Os Estados Unidos reafirmaram o apoio a Israel contra o Hamas, nesta quinta-feira (12/10), mas também consideraram as "aspirações legítimas" dos palestinos e as "necessidades humanitárias" em Gaza, que tem sido bombardeada diariamente desde o ataque sem precedentes lançado pelos islamitas, causando milhares de mortes em ambos os lados.
"Vocês podem ser fortes o bastante para se defenderem" por si mesmos, "mas enquanto existirem os Estados Unidos [...] vamos estar sempre ao seu lado", afirmou o chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, após se reunir em Tel Aviv com o primeiro-ministro israelense, o ultranacionalista Benjamin Netanyahu.
Israel jurou "destruir" o Hamas, que mantém cerca de 150 pessoas como reféns em Gaza desde sua incursão em território israelense no sábado passado. Desde então, Israel tem bombardeado o empobrecido enclave de 360 km², onde vivem 2,3 milhões de habitantes, alegando atingir alvos do Hamas. Esses bombardeios, e a perspectiva de uma invasão terrestre, geram preocupações com as consequências humanitárias e os riscos de uma escalada do conflito.
A agência humanitária da ONU (OCHA) revelou nesta sexta-feira (13, noite de quinta em Brasília) que 423.378 pessoas foram obrigadas a abandonar suas casas na Faixa de Gaza devido ao intenso bombardeio israelense.
Blinken mencionou as "necessidades humanitárias" na Faixa de Gaza e as "possibilidades" de abrir passagens seguras para civis "que desejem deixar a área ou buscar refúgio". "Qualquer pessoa que deseje paz e justiça deve condenar o reino do terror do Hamas", afirmou Blinken. No entanto, ele insistiu que "sabemos que o Hamas não representa o povo palestino nem suas legítimas aspirações de viver em igualdade de condições de segurança, liberdade, oportunidades de justiça e dignidade".
Blinken também apontou a necessidade de relançar o processo de paz israelense-palestino, uma ideia que por muito tempo encontrou resistência por parte de Netanyahu. Segundo os dados de ambos os lados, a guerra já custou a vida de mais de 1.400 palestinos em Gaza e mais de 1.200 pessoas em solo israelense.
O Exército israelense também afirmou ter encontrado cerca de 1.500 cadáveres de combatentes do Hamas que se infiltraram no país.
O Parlamento israelense aprovou a formação de um governo de emergência e um gabinete de guerra, anunciado na véspera por Netanyahu e pelo ex-ministro da Defesa centrista Benny Gantz. O principal líder da oposição, Yair Lapid, recusou-se a fazer parte de um Executivo formado por "extremistas" e culpou o governo pelo "fracasso imperdoável" de não ter conseguido impedir a ofensiva do Hamas.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, já havia instado Netanyahu na quarta-feira a agir de acordo com "as normas da guerra". Os países-membros da Otan também pediram ao Estado hebraico que se "defenda proporcionalmente contra esses atos de terrorismo injustificáveis". "Israel tem o direito de se defender eliminando grupos terroristas, incluindo o Hamas, (...) mas preservando as populações civis", declarou o presidente francês, Emmanuel Macron, em um discurso televisionado.
Se Israel enviar forças terrestres a Gaza, corre o risco de cair em uma "armadilha" do Hamas, advertiu o ex-chefe do serviço de inteligência britânico MI6, Alex Younger, em declarações à BBC.
Enquanto reforça suas tropas em frente a Gaza, Israel também precisa monitorar a abertura de outras frentes, tanto nos territórios ocupados quanto em relação ao Líbano e à Síria. Nos últimos dias, houve confrontos de artilharia entre o grupo libanês Hezbollah e o Exército israelense.
A Força Aérea israelense bombardeou nesta quinta-feira os dois principais aeroportos da Síria, o de Damasco, a capital, e o de Aleppo, no primeiro ataque contra esse país desde o início do conflito com o Hamas. A Rússia afirmou que essas incursões constituem uma "violação flagrante da soberania" da Síria e das "normas do direito internacional".
A Força Aérea israelense costuma atacar grupos apoiados pelo Irã e o movimento libanês Hezbollah, que são aliados do governo sírio e inimigos jurados de Israel. Em Jerusalém Oriental, um homem abriu fogo nesta quinta-feira à noite contra uma delegacia situada na saída da Cidade Velha, ferindo dois policiais, um deles gravemente, antes de ser "neutralizado".
Na Cisjordânia ocupada, seis palestinos foram mortos na quarta-feira, quatro deles em um ataque de colonos israelenses e quatro por soldados, informou a Autoridade Palestina. Um total de 29 palestinos morreram na Cisjordânia desde sábado, em incidentes relacionados ao conflito entre Israel e o movimento islâmico Hamas, que atacou o território israelense a partir da Faixa de Gaza.
O presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, confrontado com o Hamas, exigiu "o fim imediato da agressão generalizada contra o povo palestino" e também rechaçou "as práticas que levem à morte de civis e a maus-tratos contra eles de ambos os lados".
O ministro de Energia israelense, Israel Katz, informou que seu país não vai autorizar a entrada de produtos de primeira necessidade nem de ajuda humanitária em Gaza enquanto o Hamas não libertar os reféns. Fabrizio Carboni, diretor regional do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), fez um apelo a ambas as partes para "reduzir o sofrimento dos civis". "Sem eletricidade, os hospitais correm o risco de se transformarem em necrotérios", advertiu.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, expressou sua preocupação pelo "ciclo de violência e horror" e pediu a libertação de todos os reféns e o fim do cerco a Gaza. E em uma mostra de "solidariedade com as vítimas dos ataques terroristas do Hamas", as presidentes a Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, anunciaram uma visita a Israel nesta sexta-feira.
Há pedidos para que se estabeleça um corredor humanitário que permita aos civis palestinos sair da Faixa antes de uma eventual invasão terrestre israelense, que se traduziria em combates urbanos brutais e lutas casa por casa. Contudo, o presidente egípcio, Abdel Fatah al-Sissi, ignorou a pressão para autorizar a saída de civis e pediu aos habitantes de Gaza que "permaneçam em sua terra".
O Egito administra a passagem de Rafah, único ponto de entrada em Gaza que não está sob controle de Israel.
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