Uma jovem britânica de 12 anos sofreu um colapso pulmonar e passou quatro dias em coma induzido. Ela declarou à BBC que as crianças nunca deveriam fumar vape.
Sarah Griffin sofre de asma e fumava vape com muita frequência, até que foi levada ao hospital um mês atrás, com problemas respiratórios. Sua mãe, Mary, disse à BBC que teve medo de perder sua filha.
O governo britânico anunciou planos para restringir a promoção e venda de vapes para crianças. As propostas ficarão abertas para consulta pública nacional pelas próximas oito semanas.
O primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, afirmou que essas propostas irão "reverter o preocupante aumento do uso de vape entre os jovens", tornando os vaporizadores menos coloridos e menos atraentes para as crianças.
O ministro de Saúde do Reino Unido, Steve Barclay, declarou que o governo se compromete a tomar ações imediatas para a criação de leis após a consulta pública. Ele disse ao programa Today, da BBC Rádio 4, que "os diretores de escolas estão preocupados e os pais estão preocupados" com o marketing das companhias produtoras de vapes voltado para jovens.
Na recente conferência do Partido Trabalhista britânico (de oposição), o ministro paralelo da Saúde, Wes Streeting, afirmou que um eventual governo trabalhista "iria para cima" das companhias produtoras de vape que oferecessem às crianças aromas como "explosão de arco-íris".
O governo do Reino Unido anunciou uma consulta nacional sobre suas propostas para combater o fumo de vape pelos jovens. Elas incluem:
Sarah Woolnough, da organização Asthma + Lung UK, afirma que gostaria de ver restrições ao marketing de vapes para que eles não sejam dirigidos às crianças.
Para ela, "os vapes descartáveis com seus baixos preços atuais, desenhos e opções de aroma de goma de mascar, são atraentes demais e de fácil acesso para as crianças".
O médico-chefe do Departamento de Saúde da Inglaterra, Chris Whitty, afirma que a venda de vapes ou cigarros eletrônicos para crianças é "absolutamente inaceitável".
Mas, segundo ele, o vape pode ser útil para que os fumantes abandonem o tabaco, por ser "menos perigoso que fumar".
O quarto de Sarah Griffin na sua casa em Belfast, na Irlanda do Norte, é igual ao da maioria das meninas de 12 anos – uma penteadeira repleta de maquiagem, frascos de perfume e alisadores de cabelos, além de bonecos infantis sobre a cama
Mas era ali que ela também costumava esconder os vaporizadores da sua mãe. Ela chegava a fazer buracos no tapete para evitar que eles fossem encontrados.
Sarah começou a fumar vape quando tinha apenas nove anos de idade.
Sua mãe tentou impedi-la. Ela a revistava quando chegava em casa e confiscava seu telefone celular. Mas nada adiantou.
No último verão britânico, Sarah consumia um vaporizador de 4 mil tragadas em poucos dias. Os vaporizadores padrão contêm 600 tragadas.
Fumar vape era a primeira coisa que ela fazia ao acordar e a última antes de dormir. Ela adormecia com o vaporizador sobre o travesseiro.
No Reino Unido, é ilegal vender vapes para menores de 18 anos. Mas Sarah conseguia comprar vaporizadores nas lojas e ficou dependente da nicotina.
A asma de Sarah e o uso errado do seu inalador aumentaram o risco de complicações.
No início de setembro, ela teve um resfriado. Combinado com o vape, ele formou o que a médica de Sarah descreve como "tempestade perfeita".
"Muitos fatores de risco progrediram na direção errada", afirma Dara O'Donoghue, pediatra especializada em doenças respiratórias do Hospital Real Pediátrico de Belfast.
Sarah passou mal e foi levada ao hospital. Um raio X mostrou que apenas um dos seus pulmões estava funcionando corretamente – e ela não reagia ao tratamento.
Em poucas horas, ela entrou em terapia intensiva. E, pouco depois, foi colocada em coma induzido, na esperança de que sua condição se estabilizasse.
Para Mary, a mãe de Sarah, o momento foi de desespero. "Não há nenhuma palavra que descreva o momento em que você pensa que sua filha vai morrer", ela conta.
Depois de quatro dias, Sarah foi gradualmente reanimada. Agora, ela está se recuperando, mas seus pulmões ficaram com lesões permanentes.
"Ela faz exercícios pulmonares. Isso é algo que você esperaria de uma pessoa com 80 anos, não de alguém com 12", conta sua mãe.
"Abram os olhos porque isso está acontecendo em toda parte, talvez também com seu filho", adverte Mary. "Não importa o que você pense, as pessoas gostam de pensar que seus filhos não estão fazendo essas coisas, mas a realidade é muito, muito diferente."
Sarah espera que sua experiência ajude outros jovens da sua idade a acordar para os riscos representados pelo vape.
"Não comece a fumar porque, depois que você começa, não consegue parar", aconselha ela. "Basicamente, você só para quando é obrigado, quando a situação é de vida ou morte."
O'Donoghue afirma que o fumo de vape pelos jovens é uma "situação de emergência" que precisa ser combatida "com urgência".
Para a médica, "precisamos nos conscientizar sobre os vapes porque os problemas de saúde associados a eles estão apenas começando a aparecer".
Números recentes indicam que uma em cada cinco crianças entre 11 e 17 anos de idade no Reino Unido já experimentaram o vape. Este número aumentou em três vezes, em comparação com 2020.
O fumo de vape entre crianças mais jovens também está aumentando – cerca de uma em cada 10 crianças entre 11 e 15 anos de idade, segundo uma pesquisa de 2021. E muitos países em todo o mundo estão observando tendências similares.
Fidelma Carter, da organização Northern Ireland Chest, Heart and Stroke, afirma que 17% dos jovens fumantes de vape consomem o produto regularmente.
"Os jovens estão fumando vape porque acham que não há riscos, que não há perigo", explica ela. "E nós queremos desmentir as ideias erradas e aumentar a consciência de que o fumo de vape pode prejudicar a saúde e o bem-estar das pessoas."
Fonte: correiobraziliense
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