmo grau de gordura em indivíduos diferentes", explica a OMS. Para uma análise mais precisa, é necessário o parecer de um clínico.
Entre as diferenças entre lipedema e obesidade, é preciso analisar, em primeiro lugar, como a gordura se distribui pelo corpo. No caso da doença vascular, alguns membros ou regiões acumulam excessivamente essa gordura, enquanto outras partes parecem menos "cheias". De forma geral, os pés e as mãos não acompanham esse padrão irregular de acúmulo.
Além disso, a SBACV-SP explica: "A gordura do lipedema é diferente da obesidade, tende a formar nodulações no subcutâneo, além de ter um componente inflamatório importante". Outra diferença é o público mais afetado, já que o lipedema é mais comum em mulheres, enquanto a obesidade é igualmente distribuída entre homens e mulheres.
Por fim, os depósitos de gordura de pessoas com lipedema tendem a doer, quando são apalpados. Em indivíduos com obesidade, não é esperado esse tipo de reação na maioria dos pacientes.
O diagnóstico de lipedema é realizado através de exame clínico, podendo ser feito por uma médico especializado no sistema vascular. Além disso, exames de imagem, como ressonância magnética, podem ajudar a confirmar o quadro. Em caso de obesidade, o mais indicado é também buscar por orientação médica. Em comum, ambos os quadros tendem a melhorar com tratamentos adequados, apesar do lipedema não ter cura ainda conhecida.
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